Dentro da semelhança referida no artigo do Henrique Raposo (cf. aqui) - a de que a Iniciativa Liberal, tal como o Bloco de Esquerda - são ambos libertários nos costumes, existe uma diferença.
A diferença é que o liberalismo não é militante acerca das chamadas causas fracturantes como é o socialismo mais radical protagonizado pelo BE.
Um liberal aceita a homossexualidade como fazendo parte da liberdade de escolha que assiste a cada pessoa e o acto homossexual como expressão do acordo entre dois adultos capazes de dar o seu consentimento (consenting adults).
Mas, ao contrário do socialismo mais radical - tal como protagonizado pelo BE - o liberalismo não visa institucionalizar a homossexualidade (v.g., através da consagração legal do casamento entre homossexuais).
O liberalismo aceita os comportamentos minoritários (como a homossexualidade), mas precisamente porque são minoritários, não os institucionaliza. Pelo contrário, o socialismo, na sua versão mais radical, dá a mesma dignidade institucional aos comportamentos minoritários que dá aos comportamentos maioritários. O casamento vale para homossexuais como vale para heterossexuais, e o mesmo se diga da adopção.
O liberalismo aceita o aborto, mas dificilmente o institucionalizaria como ele está hoje institucionalizado em Portugal. O aborto é um assunto da esfera privada de cada mulher para ser tratado em privado com o seu médico e com o seu companheiro. Pelo contrário, para o socialismo, o aborto é uma assunto público a ser tratado por lei.
O liberalismo é favorável à morte assistida, mas deixa essa questão entregue à relação de privacidade que existe entre cada pessoa e os seus mais próximos, como o seu médico. Pelo contrário, o socialismo do BE torna esta questão uma questão institucional a ser definida pela Assembleia da República e regulada por lei.
A moral liberal é uma moral por acordo (cf. aqui). A moral socialista é uma moral por lei. Ambas se opõem à moral tradicional que é defendida, por exemplo, pela Igreja Católica. A moral socialista é, porém, mais fracturante da moral tradicional do que a moral liberal.
A moral socialista visa institucionalizar comportamentos que são minoritários e dar-lhes o mesmo estatuto dos correspondentes comportamentos maioritários, tornando-se militante acerca dos comportamentos minoritários. Trata-se de comportamentos que são ou socialmente improdutivos (v.g., casamento entre homossexuais) ou mesmo destrutivos (v.g., aborto, morte assistida).
A moral liberal, aceitando embora todos estes comportamentos minoritários, nunca será militante acerca deles e nunca visará a sua institucionalização.
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