(Continuação daqui)
150. Annus horribilis
O ano de 2015 foi um annus horribilis para a sociedade de advogados Cuatrecasas, com sede em Barcelona, Espanha.
A sociedade tinha acabado de comemorar o seu primeiro centenário e seguia já na terceira geração, presidida por Emílio Cuatrecasas, o neto do fundador, que sucedeu ao pai, também de nome Emílio, e ao avô, Pedro Cuatrecasas.
Nesse ano, a sociedade, que se tinha especializado, desde a sua fundação, em questões de natureza fiscal viu o seu presidente ser condenado a dois anos de prisão por fuga ao fisco.
É de imaginar a vergonha, uma sociedade que cobra altíssimos honorários para permitir aos seus clientes mais ricos, como Lionel Messi, minimizarem os impostos, é apanhada, na pessoa do seu próprio presidente, a passar a linha vermelha e a acabar na prisão (a pena seria mais tarde comutada em multa de quatro milhões de euros).
Deixemos a imprensa espanhola falar:
"Era una de las denominadas togas de oro de Barcelona: Emilio Cuatrecasas había montado uno de los bufetes de capital español más importantes. Pero ha caído de la peor manera posible para sus asociados. Acepta una condena por delito fiscal, precisamente una de las especialidades de Cuatrecasas, Gonçalves Pereira, el segundo despacho legal de España por facturación y número de abogados". (cf. aqui)
No mesmo ano, azar dos azares, como se já não bastasse, o presidente Emílio Cuatrecasas é denunciado pelo Banco Madrid às autoridades espanholas por suspeita de branqueamento de capitais, em causa uma transferência bancária envolvendo vários milhões de euros. Ainda a imprensa espanhola:
"Banco Madrid emitió 18 alertas desde 2012 a 2015 al Servicio de Prevención de Blanqueo de Capitales (Sepblac), dependiente del Ministerio de Economía, sobre clientes sospechosos o movimientos de dinero que merecían un control. Entre las alertas saltó el nombre del abogado Emilio Cuatrecasas (...) (cf. aqui)
Mas o pior do ano de 2015 para a Cuatrecasas estava para vir, e foi recordado três anos depois, de forma dramática, por dois advogados da sociedade, José de Freitas (cf. aqui) e Quequé (cf. aqui) num dos centros judiciários mais importantes da Europa, o Tribunal de Matosinhos.
A tragédia foi a seguinte. Se Pedro Cuatrecasas tinha sido o fundador da sociedade cem anos antes em Barcelona, um outro Pedro, este a partir dos estúdios de uma grande cadeia de televisão localizada na Senhora da Hora, um bairro de Matosinhos, que ficaria internacionalmente conhecido por Lady of the Hour, iria desferir-lhe o golpe fatal.
Já tinham caído os escritórios da Cuatrecasas em Barcelona, Lisboa, Madrid, Buenos Aires, Caracas, Bruxelas, Cidade do México e outras grandes capitais mundiais. Só faltava o escritório do Porto, a grande capital do noroeste peninsular, onde ainda resistiam meia-dúzia de gatos pingados da Cuatrecasas.
Numa bela manhã de Maio, o mundo acordou assustado com a notícias transmitida por uma das maiores cadeias internacionais de televisão, o Porto Canal (cf. aqui):
Pedro Arroja abre guerra a Paulo Rangel,
que era o director do escritório do Porto da Cuatrecasas, o qual - segundo ele próprio declararia mais tarde em tribunal -, raramente lá punha os pés e não sabia o que lá se passava (havia rumores que, na sua ausência, os advogados e advogadas da Cuatrecasas, fazendo uso do ditado popular "Patrão fora, dia santo na loja", se entregavam à prática do sexo em grupo: cf. aqui)
A tragédia estava pronta a consumar-se.
(Continua acolá)
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