(Continuação daqui)
405. Pelos seus lindos olhos
Eu penso que nesta questão que agora aflige o Governo, e que consiste em defender o primeiro-ministro da situação de conflito de interesses em que alegadamente se encontra, o ministro mais competente para o fazer é o ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel (cf. aqui).
Ele é que tem uma vasta experiência no sector.
Ainda não vai longe o tempo em que, na qualidade de eurodeputado, ele recebia 10 mil euros ao mês da sociedade de advogados Cuatrecasas (cf. aqui).
Devia ser pelos seus lindos olhos.
E o que dizer dos tempos em que, à frente da sociedade de advogados Cuatrecasas no Porto, ele facturava milhares de horas ao ano em serviços de assessoria jurídica à Câmara Municipal do Porto (que tem um grande departamento jurídico), presidida pelo seu colega de Partido, Rui Rio? (cf. aqui).
E como classificar aquela situação em que ele era ao mesmo tempo eurodeputado, director da Cuatrecasas e director da Associação Comercial do Porto, a qual era cliente da Cuatrecasas? (cf. aqui).
Esta, para mim, foi o máximo.
Eu próprio estou agora à espera que a Justiça portuguesa mande o Estado devolver-me as indemnizações que lhe paguei a ele e à Cuatrecasas no seguimento da Decisão do TEDH Almeida Arroja v. Portugal. Enquanto isso não acontece, enquanto o fardo não é passado de mim para os contribuintes, sou eu que o enriqueci ilegitimamente a ele e à Cuatrecasas (cf. aqui).
Eu tenho uma boa opinião pessoal do primeiro-ministro. Mas, evidentemente, ele deveria ter mandado suspender aquela avença da Solverde quando assumiu o cargo. Talvez ele tenha sido vítima da cultura prevalecente entre os advogados, que a Ordem dos Advogados promove e a que dá plena cobertura.
E que cultura é essa?
É uma cultura em que aquilo que é conflito de interesses e corrupção para os outros, para eles é business as usual.
(Continua acolá)

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