27 setembro 2019

O Juiz-Pistoleiro (3)

(Continuação daqui)



O Juiz-Pistoleiro
(Novela)




Cap. 3. Toni Guimarães


-Peço ao tribunal que condene o réu a uma pena de morte e a outra de prisão perpétua por estouro dos miolos da vítima, seu irmão, esventramento do cadáver e extração dos olhos.

Foi assim que o Ministério Público se pronunciou, ainda o julgamento não tinha começado.

Ao ouvir isto, Joe Pistolas levantou-se e, sem pedir licença ao juiz, dirigiu-se à sua advogada:

-Oh Odete...quem é este gajo… quem é este gajo, pá?...

Maria Odete, fazendo uma vénia ao juiz, como que a pedir licença, respondeu:

-É o senhor magistrado do Ministério Público, o acusador oficial…

-Ah... pensei que o gajo era juiz...está ali sentado ao lado do juiz…e fardado à juiz…


Desde criança que se adivinhava a vocação de Toni Guimarães, acusava toda a gente, o pai, a mãe e os irmãos, passava o tempo a ver filmes policiais, e chegou mesmo a querer meter na prisão todos os colegas da segunda classe, incluindo a professora primária.

Via crimes em todo o lado, e qualquer pessoa à sua volta era um criminoso.

Um dia, ao almoço, a sopa estava quente e afligiu-lhe ligeiramente o esófago. Tanto bastou para ele acusar a mãe de tentativa de homicídio. E quando a senhora, aflita, foi à cozinha para lhe arrefecer a sopa, ele foi atrás dela, fechou-a à chave por fora e saiu para a rua. Era uma e meia da tarde.

Às sete da noite a senhora continuava fechada na cozinha e do Toni nem sinais. Na pacata cidade de Mirandela, onde vivia, e onde nada acontecia, a senhora foi pôr-se à janela da cozinha a gritar por socorro.

Em breve compareceram os bombeiros voluntários, a GNR, dois jornalistas e um repórter fotográfico do Diário de Mirandela, metade da população da cidade e finalmente o INEM para levar a senhora para o hospital em estado de choque. Foi um escândalo ainda hoje lembrado na cidade. O Toni, esse, estava escondido atrás dos arbustos, do outro lado da rua, a gozar o prato.

Foi um tio pelo lado da mãe que primeiro lhe descobriu a vocação quando um dia, a conversar com a irmã, lhe disse:

-Oh Maria Guilhermina … este teu filho … com a tendência que tem para acusar toda a gente…e para pôr toda a gente na prisão... ainda vai ser magistrado do Ministério Público...

A irmã encolheu os ombros e respondeu:

-Que posso eu fazer, Gabriel… a gente não escolhe os filhos que tem… se tu visses a facilidade com que ele desvenda crimes sentado no sofá a ler jornais e a ver televisão … eu não ficava nada admirada que um dia ele chegasse a director do DIAP...


(Continua aqui)

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