(Continuação daqui)
XXXIX. Iniciativa privada
Na entrevista que deu ao Podcast Bitalk (cf. aqui), o Almirante Gouveia e Melo exprimiu com clareza algumas ideias que são muito importantes para se conhecer o seu pensamento em matéria económica.
Na entrevista, o Almirante fala extensivamente e com grande entusiasmo sobre a economia do mar, e olha para o mar como um recurso económico importantíssimo para Portugal. É mais uma expressão da primazia que o Almirante atribui à Economia na governação do país, e que já tinha exprimido em outras intervenções públicas (cf. aqui).
Pronunciando-se sobre esse tema, o Almirante fala do papel já desempenhado pela Marinha nas novas formas de exploração económica do mar, aceitando que, nesta fase, o Estado (através da Marinha) representa cerca de 80% do envolvimento no processo e o sector privado apenas 20%.
Porém, o desejo do Almirante, e o objectivo para o qual ele próprio tem trabalhado, é que esta proporção se inverta, e o sector privado passe a estar envolvido a 80%, passando o Estado a desempenhar o papel residual de 20% no processo. É a concepção do Estado subsidiário - um Estado que promove, apoia, auxilia, mas não executa - que eu próprio já tinha adivinhado no pensamento do Almirante (cf. aqui).
Finalmente, sobre esse tema e sobre outros de que fala adiante, é clara a preferência do Almirante pela primazia da iniciativa privada na Economia, em detrimento do Estado, como no momento em que exalta a propensão ao risco ou no momento em que, ironicamente, lamenta que "Os nossos industriais são todos ladrões, não é?".
É nesta conjugação, normalmente sob inspiração militar, de um Estado subsidiário e de uma iniciativa privada vigorosa que se realiza o liberalismo económico da tradição católica, que é o segredo dos milagres económicos ocorridos nos países desta tradição ao longo do último século (cf. aqui).
(Continua acolá)
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