21 outubro 2007

na Gregoriana


O Estado Novo de Salazar tem sido frequentemente descrito como um regime fascista. É uma atribuição abusiva, porque os fascistas não o acolheram com nenhuma simpatia.

Em Abril de 1938 Marcello Caetano foi a Roma com a dupla missão de explicar a filosofia do Estado Novo ao governo italiano e ao Vaticano. De Roma escreveu a Salazar: "Nós, Portugal de Salazar, somos nitidamente, para o Quirinal, do lado de lá: o Mundo oficial do fascismo olha-nos como parentes pobres, enquanto o do Vaticano nos trata como filhos dilectos. À frieza da universidade oficial correspondeu na Gregoriana um calor, uma ternura, um entusiasmo comoventes..."

E acrescenta no seu livro Minhas Memórias de Salazar (1977): "Ao falar na doutrina político-social de Salazar, na Régia Universitá, perante altas hierarquias fascistas, a exposição foi acolhida com as reservas de uma heterodoxia, enquanto na Aula Magna da Gregoriana [Vaticano], onde estavam reunidas algumas centenas de seminaristas dos mais diversos países, os aplausos demonstraram bem o grau de aceitação e adesão do público."

Não surpreende. O Estado Novo foi concebido e organizado largamente à imagem da Igreja Católica. Daí o seu extraordinário sucesso - mau grado os condicionalismos e as circunstâncias da época, bem como a herança que recebeu do passado -, porque se adequava à cultura da sociedade portuguesa e à sua estreita ligação à Igreja (cf. post anterior). Marcello Caetano descreveu-o como possuindo um carácter português e cristão.

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