(Continuação daqui)
248. A cumplicidade do silêncio
A generalização contém sempre o potencial para a injustiça porque estende a todos aquilo que, por vezes, só se aplica a alguns. Por mais do que uma vez tenho tido vontade de fazer uma reserva e até um pedido de desculpa aos advogados que não se sentem retratados na imagem que eu passo deles.
Porém, tenho resistido a fazer isso porque os advogados estão organizados e operam em corporação, e não em regime de mercado livre (neste último caso, já o teria feito). Se uns são criminosos e outros não são compete a estes últimos denunciar os primeiros para preservarem a sua própria reputação e a confiança do público na sua profissão (que é para isso, em primeiro lugar, que existe a corporação). Não o fazendo, são cúmplices. Não merecem qualquer desculpa
É a cumplicidade do silêncio, típica das organizações criminosas.
Eu vou agora descrever como alguns advogados estabelecem o preço dos serviços que prestam (eu receio que a prática seja generalizada, só os números é que podem diferir). Utilizarei uma analogia - a da D. Maria que foi comprar laranjas ao supermercado.
A D. Maria entrou no supermercado, disseram-lhe que as laranjas custavam um euro por quilo e ela trouxe de lá um saco com cinco quilos, pagando cinco euros na caixa.
Uma semana depois recebeu um telefonema do gerente do supermercado.
-A senhora gostou da laranjas que comprou aqui a semana passada?
-Gostei muito, eram muito doces, já comemos todas aqui em casa...
-Pois, D. Maria, vou então enviar-lhe por e-mail a factura das laranjas, cinco quilos a 100 euros por quilo dá 500 euros mais IVA...
-O quê!?... mas eu paguei as laranjas que trouxe daí...
-E quanto é que a senhora pagou?
-Paguei cinco euros pelo saco, a um euro por quilo...
-Pois... mas isso é o preço para os nossos clientes contemplarem as laranjas aqui no supermercado... trazer as laranjas do produtor para o supermercado custa dinheiro... a apanha, o transporte, os seguros, o pessoal... para os clientes que desejem consumi-las são a 100 euros o quilo...
-Ahhh!... eu não pago mais nada!...
-Pois... mas se a senhora não pagar vamos ter de a pôr em tribunal...
(Continua acolá)
Sem comentários:
Enviar um comentário