A religião oficial da sociedade inglesa é hoje o secularismo e não o anglicanismo. A primeira consequência é a intolerância com as religiões tradicionais e, em particular, com o cristianismo, que deve ser excluído a todo o custo do espaço público.
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O resultado final das tendências intelectuais descritas, bem visível na Inglaterra e em muitos outros países europeus, é uma situação em que o único sistema de valores aceite no espaço público é o secularismo progressista. Entre os dogmas de fé do secularismo progressista estão a crença inabalável na Ciência, no racionalismo construtivista e no progresso da Humanidade contra a tradição e os preconceitos herdados do passado. Daqui decorre naturalmente o imperativo de se ser intolerante com as religiões tradicionais e, em particular, com o cristianismo, que deve ser excluído a todo o custo do espaço público. Ironicamente, a própria noção de espaço público hoje prevalecente nas sociedades ocidentais é em larga medida – como mostrou Pannenberg – uma herança cristã. Uma herança que a intolerância do secularismo progressista cada vez mais ameaça pôr em causa.
A má interpretação deste texto por parte de alguns comentadores deriva da incapacidade em se darem conta de que a ausência da dimensão religiosa – vista como um bem por aqueles que pretende retirar a religião cristã do espaço público – acabará por ser a principal aliada do fanatismo religioso. Valeria a pena atender a uma importante diferença, apesar das muitas semelhanças, entre o luteranismo e o calvinismo. Enquanto no primeiro o Estado tende a absorver a Igreja, no calvinismo é o Estado que deve estar ao serviço da Igreja. Questiono-me, ao ler o notável o texto de AAA, se o anglicanismo actual, apesar da aparente proximidade ao catolicismo, não conterá em si o pior dessas duas grandes versões do protestantismo.
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