O libertarianismo não é uma ideologia, mas antes uma filosofia de vida, com implicações ideológicas e políticas. Ser libertário é acreditar que todos os homens nasceram com direitos iguais e inalienáveis: o direito à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da felicidade. E que esses direitos devem orientar a vida em sociedade.
Creio que a maioria dos libertários acredita que, para respeitar esse princípio, é necessário um Estado mínimo (minarquismo, defendido por autores como Ayn Rand e Ludwig von Mises). No entanto, há correntes libertárias que propõem a abolição completa do Estado (anarco-capitalismo, defendido por Murray Rothbard).
Robert Nozick, no seu livro Anarquia, Estado e Utopia, defende que o Estado mínimo é inevitável se quisermos preservar os direitos individuais. Na sua visão, os chamados "direitos secundários" (como saúde, educação, segurança social) acabam por destruir os direitos primários adequadamente constituídos.
Não esperem, portanto, dos libertários, um programa de governo. Qualquer programa governamental seria contrário à filosofia libertária, uma vez que a intervenção política libertária visa apenas garantir os direitos individuais.
Como, no mundo ocidental, vivemos em sistemas colectivistas, todas as propostas libertárias devem ir no sentido de desmontar as instituições que escravizam os cidadãos. Essas propostas serão percepcionadas pela população como sendo de esquerda ou de direita?
Penso que devemos recorrer à psicologia — e não apenas à política — para responder a esta questão: o que significa ser de Direita ou de Esquerda? Como se conquista esse "carimbo"?
Os cientistas políticos situam a origem da distinção na Assembleia Constituinte da Revolução Francesa (1789), mas creio que devemos recuar ainda mais.
Jesus ascendeu aos céus ao terceiro dia e sentou-Se à direita de Deus Pai todo-poderoso.
A maioria da população é destra, enquanto ser canhoto carregou, historicamente, um estigma social — quem é canhoto "não está direito".
A própria etimologia de "direito" (directus) remete para rectidão, legitimidade e justiça, enquanto "esquerdo" se define, desde logo, por oposição a "direito".
Nas grandes cidades, a povoação iniciava-se quase sempre pela margem direita do rio — a margem dos que se haviam instalado na vida. Na margem esquerda ficavam os recém-chegados, que invejavam os estabelecidos e aspiravam a substituí-los.
Ser de Direita, portanto, significa querer manter o status quo; ser de Esquerda, significa sonhar com a sua inversão. (POPULISMO 16).
A intervenção política dos libertários visa manter o status quo ou destruí-lo para o substituir por um sistema baseado na liberdade e nos direitos cívicos? Visa proteger os privilegiados que prosperam à custa do Estado ou instaurar um sistema que garanta a igualdade de oportunidades para todos, sem compadrios?
Claramente, os libertários buscam um novo sistema, e isso configura, implicitamente, uma práxis de esquerda. Ou seja, embora o libertarianismo não seja, por natureza, de esquerda nem de direita, a sua acção tenderá a ser percebida como de esquerda — porque quer um futuro melhor, enquanto a direita é "passadista".
Talvez esta seja a grande diferença entre Esquerda e Direita: a Esquerda sonha com o futuro; a Direita vive no passado.
Os libertários estão fartos do passado — porque sonham com um futuro de liberdade.
Sem comentários:
Enviar um comentário