Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos,
Onde outros, com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
(A Gedeão, Os meus olhos, 1956)
8 comentários:
"...foi então que fui à procura do medo na vida dos principais homens que fizeram o protestantismo e a modernidade (...)
O caso mais significativo, talvez, é o de Thomas Hobbes, o autor do célebre Leviathan, que disse de si próprio: "my mother gave birth to twins: myself and fear." - PA
Este assunto, sem desdizer o Professor Arroja, parece-me bastante mais complexo.
Em termos muito simples, apenas gostava de referir que o medo força o ser humano a ser racional.
Apenas e exclusivamente o medo nos leva à racionalidade - este ponto é crucial para entender toda a argumentação filosófica de Hobbes.
E tal, como diz o PA, crucial para compreender o ataque de Hobbes à religião.
D. Costa
Mas Hobbes é bem mais astuto na sua argumentação. O Professor Arroja deve ter cuidado com este filósofo. Pode-se espalhar aqui em dois tempos.
Nenhum pensador católico até hoje fez frente a Hobbes. Nada de surpreendente.
Com a sua habitual cegueira ortodoxa o catolicismo apenas conseguiu provar o argumento de Hobbes.
D. Costa
Gosto do poema.
Narcisismo e relativismo .
Aí o Ratzinger quando ler este poema relativista
Nem o Costinha que tem peneiras sabe o que significa.
Significa o pessimismo prot de todos sermos iguais a fodermo-nos mutuamente.
Daí a necessidade do Estado/Leviathan para pacificar a maralha que vive no medo de ser lixada pelo próximo.
E É Hobbes que vai recuar ao Antigo Testamento para fazer da moral do Estado uma moral à olho por olho; dente por dente.
Os franceses vão copiar isto mas chamam-lhe "laicismo".
É verdade que o poema é subjectivista (gosto mais do que relativista neste contexto). O motivo para este poema aqui estar não tem nada a ver com a ideia de verdade subjectiva, mas com o apelo à autenticidade.
Onde A. Gedeão vê a 4ª estrofe, o PA vê "não imitem os prots"
Narcisismo em estado puro.
Mai nada.
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