12 setembro 2016

uma pessoa de bem

O melhor período intelectual de Salazar foi o início dos anos 30, quando estava a construir o regime político que viria a ficar conhecido por Estado Novo.

O Estado que ele tinha recebido do regime democrático e republicano (1910-26) não servia e era irreformável. A tal ponto, que só criando um Estado de novo, e a convicção era tão forte que a expressão Estado Novo acabou mesmo por dar o nome ao regime.

Quem tem de construir um Estado de novo quer necessariamente que seja um Estado bom, segundo o seu próprio critério, e acabará necessariamente por construir no seu espírito um paradigma que lhe servirá de guia.

Ao ler os discursos de Salazar durante este período a conclusão que se tira é que a primeira qualidade que ele queria conferir ao Estado que desejava construir era a de que o Estado fosse "uma pessoa de bem". Certamente porque considerava que o Estado herdado do regime democrático não era "uma pessoa de bem"

Uma pessoa de bem é aquela que cumpre a regra de ouro vigente em todas as civilizações. Na nossa civilização cristã, e na formulação católica, exprime-se pela positiva "Faz aos outros aquilo que gostarias que te fizessem a ti". Na formulação protestante, de forma aproximada, mas não inteiramente equivalente, exprime-se pela negativa: "Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti".

Passou um século sobre a primeira experiência democrática e republicana. Mas na segunda experiência - a presente - o Estado comporta-se como na primeira - não é uma pessoa de bem.

Aquilo a que se refere a vice-presidente do Supremo Tribunal Administrativo em relação à Autoridade Tributária está aí para ilustrar. Não é apenas um comportamento impróprio de um Estado Democrático - que devia servir o povo, e não abusar o povo. Não é apenas impróprio de uma pessoa de bem - como o Estado deveria ser e dar o exemplo.

Aquilo é um comportamento criminoso. E os crimes que me vêm imediatamente ao espírito são os de abuso do direito, litigância de má-fé e tentativa de extorsão. Porque aquilo que o Fisco pretende, e vai até ao fim para o conseguir, é ficar com dinheiro que não é seu. E são crimes em massa contra as famílias e as empresas. Aos milhares.

Em privado, há quem lhe chame um Estado-ladrão, e a mim não me custa subscrever esta designação.

Mas existe um outro aspecto que gostaria de mencionar. É cultural, faz parte da nossa maneira de ser de portugueses, esses anarquistas mansos ou rebeldes sem causa,  como alguém já nos chamou.

A Dra. Dulce Neto seria a pessoa ideal para apresentar uma queixa-crime nomeando o Presidente da Autoridade Tributária como réu, porque no fim de contas é ele (suponho que actualmente é uma senhora) que tem autoridade para pôr fim a tudo aquilo. As provas é a Dra. Dulce Neto que as tem nos milhares de processos que lhe passam pelas mãos em que o Fisco litiga até ao fim para ver se fica com dinheiro que não lhe pertence, mas aos contribuintes.

Mas ela não faz nada. Fica-se pela denúncia, e à espera que alguém - talvez Deus - acabe por resolver o problema. Os portugueses definitivamente "não se inscrevem" quando se trata de viver uma vida democrática, como também já foi notado. Ficam á espera que alguém resolva os problemas por eles.

Quanto a Deus, não se trata de um Senhor de barbas que está lá em cima sentado num sofá e capaz de dizer aos funcionários do Fisco: "Rapazes, portem-se bem". Não. Como Cristo demonstrou, Deus está em cada um de nós, se o quisermos procurar. E também na Dra. Dulce Neto, satisfeita a mesma condição. Aperte os rapazes do Fisco e vai ver como eles entram na ordem num instante. E seria uma imensa contribuição ao bem-comum.

13 comentários:

Vivendi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

A geração de Salazar foi sem dúvida a geração mais bem preparada de sempre.

Salazar como se sabe era de uma sabedoria infindável mas olhe-se também à quantidade de vultos que surgiram naquele tempo novo em que todos as estruturas orgânicas da sociedade se destacavam e compare-se com o gentio de agora. Analise-se atentamente a qualidade que existia na engenharia, na arquitectura, no mundo artístico, nas escolas e universidades, na imprensa, nos bancos, nos militares, na igreja, etc... E com o 25 de Abril, "de repente" entramos em regressão total, excepto naquilo que conseguiu ser coberto ou disfarçado pela inovação tecnológica.

Portugal, num tempo em que quis ser novo obteve resultados estrondosos porque respeitou a tradição, era preocupado com o bem comum e tinha a alma do ser português, exactamente o contraponto daquilo que temos agora e que nos projecta repetitivamente à desgraça.

Vivendi disse...

Uma das melhores características do regime salazarista em Portugal foi a existência da Censura Prévia. Graças a esta Portugal manteve-se longe da subversão comunista, afastou gramscinianos, cortou indecências e manteve a sua ordem pública. Infelizmente, os comunistas e outras pessoas de ideologias subversivas ousaram acabar com esta. E, por isso, estamos onde estamos. Com manuais escolares comunistas, jornais impregnados de valores do marxismo cultural, publicidades relativistas e indecência.

DT

Anónimo disse...

Excelente publicação.


PA,

Não vai voltar à televisão ?
Os partidos começam a sentir-se encurralados. É ser se um pouco alemão no que toca a estar em posições de força.

Anónimo disse...

Ao Professor Dr Pedro Arroja só resta uma atitude verdadeiramente condigna e condizente com o seu saber, experiência e capacidade de raciocínio: sentar-se à mesa, ajeitar o guardanapo no colarinho, pegar nos talheres e esperar que eu lhe vá cagar no prato. Dose e meia de merda para o bucho, dr Arroja, dose e meia de merda. E como remate uma peidaça no focinho, como quem cheira o manjerico.

Agora vá para dentro que está bêbado.

Pedro Sá disse...

Era cá uma pessoa de bem...a começar pela PIDE.

Anónimo disse...

@Pedro Sá
Este Estado é uma pessoa de bem ?

marina disse...

prefiro um estado que vigie a actividade política dos cidadãos ( as sanguessugas chegaram ao poder e estamos exangues , razão tinha o botas ao proteger-nos delas ...) a um estado que vigia a actividade económica dos cidadãos com a desculpa da redistribuição ( nove partes para eles , uma para nós..) e nos deixa pobres que nem ratos , a pular de bancarrota em bancarrota.
a mitologia é tramada : os factos estão aí , claros (exangues , pobres que nem ratos , encurralados , cansados , estéreis ) mas insistem em lê-los com lentes desfocadas pelos que chegaram ao pote ( "democraticamente livres" , aos pulos de alegria , joão capelo gaivota , mais ricos , muito cultos) e não o querem largar , evidente .

Anónimo disse...

http://i0.kym-cdn.com/photos/images/newsfeed/000/249/829/562.jpg

marina disse...

https://www.youtube.com/watch?v=8APbPfy3atg

Pedro Sá disse...

O país não produz porque os portugueses são na sua quase totalidade incompetentes, improdutivos e preguiçosos.

marina disse...

lol , Pedro , isso é o que aqueles que querem viver à nossa conta dizem... nunca produzimos o suficiente para sustentar o seu caríssimo dolce fare niente. e coitados , é por isso , pela nossa falta de produtividade , que são compelidos a pedir empréstimos , a endividar o país e pimba , lá vem a bancarrota culpa dos governados preguiçosos :)

A.S. disse...

Não ficaria bem comigo se não viesse aqui deixar a expressão do meu reconhecimento e agradecimento pelo contributo do Prf. Arroja para a inteligibilidade do nosso país e da nossa sociedade. Os seus "pontos de vista" e os seus argumentos, mesmo que eventualmente não concorde com eles, têm sido de grande valia na minha compreensão da sociedade portuguesa.
A minha admiração e agradecimento quero também que sejam recebidas como apoio e encorajamento a que continue, apesar da boçalidade de alguns comentadores.
Inquietarmo-nos, pensar e reflectir expressa civilidade. Partilhar opiniões assumindo publicamente diferenças que podem ser usadas para nos agredir já revela uma capacidade e uma coragem que não está ao alcance de todos.
O estádio mental e cultural de muitos dos comentadores, como o evidencia um comentário anterior, é bem caracterizado pelo que rvelam ter na cabeça: ódio e merda. Mais nada.