06 março 2008

human nature

A razão é o principal instrumento de sobrevivência humana como muito bem sublinhou Ayn Rand, mas o homem não pode viver apenas pela razão. As emoções são fundamentais para orientar a razão. Minimizar o papel das emoções é um erro capital do objectivismo.

A este respeito recorro, de novo, a Damásio. A neurologia demonstra que quando a razão está dissociada das emoções, por exemplo por doença, o indivíduo não consegue decidir porque todas as opções aparentemente lógicas têm a mesma importância.

Recorro ainda ao prémio Nobel Herbert Simon e ao seu conceito de satisficiência (satisficing, uma palavra derivada de satisfy e suffice que adaptei para satisficiência). Herbert Simon salientou que, as mais das vezes, somos obrigados a tomar decisões na ignorância de muitas variáveis relevantes (bounded rationality) e que apenas recolhemos dados até nos sentirmos suficientemente satisfeitos, satisficientados, para assumirmos os riscos do que não sabemos. Ora este grau de satisficiência está muito dependente das nossas emoções e varia com cada pessoa.

Isto não significa que nos devemos deixar dominar pelas emoções mas apenas que temos de as conhecer para compreendermos a natureza humana. As emoções são estados físicos que motivam a acção. Ayn Rand toca nesta realidade quando afirma que todas as acções dos seres vivos são geradas pelos próprios e orientadas para determinados objectivos.

Para os seres inferiores estes objectivos são a preservação da própria vida. Não penso, contudo, que se possa transferir este objectivo minimalista para a existência humana. Nem que seja possível fundar toda uma ética sobre este sentido de auto-preservação.

O instinto religioso dos seres humanos orienta-nos para o eterno, permitindo-nos sonhar com objectivos transcendentais. A razão, apesar de ser o único meio de conhecermos a realidade (como diz Rand), está ao serviço destes desígnios que em última instância alinham os interesses individuais com os sociais e conferem uma vantagem competitiva à espécie humana. O objectivismo, ignorando estes aspectos da natureza humana, torna-se redutor.

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