(Continuação daqui)
180. Só para a elite
Eu continuo abismado com a discussão que ontem se gerou na Assembleia da República em torno da liberdade de expressão. E por várias razões.
Primeira, porque ao fim de 50 anos de democracia os deputados ainda andam a discutir o direito fundacional da democracia, que é precisamente o direito à liberdade de expressão.
Segunda, porque se tornou óbvio, a partir da discussão, que um grande número de deputados (e, depois, cá fora, também de jornalistas) não sabem o que isso é.
Terceira, que tenha sido um deputado de quase 70 anos de idade - precisamente o presidente da AR -, nascido sob o regime do Estado Novo, a explicar aos outros deputados e aos jornalistas o que é a liberdade de expressão. E que quem avalia aquilo que cada deputado diz não é ele - seria uma tarefa impossível "Pode dizer isto, mas não aquilo" -, mas o povo português nas urnas.
A maior amplidão que a liberdade de expressão tem é precisamente no discurso político (cf. aqui, §65) e na instituição que foi feita para o acolher, o Parlamento.
Daqui eu retiro duas conclusões. A primeira é que nós não temos um Parlamento a sério, mas uma Confraria de donzelas, e que as donzelas estão sobretudo à esquerda.
A segunda é uma conclusão que tenho reiterado aqui várias vezes, que a liberdade de expressão não é uma instituição portuguesa e pertencente à cultura do povo português.
Na cultura portuguesa, a liberdade de expressão é só para a elite.
E ainda uma terceira que começa a tornar-se óbvia:
A democracia liberal não tem futuro em Portugal.
(Continua acolá)
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