Em meados do séc. XVIII surgiu a ideologia do liberalismo ou capitalismo com origem no mundo anglo-saxónico e calvinista. Um século depois, surgiu a ideologia socialista com origem no mundo germânico e luterano.
Por esta altura, a Igreja Católica estava a braços com duas ideologias que lhe eram adversas e que ela tinha dificuldade em contestar - o socialismo mais adverso do que o capitalismo (o luteranismo mais adverso que o calvinismo).
Foi por essa altura, como reacção, que surgiu a Doutrina Social da Igreja, através da Encíclica Rerum Novarum (1890) do Papa Leão XIII.
Desde então, a Igreja sempre afirma que condena quer o capitalismo quer o socialismo, embora tenha reconhecido a superioridade do capitalismo sobre o socialismo na Encíclica Centesimus Annus (1990) do Papa João Paulo II. Demorou um século a chegar a esta conclusão e só o fez depois da queda do Muro de Berlim dando razão àqueles que afirmam que os melhores prognósticos são os que são feitos no final do jogo.
Ao mesmo tempo que condenava o socialismo e o capitalismo, a Doutrina Social afirmava que a Igreja possuía uma Terceira Via para a organização económica e social, que era a via verdadeiramente cristã, por oposição ao capitalismo e ao socialismo.
Porém, como um crítico mais sagaz uma vez fez notar, se a Igreja possuía, de facto; uma terceira via que era alternativa ao capitalismo e ao socialismo, então essa terceira via permanecia um segredo muito bem guardado. Na verdade, a Igreja nunca a tornou explícita.
No pontificado de João Paulo II, e sob o impulso do então cardeal Ratzinger, a Igreja fez um esforço para codificar a sua doutrina, quer teológica quer social. Esse esforço resultou, quanto à doutrina teológica, no novo Catecismo da Igreja Católica (1993) e, quanto à doutrina social, no Compêndio da Doutrina Social da Igreja (2006).
O primeiro é uma obra-prima. O segundo é um desastre.
Em lugar de clarificar a Doutrina Social da Igreja, que por essa altura já tinha mais de um século, o Compêndio confundiu-a ainda mais e quanto à Terceira Via, se até aí era um segredo muito bem guardado, assim permaneceu a partir de então.
O que será afinal essa Terceira Via, o sistema de organização económica e social que a Igreja recomenda - e que há-de ser o pensamento próprio da cultura portuguesa que permaneceu sempre católica - por oposição ao capitalismo e ao socialismo, ambos oriundos do protestantismo religioso?
E será melhor - ou pelo menos mais cristã - do que o capitalismo ou o socialismo?
3 comentários:
Será isto?
Família, Tradição e Propriedade.
Prof. Pedro Arroja, tomo a liberdade de copiar parte do nº42 da CA de JPII. Por um lado, fica claro que ele preferia a expressão "economia de mercado" e, por outro, que o termo capitalismo dá maior azo a diferentes interpretações. Obrigado.
"42. Voltando agora à questão inicial, pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social vencedor é o
capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos Países que procuram reconstruir as suas economias e a sua sociedade? É, porventura, este o modelo que se deve propor aos Países do Terceiro Mundo, que procuram a estrada do verdadeiro progresso económico e civil?
A resposta apresenta-se obviamente complexa. Se por «capitalismo» se indica um sistema económico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no sector da economia, a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de «economia de empresa», ou de «economia de mercado», ou simplesmente de «economia livre». Mas se por «capitalismo» se entende um sistema onde a liberdade no sector da economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade, cujo centro seja ético e religioso, então a resposta é sem dúvida negativa.
A solução marxista faliu, mas permanecem no mundo fenómenos de marginalização e de exploração, especialmente no Terceiro Mundo, e fenómenos de alienação humana, especialmente nos Países mais avançados, contra os quais se levanta com firmeza a voz da Igreja. Tantas multidões vivem ainda agora em condições de grande miséria material e moral. A queda do sistema comunista, em tantos países, elimina certamente um obstáculo para enfrentar de modo adequado e realístico estes problemas, mas não basta para resolvê-lo"
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