Num post anterior em que me referi a Salazar, um leitor entrou na caixa de comentários para me perguntar se eu preferia o regime do Estado Novo ou o actual regime democrático, apesar de todos os seus defeitos. Posta nestes termos, eu não tenho resposta à pergunta nem ela seria relevante. O regime do Estado Novo correspondeu a circunstâncias históricas particulares e não é repetível. O meu propósito ao invocá-lo é o de procurar discernir as instituições que ele continha e que poderiam ser utilizadas ainda hoje com vantagem - não propriamente recriá-lo. A última a que me referi foi a Câmara Corporativa.
Provavelmente, porém, o leitor pretendia saber se eu sou um adepto do regime democrático. A minha resposta é afirmativa, embora a forma como ele tem sido adoptado em Portugal me torne um adepto cada dia mais céptico - um cepticismo que eu não possuo quando ele é aplicado aos países do norte da Europa e da América do Norte. É a diferença entre as culturas católica e protestante a que tenho vindo a fazer referência.
Não existe nada de inerentemente superior - excepto num aspecto - no regime democrático relativamente a qualquer outro regime político. Procurando, tanto quanto me é possível, em toda a literatura da teoria política, nunca encontrei - com uma só excepção - um argumento ou conjunto de argumentos que, à minha satisfação, provassem a superioridade da democracia face a qualquer outro regime político.
A excepção é Tocqueville: "Nós podemos naturalmente acreditar - escreveu ele em "A Democracia na América" - que não é a prosperidade singular de uns quantos, mas o maior bem-estar de todos que é mais agradável aos olhos do Criador...". Este é quanto a mim o único argumento decisivo em favor da democracia e, sendo um argumento de carácter religioso, é um argumento irrebatível. A desejabilidade da democracia, relativamente a qualquer outro regime político, é, em última instância, um acto de fé cristã.
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