1. As coisas acontecem-lhes
Nos anos oitenta, um economista americano foi estudar a pobreza na América Latina, um continente ao qual a Espanha e Portugal passaram a sua cultura enraizadamente católica. Acabaria por chegar à conclusão weberiana da inferioridade da ética católica face à ética protestante para produzir riqueza.
Muito interessante, porém, foi o caminho que ele percorreu até chegar a esta conclusão e as conclusões intermédias que foi tirando pelo caminho. A certa altura, depois de observar reiteradamente o comportamento dos latino-americanos nas mais diversas situações da vida, concluiu assim acerca deles: "As coisas acontecem-lhes. Eles não as fazem acontecer".
Na conversa que manteve com o Expresso esta semana (cf. aqui), o Professor Gabriel Mithá Ribeiro - coordenador do Gabinete de Estudos do Chega - diz que o novo programa do partido será guiado pelo "primado da auto-responsabilidade".
O que é que se deve entender pelo "primado da auto-responsabilidade"?
A auto-responsabilidade é uma atitude perante a vida que se opõe à auto-vitimização. A auto-vitimização é a atitude daqueles a quem as coisas acontecem. A auto-responsabilização é a atitude daqueles que as fazem acontecer.
O primado da auto-responsabilidade significa que cada pessoa é a principal responsável pelo seu próprio destino, ao passo que o primado da auto-vitimização significa que qualquer infortúnio na vida de uma pessoa é, em primeiro lugar, culpa dos outros.
Perante qualquer inconveniência da vida, uma pessoa guiada pelo princípio da auto-responsabilidade pergunta-se: "O que é que eu fiz de errado para isto me acontecer?" ou "O que é que eu não fiz, e devia ter feito, para prevenir que isto me acontecesse?", ao passo que uma pessoa guiada pelo princípio da auto-vitimização trata de encontrar um culpado, o qual nunca é ela própria.
(Continua)
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