07 fevereiro 2008

BLIF it or not!

O BLIF é um modelo simplificado de análise cultural que eu desenvolvi e que permite, num piscar de olhos, avaliar a natureza de certas ideias relativamente a quatro conceitos que são as emoções, a razão, a realidade e a fantasia. Nesta matriz a emoção e a razão situam-se no eixo horizontal e a realidade e a fantasia no eixo vertical.
No quadrante inferior esquerdo (Básico) situam-se ideias e comportamentos que têm um forte componente emocional e que se aplicam sobretudo ao âmbito da realidade. A figura do Zé Povinho, de Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905), é um personagem típico deste quadrante. O Zé revolta-se, indigna-se e enfurece-se perante a corrupção e os abusos de poder que caracterizaram o final do Sec. XIX e o início do Se. XX em Portugal (realidade), mas a sua análise é superficial e não permite encontrar quaisquer soluções. O Zé é um básico.
No quadrante superior esquerdo (Lunático) estão elementos culturais que brotam das emoções e que se procuram realizar em territórios imaginários ou fantasiosos. Sentimentos e valores como a coragem, a justiça e a compaixão devotados ao serviços de ideais romanescos (fantasias) levam-nos a lutar contra moinhos de vento e a desperdiçar energias que poderiam servir-nos para melhores fins. Don Quixote de la Mancha, de Cervantes (1547 – 1616), é um personagem deste quadrante. Quixote é um lunático.
No quadrante inferior direito (Frouxo) encontramos os elementos culturais que são frutos directos da razão aplicada à realidade. Como Damásio demonstrou, as emoções são necessárias para orientar a razão. Sem emoções todos os raciocínios e ideias parecem exequíveis e a escolha torna-se impossível. Hamlet, um personagem criado por Shakespeare (1564 – 1616), tipifica este quadrante, com os seus circuitos neuronais carentes de testosterona. A dúvida, a incerteza e a inacção perante a realidade porque todos os discursos são apenas palavras: -words, words, words. Hamlet é um frouxo.
No quadrante superior direito (Intelectuais) o poder da razão é aplicado a conceitos fantasiosos produzindo teorias que se demarcam da realidade ou de qualquer sabedoria. Karl Marx (1818 – 1883), um jornalista que se julgou filósofo, é deste quadrante. A dialéctica materialista, o materialismo histórico ou a teoria da luta de classes são apenas discursos supostamente lógicos ao serviço de ideias manifestamente fantasiosas. O comunismo, como último estádio do desenvolvimento da humanidade, é tão fantasioso como o mundo dos romances de cavalaria de Don Quixote. Marx é um intelectual.
O desejável equilíbrio a que devemos aspirar está no centro! Devemos usar a razão, mas ficar atentos às emoções e saber olhar para o céu sem tirar os pés da terra. Voilá!

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