08 dezembro 2023

O povo (7)

(Continuação daqui)



7. A mãe


Foi ela que lançou o assunto na TVI no seu programa "Exclusivo".

Desde então, ela não tem parado. Ela entrevista convidados sobre o assunto na sua condição de pivot dos telejornais da TVI. Ela é entrevistada sobre o assunto por pivots dos telejornais da TVI. Ela dá entrevistas a outros programas de televisão sobre o assunto. Ela zanga-se com colegas de profissão sobre o assunto. Ela faz publicações nas redes sociais sobre o assunto.

Na questão das gémeas luso-brasileiras que envolvem o presidente da República, à jornalista Sandra Felgueiras só lhe falta entrevistar-se a si própria.

A virulência com que ela anda atrás do presidente da República não pode justificar-se só pelas audiências, por puro profissionalismo como ela às vezes invoca, ou por um  desejo escondido de passar para a história como a jornalista que destituiu um presidente.

Não. Na cultura feminina de Portugal a razão tem de ter um fundamento pessoal. Nenhuma mulher se atira assim a um homem sem uma forte razão pessoal.

Os homens são mais dados a ideias e ideologias, as mulheres a pessoas e relações pessoais. As mulheres tendem também a ser mais vingativas do que os homens e a possuir melhor memória, o que torna o povo português um povo tendencialmente vingativo e que não esquece facilmente.

Na cultura portuguesa, então, a política, como outros sectores da vida social, é movida, não por ideias e ideologias, mas muito mais por pessoas e relações pessoais - amores, desamores, compadrios, amigos, amigalhaços, ódios, vinganças, pagamentos de favores, ciúmes, rivalidades, invejas, etc.

E é isso que parece estar na base da virulência de Sandra Felgueiras em relação ao presidente da República.

Quando Fátima Felgueiras, a mãe de Sandra, era presidente da Câmara de Felgueiras pelo PS, Marcelo Rebelo de Sousa era presidente do PSD (1996-99). Pouco depois, em 2000, foi a demissão de um vereador do PSD que lançou Fátima Felgueiras nas mãos do Ministério Público.

Foi mais uma - na altura, uma das primeiras - grandiosas palhaçadas do Ministério Público sobre os autarcas, as quais, entretanto,  se tornaram vulgares.  Fátima Felgueiras foi acusada de 28 crimes, entre os quais corrupção que, a serem verdade, a levariam muitos anos para a prisão. (Como seria de esperar, acabou absolvida de todos eles).

Para escapar à prisão preventiva que o Ministério Público pedia para ela, fugiu para o Brasil, de onde era natural (nasceu no Rio de Janeiro em 1954). 

Dois anos e meio depois quis voltar como candidata de novo à Câmara de Felgueiras. Segundo algumas interpretações da Constituição, o estatuto de candidata garantir-lhe-ia imunidade, como veio a acontecer. 

Foram consultados, na altura, alguns constitucionalistas, entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa, que achou que não. Para este constitucionalista, pronunciando-se em claro conflito de interesses sobre uma adversária política, Fátima Felgueiras, se regressasse ao país, deveria ir mas era para a prisão (cf. aqui).

Fátima Felgueiras regressou e ganhou a Câmara. Já durante a sua nova presidência, o comentador de televisão Marcelo Rebelo de Sousa, provavelmente movido por algum ressentimento, comparou o caso judicial de Fátima Felgueiras com o caso Apito Dourado e o caso Isaltino Morais.

Fátima Felgueiras não gostou (cf. aqui). E a filha, essa, parece que nunca esqueceu.


(Continua acolá)  

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