"O que se passa no Hospital de S. João?", é a pergunta da jornalista Joana Capucho neste artigo do DN (cf. aqui).
Aquilo que se passa no HSJ não é muito diferente daquilo que se passa noutros hospitais, escolas, universidades, na justiça e em muitos outros serviços públicos do país.
É o seguinte: as instituições públicas foram capturadas - há quem utilize uma palavra mais forte, "assaltadas" - por diversos interesses corporativos, que se digladiam por mais poder, dinheiro e influência, e deixaram de estar prioritariamente ao serviço do público, que é o fim para o qual foram criadas.
As corporações incluem os partidos políticos, os sindicatos e as diferentes agremiações profissionais. Num serviço público, o público tornou-se literalmente uma maçada e, tratando-se de crianças, que nem protestar sabem, essas, então, são relegadas para contentores metálicos, que é onde se guarda e transporta o gado.
Ninguém se opõe à construção da ala pediátrica do HSJ, excepto talvez uma pequena franja de políticos e de profissionais de saúde ligados ao CMIN (Hospital de S. António), e também aí por razões corporativas. A esmagadora maioria das pessoas e das corporações são favoráveis. Mas, no que respeita às corporações, são favoráveis, mas não de qualquer maneira.
São favoráveis desde que o dinheiro passe por elas e o controlo da obra também. As sociedades de advogados estão lá para lançar concursos públicos internacionais, impugnar concursos públicos internacionais, e voltar a lançá-los. As sociedades de arquitectos para fazer e refazer projectos. As construtoras para fazer paredes, deitá-las abaixo e voltar a fazê-las. Os membros dos partidos que nomearam a administração também querem lugares de consultoria no assunto.
Se a Associação Joãozinho, em lugar de oferecer a obra ao HSJ, tivesse decidido angariar o dinheiro para a administração do HSJ fazer a obra pelos canais convencionais, a obra não estaria feita na mesma. A diferença é que, neste segundo caso, uma boa parte do dinheiro já teria sido gasto.
Na realidade, a obra começou a ser boicotada quando a administração do HSJ se deu conta de que a Associação Joãozinho iria dar-lhe um hospital pediátrico, e não o dinheiro para a ela o fazer. Todos os lobbies ali à volta não iriam ver nada, só mesmo as crianças veriam alguma coisa.
Ora, o HSJ não existe hoje prioritariamente para satisfazer os interesses dos seus doentes, sejam crianças ou adultos. Existe, em primeiro lugar, para satisfazer os interesses das diferentes corporações que giram à sua volta.
É muito curiosa a posição do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que também é citado no artigo do DN. Em relação à ala pediátrica do HSJ, ele também não quer a obra feita pela Associação Joãozinho, prefere que seja o Estado a fazê-la.
Ele diz que o problema do HSJ (e de outros hospitais) é falta de dinheiro. Mas não é - certamente que não falta de dinheiro sem mais qualificações. Porque quem tem falta de dinheiro aceitaria a obra que a Associação Joãozinho quer oferecer ao HSJ de forma inteiramente gratuita.
O verdadeiro problema é falta de dinheiro que as corporações possam controlar, incluindo aquela que é presidida pelo Dr. Miguel Guimarães.
1 comentário:
Ora bem, Clarinho como a água.
É isto e será sempre isto e pode incluir aí na lista do "faz e desfaz" para manter a mama, os próprios construtores.
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