(Continuação daqui)
8. As coisas acontecem-lhes
Portugal é um país de Tradição. Ao contrário do cristianismo protestante, que deitou fora a Tradição, para acreditar que Deus está somente nas Escrituras (o princípio protestante "Sola Scriptura"), o cristianismo católico acredita que Deus está nas Escrituras mas também na Tradição.
Ora, acreditar na Tradição é ter os olhos postos no passado. E é essa a cultura do povo português. Ao contrário do protestantismo, que valoriza o futuro e desvaloriza o passado, o catolicismo valoriza o passado e desvaloriza o futuro.
"O futuro a Deus pertence" e "O que tiver de ser, será", são algumas das expressões populares que reflectem esta relutância do povo português em pensar (especular) sobre o futuro. Na expressão feliz de um economista americano que procurou explicar a pobreza da católica América Latina face à riqueza da protestante América do Norte, disse ele, referindo-se aos latino-americanos: "As coisas acontecem-lhes. Eles não as fazem acontecer".
E disso são exemplos o ex-primeiro-ministro José Sócrates e o actual primeiro-ministro António Costa. Cada um deles governou o país por mais de oito anos, cada um deles teve uma maioria absoluta, cada um deles teve todas as oportunidades para reformar o sistema de justiça.
Cada um deles nada fez.
Só depois de o sistema de justiça lhes cair sobre a própria cabeça é que eles se deram conta do sistema de justiça que tinham no seu próprio país, acerca do qual, enquanto primeiros-ministros, andaram sempre distraídos (cf. aqui e aqui).
Eles são bem representativos do povo que os elegeu: "As coisas acontecem-lhes. Eles não as fazem acontecer".
(Continua)
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