Populismo: À Direita, à Esquerda... ou apenas do lado do povo?
O populismo, enquanto movimento(s) político(s), tem mais sabores do que os gelados italianos e pode oscilar entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. Isto porque o populismo reflecte as inclinações populares, que dependem — naturalmente — das culturas locais.
Na Europa, por exemplo, há uma divisão notória entre o Norte e o Sul: prevalece o individualismo a Norte e o colectivismo a Sul.
As variedades são tantas que, frequentemente, os movimentos populistas adoptam o nome do seu líder: Chavismo (Venezuela) e Trumpismo (Estados Unidos). São movimentos em polos políticos opostos, mas é precisamente isso o populismo — ir ao encontro do sentimento popular.
Quando os partidos atacam os líderes populistas, esquecem-se de que estão, no fundo, a atacar o próprio povo — e o ricochete não se faz esperar.
No Ocidente, há uma tendência para acusar os líderes populistas de serem de extrema-direita. Julgo que isso se deve ao facto de o populismo depender de líderes carismáticos e combativos contra as elites do status quo. As comparações com Hitler ou Mussolini são acusações frequentes — e quase sempre injustas.
Mas, afinal, o que significa ser de Direita ou de Esquerda? Como se conquista esse carimbo?
Os “cientistas políticos” situam a origem da distinção na Assembleia Constituinte da Revolução Francesa (1789), mas eu creio que devemos recuar ainda mais.
Jesus ascendeu aos céus ao terceiro dia e sentou-se à Direita de Deus todo-poderoso.
A maioria da população é destra, enquanto o ser canhoto carrega, historicamente, um estigma social — quem é canhoto “não está direito”.
A própria etimologia de direito (directus) remete para rectidão, legitimidade e justiça, enquanto esquerdo se define, desde logo, por oposição a direito.
Nas grandes cidades, a povoação iniciava-se quase sempre pela margem direita do rio — a margem dos que se haviam instalado na vida. Na margem esquerda, ficavam os recém-chegados, que invejavam os estabelecidos e aspiravam a substituí-los.
Ser de Direita, portanto, significa querer manter o status quo; ser de Esquerda, significa sonhar com a sua inversão.
Nos Estados Unidos — paradigma da democracia liberal e capitalista — ser de Direita é querer preservar o sistema (reacionário); ser de Esquerda é querer derrubá-lo, muitas vezes através do socialismo e do comunismo (revolucionário).
Na antiga URSS, ser de Direita (após a consolidação do comunismo) significava defender o regime comunista (reacionário), enquanto ser de Esquerda era aspirar ao capitalismo liberal (revolucionário).
O populismo é, então, de Direita ou de Esquerda?
— Depende: o povo quer manter ou derrubar o regime?
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