09 abril 2017

Não precisei de mais

Afinal, onde é que está aqui o milagre?

Há dois milagres.

Dois? Sim, o próprio pai da criança julgou que me estava a falar de um só milagre e, enquanto ele falava, eu estava a ver dois milagres, um milagre que aconteceu ao filho e outro que aconteceu ao pai.

E o milagre que aconteceu ao pai foi o da conversão - ele, que era ateu.

Um milagre é um acontecimento quase-impossível e cuja ocorrência nos deixa maravilhados. A própria palavra milagre deriva do latim miraculus que significa "maravilhar-se". São dois, portanto, os elementos de um milagre, a sua inverosimilhança e a alegria que produz.

Eu também fiquei convencido, tão convencido como estava o pai, de que o sucesso da operação da criança tinha sido um milagre. Não, não perguntei que tipo de problema tinha a criança no cérebro e muito menos quais eram as soluções técnicas e as probabilidades. Tenho alguma competência em probabilidades mas nenhuma em cirurgia. E o pai da criança parecia não  a ter nem numa nem noutra.

Acreditei pela maneira como tudo aquilo se desenrolou. Eu já entrei em muitos Cafés ao longo da minha vida. Mas, em nenhum, mal tivesse assomado à porta, o patrão saltou de trás do balcão, como se tivesse uma mola, para me vir receber com todas aquelas atenções, ao ponto de abandonar o serviço e vir sentar-se a conversar comigo.

O homem estava perfeitamente convencido que a cura do filho se ficou a dever a intercessão divina, sem que, em algum momento, tivesse desvalorizado o trabalho do cirurgião. Acerca do trabalho do cirurgião, eu teria muito a dizer sobre o milagre que é os cirurgiões disporem hoje de técnicas e talentos que lhes permitem fazer delicadas operações ao cérebro, mas estaria a desviar-me do meu tema principal.

Para aquele homem, a questão que, na altura, lhe ia no espírito, transcendia em muito a competência do cirurgião e o sucesso imediato da operação. A questão que o preocupava era se aquela criança, que tinha nascido com um problema no cérebro, se iria tornar um adulto normal. E tornou, estava agora ali à vista de todos.

A mãe e a avó da criança também estavam igualmente convencidas de que foi um milagre, a tal ponto que a avó duplicou as suas idas anuais a Fátima.  E, com a minha adesão, passaram a ser quatro, pelo menos, as pessoas que acreditam que foi um milagre.

Não são precisos mais para validar um milagre. Porque aquilo que  caracteriza um milagre é o facto de serem muito poucas as pessoas que acreditam nele. Os cépticos excedem largamente os crentes. E isto é assim porque a principal consequência de um milagre, que seja um verdadeiro milagre, é produzir outro milagre - o da conversão. E para que a conversão possa existir é necessário, em primeiro lugar, que existam cépticos.

Como não havia eu de acreditar na história daquele homem, se eu ia a Fátima por um motivo semelhante? E convenci-me do milagre pouco depois de sair do Café e me fazer ao caminho, meditando sobre o significado daquele inesperado encontro.

Que estranho... tinha tantos Cafés no caminho e logo entrei naquele. E a forma como o homem me recebeu, adivinhando logo para onde eu ia? E não é que, ainda por cima, tinha uma história para me contar que, nas circunstâncias, tinha um imenso significado para mim?

Eram acasos a mais, uma conjugação assim de acasos tem probabilidade zero. Não existe aqui acaso nenhum. Foi Deus. Foi Deus que me quis pôr um sinal no caminho e planeou este encontro.

E que tinha Deus para me dizer?

O seguinte: "Estás a fazer a coisa certa. Continua o teu caminho, não desanimes nem abandones. Vais obter o resultado que pretendes. Acabei de te pôr na frente dos olhos um exemplo vivo - ou precisas de mais?".

Não precisei de mais. (Na realidade, já tinha recebido alguns sinais pelo caminho e ainda viria a receber outros).


8 comentários:

name disse...

Arroja, LINDO!
Comovente nas entranhas (o cérebro também é entranha).

Abraço apertado do eao

Anónimo disse...

Esta programação da caixa de comentários está uma 'caca'.
Abraço

Anónimo disse...

O milagre que é a técnica e o talento dos cirurgiões? Milagre nenhum, é muito dinheiro investido em formação, hospitais e equipamento. Não é desviar-se do ponto principal. ESSE é o ponto principal.

Anónimo disse...

Será que vai haver um milagre para o último céptico?

Ricciardi disse...

Bem, estes assuntos são delicados e não podem ser discutidos por pessoas envolvidas em promessas.
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O que me parece é que há mais 'milagres' nos dias de hoje do que dantes pela simples razão de que a evolucao da técnica e ciência salva pessoas que antes não salvava.
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O milagre da ciência é bem distinto do milagre divino. O milagre divino, aceite pela igreja, por de lado toda e qualquer cura em que tenha intervido a medicina. Para ser milagre a medicina não pode ter intervido e a cura deve ser inteira de pelo menos 10 anos de vista.
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Já agora, para efeitos da definição de milagre proposta pelo PA, em que ele diz que o milagre deve tambem maravilhar, eu devo acrescentar que o diabo tambem opera milagres. Por essa razão é que será o mestre do embuste.
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Rb

Rui Alves disse...

"A coincidência é a forma escolhida por Deus para permanecer anónimo"

Albert Einstein

Anónimo disse...

Caro Pedro Arroja,

Agora que já passaram alguns anos desde que Deus faz parte da minha vida, tendo-se revelado de forma muito semelhante aquela que julgo ter acontecido consigo, estou cada vez mais convencido que Deus envia múltiplos sinais a todos nós ao longo da vida (ateus e agnósticos, como eu era, incluídos).

A grande diferença reside em nós, que agora os conseguimos passar a identificar e a intuir o seu conteúdo. Ou, pelo menos, alguns deles. Porque isto é apenas o início do um longo caminho, creio.

Já reparou que todos estes sinais que Deus "planta" no nosso caminho tem em comum algumas características muito interessantes:

- cojuntos de sinais aparentam ter "ligação" uns com os outros

- todos, sem excepção, são no sentido do bem, nunca do mal

- quando erramos parece que recebemos mais sinais todos no sentido de melhorar esses erros

- todos os sinais convergem numa mesma direcção como se fizessem parte de um grande complô que apontam sempre numa determinada direcção (do bem)

- os sinais estão presentes em todas as facetas das nossas vidas (intima, familiar, profissional, social, etc)

- precisamente como no seu exemplo, muitas das vezes os sinais chegam-nos através de outras pessoas

- em muitos casos, a probabilidade de nos voltarmos a cruzar com parte dessas pessoas é praticamente nula

Claro que, para indivíduos absolutamente racionais e pragmáticos que somos, a conclusão sobre a origem destes sinais torna-se absolutamente clara.

Se estes sinais fossem fruto do acaso cerca de 50% deles teriam de ir na direcção oposta (do mal). E isso nunca acontece. 100% vão no sentido do bem, de algum positivo... Mas que acaso tão viciado é este?

Ignorar as fortíssimas evidências factuais e chamar "apenas de felizes coincidências" a estes sinais parece-me manifestamente irracional e até pouco científico... Lá porque a ciência não disponha de instrumentos que permitam ler determinadas realidades não se deve concluir que elas não existem.

A.

Anónimo disse...

Outra coisa muito interessante que já certamente também notou é que Deus, contrariamente ao que eu pensava, nos dá muito mais liberdade do que aquela que tinhamos antes de crer Nele.

Sem a fé, fazendo apenas uso da razão, o nosso pensamento fica bastante mais limitado. Provavelmente o mesmo acontecerá a quem tenha muita fé e faça pouco uso da razão.

O "segredo" parece estar num equilíbrio saudavel entre ambas, a fé e a razão.