28 junho 2024

A Decisão do TEDH (248)

 (Continuação daqui)



248. A cumplicidade do silêncio

A generalização contém sempre o potencial para a injustiça porque estende a todos aquilo que, por vezes, só se aplica a alguns. Por mais do que uma vez tenho tido vontade de fazer uma reserva e até um pedido de desculpa aos advogados que não se sentem retratados na imagem que eu passo deles. 

Porém, tenho resistido a fazer isso porque os advogados estão organizados e operam  em corporação, e não em regime de mercado livre (neste último caso, já o teria feito). Se uns são criminosos e outros não são compete a estes últimos denunciar os primeiros para preservarem a sua própria reputação e a confiança do público na sua profissão (que é para isso, em primeiro lugar, que existe a corporação). Não o fazendo, são cúmplices. Não merecem qualquer desculpa

É a cumplicidade do silêncio, típica das organizações criminosas.

Eu vou agora descrever como alguns advogados estabelecem o preço dos serviços que prestam (eu receio que a prática seja generalizada, só os números é que podem diferir). Utilizarei uma analogia - a da D. Maria que foi comprar laranjas ao supermercado.

A D. Maria entrou no supermercado, disseram-lhe que as laranjas custavam um euro por quilo e ela trouxe de lá um saco com cinco quilos, pagando cinco euros na caixa.

Uma semana depois recebeu um telefonema do gerente do supermercado.

-A senhora gostou da laranjas que comprou aqui a semana passada?

-Gostei muito, eram muito doces, já comemos todas aqui em casa...

-Pois, D. Maria, vou então enviar-lhe por e-mail a factura das laranjas, cinco quilos a 100 euros por quilo dá 500 euros mais IVA...

-O quê!?... mas eu paguei as laranjas que trouxe daí...

-E quanto é que a senhora pagou?

-Paguei cinco euros pelo saco, a um euro por quilo...

-Pois... mas isso é o preço para os nossos clientes contemplarem as laranjas aqui no supermercado... trazer as laranjas do produtor para o supermercado custa dinheiro... a apanha, o transporte, os seguros, o pessoal... para os clientes que desejem consumi-las são a 100 euros o quilo...

-Ahhh!...  eu não pago mais nada!...

-Pois... mas se  a senhora não pagar vamos ter de a pôr em tribunal...  

(Continua acolá)

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