"Só o indivíduo pensa, sente e age. A sua liberdade e autonomia de pensamento e acção são o fundamento e o limite da construção social que é o Estado. Para a Iniciativa Liberal (IL) o Estado não deve impor qualquer moral ou fim último aos indivíduos, estes devem procurar a sua felicidade e realização com a máxima liberdade, sabendo obviamente que a isso corresponde o peso da responsabilidade" (Programa da Iniciativa Liberal, cf. aqui, ênfases meus).
Num post anterior (cf. aqui) afirmei que a Iniciativa Liberal é um partido de esquerda - do centro-esquerda, para ser exacto - ao contrário da percepção que muitos têm dele de que se trata de um partido de direita.
É a justificação desta afirmação que pretendo fazer neste post.
Foi na Assembleia Constituinte saída da Revolução Francesa de 1789 que se fixaram os conceitos de esquerda e direita na política e que prevaleceram até hoje. À direita do rei sentaram-se os deputados que queriam a manutenção do status quo, à esquerda aqueles que queriam revolucionar a sociedade.
O que era o status quo da época?
O status quo era o modo de vida que os países da Europa tinham seguido ao longo de toda a Idade Média e nos alvores da modernidade, e esse modo de vida era fixado pela doutrina católica. O paradigma do status quo e, portanto, da direita política, era o catolicismo, e isso significava, entre outras coisas, uma sociedade organizada politicamente sob a forma de monarquia absoluta, aristocrática, autoritária e adoptando uma moral ditada pela tradição.
À esquerda do rei estavam sentados os adversários deste modo de viver.
E quem eram eles e o que queriam, os esquerdistas da época e os primeiros esquerdistas?
Eram os liberais, porque o socialismo, esse, só viria a surgir muito mais tarde, em meados do século XIX, e na Alemanha. Pelo contrário, as ideias liberais já tinham maturado na altura na Grã-Bretanha pela mão de John Locke, Adam Ferguson, David Hume e Adam Smith, entre outros.
E se é verdade que Rousseau é considerado o filósofo da Revolução Francesa, a verdade é também que a Revolução Francesa se fez em grande parte com ideias britânicas, como as de Hume e Smith, que frequentavam os salões de Paris, e eram amigos de Rousseau.
Os esquerdistas queriam uma sociedade oposta ao modelo católico - uma sociedade republicana, igualitária, tolerante e com uma nova moral.
Neste campo, a moral do status quo ou da direita era a moral católica, uma moral que era imposta pela tradição. Ora, a esta moral tradicional, a esquerda - isto é, os liberais - contrapuseram uma moral por acordo.
A moral católica condenava, por exemplo, a homossexualidade, o sexo fora do casamento, a prostituição e ainda aquilo que hoje chamamos de morte assistida. Pois a nova moral liberal não condena nada disso, desde que esses actos ou comportamentos resultem do acordo ou do consentimento entre adultos.
À luz desta moral, é perfeitamente aceitável que duas pessoas do mesmo sexo, em busca da sua respectiva felicidade, decidam manter uma relação homossexual. Da mesma forma, não existe nada de imoral na relação entre um prostituto e um seu cliente, desde que ambos sejam adultos e estejam de acordo. É moral o contrato celebrado entre uma pessoa e um médico para que este ponha termo à vida daquela em situação terminal. Ter filhos fora do casamento é perfeitamente moral desde que resulte do consentimento das partes.
Os próprios filósofos da época ofereceram os seus percursos de vida como exemplos da nova moralidade. Rousseau teve cinco filhos de uma mulher com quem nunca casou. E David Hume e Adam Smith mantiveram uma relação homossexual até à morte do primeiro em 1776.
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