22 maio 2021

jogadores e árbitros

O Expresso dedica esta semana uma página inteira (a página 16) ao Chega, com a óbvia intenção de desacreditar o partido. A página contém dois artigos, o primeiro para dizer que duas juristas juntaram uma adenda de 103 páginas ao pedido de Ana Gomes, dirigido ao Tribunal Constitucional, para ilegalizar o Chega (cf. aqui). 

A  mensagem aos leitores deste primeiro artigo é clara - não votem num partido que corre o risco de ser ilegalizado pelo Tribunal Constitucional.

O segundo passa uma mensagem defensiva do Chega dizendo que o partido está a mudar o seu programa para evitar a ilegalização pelo Tribunal Constitucional (cf. aqui). 

A verdade, porém, é que o entrevistado - o Prof. Gabriel Mithá Ribeiro, coordenador do Gabinete de Estudos do Chega e também coordenador do novo programa do partido - embora admitindo que essa possa ser uma consequência não-pretendida, em nenhum momento admite que essa foi a razão - muito menos a razão principal - que levou à actualização do programa do partido.

Não é certo que o Tribunal Constitucional alguma vez venha a julgar a ilegalidade do Chega. E eu espero sinceramente que não o faça. 

Porquê?

Porque seria a maior batota que alguma vez se praticaria em cinco décadas de democracia em Portugal, embora o sistema PS/PSD seja reiteradamente batoteiro (e o Expresso seja um dos seus principais porta-vozes; o outro é um seu discípulo, o Público).

Eu explico.

O Tribunal Constitucional é constituído exclusivamente por mandatários políticos do PS e do PSD, a maioria nem sequer são juízes, e inclui até Julho, quando termina seu o mandato, também uma mandatária do CDS (cf. aqui), a qual, muito provavelmente, dado o estado em que se  encontra o CDS, será substituída por um mandatário do PS ou do PSD

Ora, o Chega é o partido que mais tem contribuído para acabar com o CDS, que mais tem roído no eleitorado do PSD e que, cada vez mais, se apresenta como o grande partido de oposição ao PS.

Ter o Tribunal Constitucional a julgar a ilegalidade do Chega é ter o PS, o PSD e o CDS a julgarem o seu principal adversário - certamente o adversário que eles mais temem. É ter jogadores a arvorarem-se também em árbitros. É ter, enfim, batoteiros.

Adivinha-se o resultado.

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