15 agosto 2019

do Bloco de Esquerda

Se o liberalismo é uma ideologia de esquerda - conforme referi aqui -, então por que é que tantas vezes é referido como sendo de direita?

É fácil de responder e é esse o tema deste post.

Num segmento de recta com ponto médio M, o catolicismo está à direita e o liberalismo à esquerda do ponto M.

E o socialismo?

O socialismo está ainda mais à esquerda.

Para um socialista, portanto, o liberalismo está à sua direita, embora sejam ambas ideologias de esquerda. É a propaganda socialista que cria a ideia (falsa) de que o liberalismo é de direita.

De direita é o catolicismo, o liberalismo é de esquerda, embora o socialismo seja ainda mais de esquerda do que o liberalismo.

Tomando como paradigma da direita o catolicismo, uma ideologia política é tanto mais de esquerda quanto mais anti-católica fôr, e o socialismo - seja na sua versão mais radical de comunismo seja mesmo na versão mais moderada de social-democracia ou socialismo democrático - é mais disruptivo da cultura católica do que o liberalismo.

Exemplificarei com a questão da homossexualidade.

Para o catolicismo a homossexualidade é imoral. A Igreja Católica aceita os homossexuais, como não podia deixar de ser, mas prescreve-lhes uma vida de castidade.

Pelo contrário, para o liberalismo e para o socialismo não existe nada de imoral na homossexualidade. O liberal vê a homossexualidade como uma manifestação da liberdade de escolha do indivíduo na prossecução da sua ideia de felicidade.

O socialista vai mais longe. Não apenas reconhece a moralidade da homossexualidade como a defende de forma militante ao ponto de a impor por lei num plano de igualdade com a heterossexualidade.

O socialista é muito mais fracturante em relação à moral católica do que o liberal. A moral católica é ditada pela tradição, a moral liberal é ditada por acordo e a moral socialista é ditada por lei.

A cultura católica, como a de Portugal, assemelha-se muito a um pêndulo onde facilmente se passa de um extremo ao outro (ou do oito ao oitenta), e assim aconteceu após a revolução de 1974. De um regime, como o do Estado Novo, que era quase perfeitamente católico (o Papa ou o rei absoluto na figura de Salazar, as restrições à liberdade de expressão, a  economia corporativa e a moralidade profundamente católica) nós passámos para o seu oposto, um regime socialista.

Os cinco maiores partidos do regime são socialistas, dois na versão comunista (BE, PCP), três na versão social-democrata (PS, PSD, CDS). Nem mesmo o CDS, que teve pretensões a ser um partido católico (democracia-cristão) conseguiu segurar-se nesse espaço, e teve de aderir à social-democracia,  não resistindo a inserir a designação de Social(ista) no seu nome. Os seus fundadores vivos acabaram no PS.

Existe, por isso, espaço para um Partido Liberal em Portugal e esse é o caminho que está a ser trilhado pela Iniciativa Liberal, que do ponto de vista doutrinal está a ser muito bem conduzida pelo Carlos Guimarães Pinto, um colaborador deste blogue (embora actualmente com outros afazeres mais prementes). Ainda hoje ele traz um excelente artigo no Público sobre o ambiente.

Mas não há dúvida de que em termos de moralidade, o programa da Iniciativa Liberal não difere muito do programa do Bloco de Esquerda. São mesmo muito parecidos, excepto pela militância.

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