04 abril 2023

A Economia de Francisco (6)

 (Continuação daqui)



6. Jesuítas 

Os principais autores germânicos que criaram o socialismo nas suas diferentes variantes, desde a social-democracia (v.g., August Bebel, Ferdinand Lassalle) até ao comunismo (v.g., Marx e Engels), são prussianos. Na Prússia nasceu também Lutero, a principal figura do protestantismo moderno. Immanuel Kant, um luterano pietista e o grande precursor do socialismo, vem igualmente da Prússia.

O socialismo é um produto intelectual do luteranismo prussiano.

A Companhia de Jesus foi criada para combater o luteranismo, e os jesuítas seguiram a regra de que a melhor maneira de combater um inimigo consiste, em primeiro lugar, em ser igual a ele. Os jesuítas em breve se tornariam os luteranos católicos, uma corrente protestante, socialista e fortemente anti-católica, dentro da própria Igreja Católica.

A cultura católica, para ser verdadeiramente católica (uma palavra que significa universal), tem de incluir tudo o que existe no mundo, e isso inclui o luteranismo. Os jesuítas são iguais aos luteranos,  representam o protestantismo luterano dentro da Igreja Católica, e só se distinguem dos luteranos por um atributo que os torna católicos - a sua obediência à autoridade do Papa (que, sem surpresa, nem sempre respeitaram).

Tal como os luteranos, os jesuítas detestam a autoridade e o clero tradicional, são democratas ao ponto de chegarem a defender a democracia popular, são socialistas ao ponto de chegarem a defender as formas mais extremas de socialismo, como o comunismo, produzem grandes intelectuais, educadores e oradores, o seu espírito de missão é lendário e o seu proselitismo não tem limites, embora em séculos recentes pareçam bastante acomodados. Misturam com facilidade religião e política, são hábeis manipuladores e adoram o poder. 

Quando, a partir do século XVI, a Igreja perdia fiéis no norte da Europa, eram os missionários jesuítas que, ao mesmo tempo, conquistavam novos fieis para a Igreja na América Latina, em África, até na Ásia. Numa feliz descrição por um historiador britânico da bravura dos jesuítas, o missionário jesuíta embrenhado na selva latino-americana, ao mesmo tempo que baptizava uma criança nativa com uma mão, empunhava com a outra uma espada para se defender dos selvagens. 

Foi, em larga medida,  graças aos jesuítas que a América Latina é hoje o centro mundial do catolicismo, ocupando o lugar que outrora foi da Europa. É um continente pobre e a isso não é estranho as formas de organização económica que os jesuítas lá criaram - as célebres Reduções, talvez as primeiras formas de organização comunista no mundo cristão. É da América Latina que vem o Papa Francisco que também  é jesuíta. 

À partida, com este background,  não era de esperar que, no campo da socio-economia, o Papa trouxesse ao pensamento católico algo de novo, enriquecedor e não-socialista. E, na realidade, a Economia de Francisco que ele propõe em homenagem ao santo de quem tirou o nome, não é nada disso, pelo contrário, é velha, empobrecedora e comunista.

Em Portugal, para além de um capítulo próprio da Economia de Francisco (cf. aqui), um dos principais promotores da Economia de Francisco é o Movimento dos Focolares. Aos focolares, dadas as semelhanças, eu já chamei "os jesuítas de saias",  (cf. aqui).

Num artigo sob o título "A Economia de Francisco" publicado na revista Cidade Nova, o órgão oficial dos focolares, o juiz Pedro Vaz Patto faz uma defesa da Economia de Francisco e chama a atenção para as suas semelhanças com o projecto económico dos focolares, chamado Economia da Comunhão (cf. aqui).

Na realidade, a Economia da Comunhão dos focolares é perigosamente igual à Economia de Francisco, proposta pelo Papa jesuíta, ou não fossem os focolares verdadeiros "jesuítas de saias". 

Essa economia funciona com base em três princípios, amor ao próximo (altruísmo), unidade (comunhão) e dádiva (partilha). Como já foi referido, estes são princípios económicos que funcionam excelentemente numa pequena comunidade como uma família (ou um convento franciscano ou uma mariápolis focolare), onde todos se conhecem,  mas que são desastrosos quando aplicados a uma grande sociedade onde, em esmagadora maioria, as pessoas não se conhecem umas às outras.

A esta incapacidade de sair dos esquemas mentais da pequena comunidade, para pensar a grande sociedade, chamei anteriormente atavismo intelectual. É de atavismo intelectual que sofre a Economia de Francisco proposta pelos jesuítas e a Economia da Comunhão proposta pelos focolares e defendida pelo juiz Patto. Dir-se-ia que é o resultado esperado de pôr padres e juristas a falar daquilo que não estudaram.

Segundo tais princípios, aqueles que trabalham partilham os frutos do seu trabalho com aqueles que não trabalham. Mas como, numa grande sociedade, a esmagadora maioria das pessoas não se conhece, e não é possível controlar o comportamento de cada um, em breve o preguiçoso, o safado e o manhoso decide não trabalhar e viver à custa dos outros. Logo a seguir é o homem trabalhador,  honesto e bondoso que se dá conta que anda a sustentar malandros, e também ele deixa de trabalhar. No fim, ninguém tem incentivo a trabalhar e a produzir riqueza. A pobreza será o destino desta sociedade.

Excepto se pusermos o Estado, uma espécie de Big Brother, a controlar cada pessoa, obrigando uns a trabalhar e a partilhar os frutos dos seu trabalho com os outros que não trabalham.  Este Estado, para além de decidir quem vai produzir e quem está autorizado a não produzir e a viver à custa dos outros, decidirá também o que se irá produzir e a quem é distribuído o resultado da produção. Estamos no domínio da economia comunista.

O luteranos nasceram com a esperança de acabar  com a Igreja Católica. Na sua ânsia de se tornarem iguais aos luteranos, espera-se que os jesuítas - os jesuítas de calças e, igualmente, os jesuítas de saias - não acabem eles próprios com a Igreja Católica e com algumas das instituições que nasceram e floresceram sob os auspícios da Igreja Católica, como são notoriamente as instituições da economia livre ou capitalista.

(Continua acolá)

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