Outro aspecto curioso da política moçambicana, quase inacreditável aos olhos de um espectador distanciado, é a falta de consciência de alguns dos seus dirigentes, porventura da grande maioria, das implicações inevitáveis que a liberdade, ainda que reduzida e controlada, provocará no seu país. Eles acreditam que são capazes de se manterem no poder eternamente, enquanto que o país vai beneficiando de liberdade de expressão, de uma comunicação social relativamente aberta, de Internet de acesso incondicionado, do crescimento do turismo, de um número significativo de estudantes em países democráticos e de um relativo desenvolvimento económico. É certo que não existe, por enquanto, uma classe média robusta em Moçambique e que, por conseguinte, não existem também elites políticas fora do partido do governo que possam configurar alternativas de poder. Mas é igualmente certo que fora ou dentro do partido essas elites surgirão por efeito natural do mercado e da liberdade. Não é nisso, porém, em que acreditam os responsáveis actuais. Eles crêem, ao fim de anos de isolamento, que representam efectivamente o povo e que este os estima e se revê neles. A lógica do marxismo leninista, pela qual todos estudaram ao longo de anos de vida, fá-los acreditar que eles são verdadeiramente a «vanguarda do proletariado» de uma revolução gloriosa que está em marcha. Eles não perceberam ainda com absoluta clareza que serão os homens livres que eles estão a permitir que se formem, principalmente aqueles que vêm estudar para o estrangeiro, que lhes hão-de impor as mudanças, no caso de eles não as realizarem. Como, aliás, eles próprios as exigiram depois de formados e instruídos pelas Universidades da potência colonial, que não lhes soube oferecer a tempo e horas a resposta devida para os seus anseios e ambições.
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