02 dezembro 2022

Um juiz do Supremo (135)

 (Continuação daqui)

"I did not have sexual relations with that woman [Monica Lewinsky]"


135. O momento Monica Lewinsky


Desde 1988 que o juiz Marcolino, através da esposa, Maria Antónia, era sócio de Duarte Nascimento Rodrigues, mais conhecido por  Duarte Lagarelhos (que em 2003 viria a ser preso e condenado por tráfico de droga a nove anos de prisão efectiva) na Imobiliária de S. Bartolomeu. Começou com uma quota de 50 contos que, mais tarde, terá sido aumentada para 125 contos (provavelmente por aquisição da quota de outro sócio). Foi esse o valor por que a vendeu, em 1999, ao mesmo Lagarelhos quando o cerco começou a apertar. O irmão Manuel também era sócio:

"61 - No dia 8 de novembro de 1988 foi lavrada a escritura de constituição da sociedade “Imobiliária S. Bartolomeu, Lda”, tendo como objeto “a construção civil e comércio de compra e venda de prédios rústicos e urbanos, bem como loteamentos e infra estruturas de terrenos”, com o capital social de 450.000$00, dividido nas seguintes seis quotas:

a) uma de 150.000$00 pertencente, a JJ [Duarte Lagarelhos];
b) uma de 75.000$00 pertencente, a Gabriel Ernesto Afonso Rodrigues;
c) uma de 75.000$00 pertencente, a Alexandre Cruz Rodrigues;
d) uma de 50.000$00, pertencente a Manuel Marcolino de Jesus;
e) uma de 50.000$00, pertencente a Maria Antónia Henriques Machado; e
f) uma de 50.000$00, pertencente a Francisco Diogo Antunes Pinto.
A sócia Maria Antónia Henriques Machado era e é casada com o assistente CC [juiz Marcolino]".

62 - Em 16 de novembro de 1999 foi lavrada uma escritura de cessão de quotas da sociedade “Imobiliária S. Bartolomeu, Lda”, nos termos da qual, além do mais, a sócia Maria Antónia Henriques Machado e o assistente CC [juiz Marcolino] cederam “a quota nominal de cento e vinte e cinco mil escudos, de que a cedente, mulher, é titular, por igual montante” a JJ [Duarte Lagarelhos].(cf. aqui)

[Nota: Mais tarde, o juiz Marcolino, que é um mentiroso compulsivo, afirmou à comunicação social ter vendido a quota a custo zero, cf. aqui]. 

A relação entre o juiz Marcolino e Duarte Lagarelhos era mais próxima do que a de meros sócios. Eram amigos, viajavam juntos para tratar de negócios, e nem sempre de negócios imobiliários, como foi o caso daquela viagem a Madrid em que o juiz Marcolino parece ter servido de consultor de Lagarelhos num "investimento pecuniário":

"63 – Entre a data da constituição da sociedade “Imobiliária S. Bartolomeu, Lda” (8-11-1988) e inícios de 2002, o assistente CC [juiz Marcolino], embora não figurando formalmente como sócio da sociedade, participou, de facto, na sua gestão, nomeadamente em decisões relativas à execução de um projeto de urbanização e à execução da construção de prédios urbanos em nome da referida sociedade.

64 - Em dia não apurado, situado na década de 1990 a 1999, o assistente CC [juiz Marcolino], a solicitação do advogado Valdemar Gonçalves, foi com este e com JJ [Duarte Lagarelhos] a Madrid, com a finalidade de aconselhar o JJ [Duarte Lagarelhos] sobre a viabilidade dum investimento pecuniário que o Duarte pretendia fazer.

65 - Em dia não apurado, situado na primeira metade da década de 1990 a 1999, o assistente CC [juiz Marcolino], deslocou-se com Duarte de Nascimento Rodrigues e o engenheiro Manuel Afonso Gonçalves à Comissão Coordenação da Região Norte (CCRN), no Porto. Nas instalações da CCRN o Duarte de Nascimento Rodrigues e o Manuel Afonso Gonçalves reuniram-se com elementos daquele organismo com quem trataram assuntos relacionados com a chamada Urbanização do Plantório, que estava a ser implementada pela “Imobiliária S. Bartolomeu, Lda.”. Durante essa reunião o assistente [juiz Marcolino] manteve-se no hall das instalações da CCRN.

66 – Em 20-10-2004, JJ [Duarte Lagarelhos] foi condenado na pena de 9 anos de prisão, por crime de tráfico de estupefacientes praticado em janeiro de 2002, tendo estado preso em cumprimento dessa pena." (cf. aqui)

O juiz Marcolino participava activamente na gestão da Imobiliária, e não apenas decidindo no tribunal da cidade ações de despejo a seu favor (cf. aqui), mas também abrindo portas e participando em negócios em que a Imobiliária estava envolvida, embora, mais tarde, ele dissesse que era somente assim uma espécie de gestor financeiro, ele apenas controlava o dinheiro e, pelo caminho, passava uns cheques, mas isso não tinha qualquer significado:

"11. Apenas se diz na fundamentação que o assistente [juiz Marcolino] controlava os fluxos financeiros, o que foi efectivamente afirmado pelo recorrente [juiz Marcolino], nada mais.

12. A explicação para a existência dos documentos de fls. 1250/1251 e 1286/1290 foi dada pelo recorrente [juiz Marcolino] em sede de audiência de julgamento, sendo certo que mal se compreende que o assistente [juiz Marcolino] pudesse gerir uma sociedade comercial sem sequer ser sócio da mesma [mais uma patranha do juiz Marcolino porque a quota da mulher também é dele], sendo certo que o mero preenchimento de cheques da sociedade nada indicia (cf. aqui)".

[Nota: Ahahahah, é preciso ter lata, este juiz Marcolino é um trapaceiro de todo o tamanho: passar cheques da sociedade nada indicia quanto ao seu envolvimento nela. Aquilo que fica claro é que existia uma grande relação de confiança entre o juiz Marcolino e Duarte Lagarelhos, o sócio maioritário da Imobiliária]

Este é o momento em que o juiz Marcolino já tinha sido citado no FBI por um tal Jaime Luciano Rodrigues como sendo um protector da rede de tráfico de droga financiada pelo seu amigo Lagarelhos. É o momento em que ele tem de se demarcar a todo o custo dos traficantes e, em particular, do seu amigo Lagarelhos. De uma assentada, ele põe um processo por difamação contra os dois, com a curiosidade de que, nessa altura, ambos já estavam na prisão:

"Instrução nº 162/04.8TABGC,do 1° Juízo, em que é Assistente CC [juiz Marcolino] e arguidos JJ [Duarte Lagarelhos] e LL [Jaime Luciano Rodrigues] ( cfr. doc. 9)" (cf. aqui).

E nem o filho do seu amigo Lagarelhos (identificado por JJ) escapou à fúria processual do juiz Marcolino:

"57° No Processo Comum Singular n.º 884/06.9TABGC, do 1° Juízo do T.J. de Bragança, o Sr. Inspector Judicial apresentou queixa e deduziu pedido de indemnização cível contra LL, MM (filho de JJ) e Dinis dos Santos Abreu Gorgueira". (cf. aqui)

O juiz Marcolino sabia que a justiça americana - ao contrário da justiça portuguesa, muito bem exemplificada por ele próprio - não brinca em serviço. Ele estava indiciado por associação ao tráfico de droga no FBI. O pânico não devia ser pouco, e foi nesta altura que ele ficou a sofrer de dores de cabeça, sem conseguir dormir, pensativo e muito meditabundo. O caso não era para menos.

Foi no auge desta angústia que ele viveu o momento Monica Lewinsky da sua vida.

Acerca de Monica Lewinsky disse o presidente Bill Clinton:

 "I did not have sexual relations with that woman".

Acerca de Duarte Lagarelhos disse o juiz Marcolino:

"O queixoso [juiz Marcolino] conhece o senhor Duarte Nascimento Rodrigues mas não tem qualquer intimidade com ele" (cf. aqui)


(Continua acolá)

Sem comentários: