(Continuação daqui)
65. A cultura dos amigos
Quando, há dias, escrevi o post desta série com o subtítulo "Amigos" (cf. aqui), no final, houve uma questão que me ficou a bailar no espírito.
Mas, antes de a apresentar, um pequeno resumo do tema desse post. Um grupo de cidadãos que se dizem amigos (sic, cf. aqui; na realidade, amigos mais próximos cf. aqui) do Almirante Gouveia e Melo, os principais estando ligados à Maçonaria, decidiu constituir um Movimento de apoio à sua candidatura.
Aos olhos do povo português, cuja principal qualidade não é, certamente, a sua capacidade de julgamento (veja-se, a este propósito, o estado em que se encontra a Justiça no país) o Almirante passou a estar ligado à Maçonaria, a qual não é propriamente a mais popular das instituições em Portugal. Por outras palavras, esta associação (real ou presumida) só prejudica a candidatura do Almirante e por isso, terminei o post com uma frase bastante popular: "Com amigos destes, o Almirante não precisa de inimigos".
Não passaram muitas horas até que fosse conhecido que um dos fundadores do Movimento de apoio ao Almirante era arguido num processo por corrupção (cf. aqui). É certo que ser arguido em Portugal pode acontecer até a Jesus Cristo, mas não é propriamente a melhor coisa para a candidatura do Almirante ter amigos que são, ao mesmo tempo, maçons e um deles até pode ser criminoso.
Poucas horas depois, num comunicado, o Almirante estava a distanciar-se de todos estes amigos, dizendo que não tinha dado qualquer consentimento à formação do Movimento e muito menos poderia de alguma maneira controlar a vida dos seus membros (cf. aqui).
É agora que volto à questão que me ficou a bailar no espírito, e que é a seguinte:
-Não estaria eu, neste blogue, a fazer o mesmo que fizeram os amigos do Almirante, promovendo a sua eleição, ainda antes de ele anunciar a sua candidatura?
A resposta a esta pergunta é um afirmativo Sim.
Mas toda a semelhança termina aí, porque existe uma grande diferença, que é a seguinte:
-Eu nunca disse que era amigo do Almirante.
Não sou nem nunca serei, para o poder criticar à vontade no caso de ele falhar as minhas (altas) expectativas de pôr o Estado português na ordem (hoje, mais um caso inaceitável: cf. aqui)
A cultura dos amigos - no sentido daqueles que partilham a nossa privacidade, algumas cumplicidades até, e que estão sempre prontos a fazer-nos uns favores quando necessitamos - é uma cultura profundamente anti-democrática. É uma cultura portuguesa e católica, é certo, mas profundamente anti-democrática, como é praticamente tudo aquilo que releva da cultura católica.
Do discurso dos fundadores do Movimento de apoio ao Almirante, seus auto-declarados amigos, pode-se ser levado a pensar que, se o Almirante for eleito, ele irá ter especiais simpatias por eles, alguns pertencentes à Maçonaria e um ou outro eventualmente corrupto.
A cultura dos amigos é a principal fonte da corrupção (real ou suposta) do Estado democrático. Aqueles amigos maçónicos o que estão a fazer é a tentar corromper o Almirante ainda antes de ele ser eleito, minando a imparcialidade que ele é suposto ter em relação a todos os portugueses.
(Continua acolá)

Sem comentários:
Enviar um comentário