(Continuação daqui)
34. O 11 de Setembro da Foz
O meu irmão Fernando, para além de ser um intrépido marinheiro de guerra, um verdadeiro marine (cf. aqui), é também um excelente cartoonista.
Já desde o início da adolescência ele fazia caricaturas dos membros da família que depois publicava, devidamente legendadas, num jornal de família que ele próprio criou, chamado Noticiárias. Ficou célebre uma edição do Noticiárias consagrado ao tema do "Excesso de Personalidade" (já nessa altura, c. 1968, ele antecipava o moderno tema da saúde mental) em que eu era a figura central, mas não por boas razões.
O meu julgamento em Matosinhos, que fez os meus irmãos e as minhas cunhadas deslocarem-se propositadamente de Lisboa ao Porto por seis vezes no espaço de quatro meses, foi também uma oportunidade para os três irmãos reviverem episódios e tradições de família, entre elas as famosas caricaturas do Fernando.
Os cartoons que ele desenhou desta vez, eu fui publicando neste blogue à medida que ele os produzia, uns durante o julgamento, outros posteriormente. De todos, o meu preferido é o que reproduzo em cima e que foi originalmente publicado em Dezembro de 2019 (cf. aqui).
O retratado é o advogado José de Freitas, na altura o mais sénior advogado que fazia parte da Armada (cf. aqui), e o fundador do escritório da Cuatrecasas no Porto.
O Dr. José de Freitas começou por ser o protagonista de um acontecimento insólito durante o julgamento - ele foi o primeiro condenado (o segundo viria a ser eu), antes mesmo de o julgamento terminar. Armou em chico-esperto, uma característica muito peculiar entre os advogados, não compareceu à chamada, e o juiz não lhe perdoou, aplicando-lhe uma multa (cf. aqui).
Na sessão seguinte lá compareceu para fazer o seu depoimento. A voz um pouco entaramelada porque o depoimento teve lugar já depois do almoço, o Dr. José de Freitas descreveu um cenário de horror na Cuatrecasas, que se estendeu à sede da sociedade em Barcelona, em resultado do meu comentário no Porto Canal, o qual já tinha sido referido na sessão anterior pela sua colega Raquel Freitas que afirmou que o meu comentário televisivo quase destruiu a sociedade.
Entre outras matérias de interesse para o julgamento, o Dr. José de Freitas revelou também ao Tribunal que eu tinha ido "em viagem turística à Grécia" e me "passeava de Porsche na cidade do Porto", detalhes que, como se imagina, se mostrariam decisivos para a sentença que o TEDH viria a produzir a semana passada sobre o assunto.
Pois foi este momento, em que o Dr. José de Freitas descrevia ao Tribunal esta espécie de 11 de Setembro da Foz do Douro, em que eu conduzi deliberadamente o meu Porsche contra os escritórios da Cuatrecasas na Avenida da Boavista, no Porto, que o meu irmão Fernando Arroja captou magistralmente e que fica para a posteridade. (A legenda é da minha autoria).
Nota: Este é o momento em que, em velocidade desenfreada, eu passei na Torre dos Clérigos em direcção à sede regional da Cuatrecasas, cinco quilómetros mais à frente: cf. aqui
(Continua acolá)
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