01 dezembro 2013

Cada um é seus caminhos

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos,
Onde outros, com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos, diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D.Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

(A Gedeão, Os meus olhos, 1956)

8 comentários:

Anónimo disse...

"...foi então que fui à procura do medo na vida dos principais homens que fizeram o protestantismo e a modernidade (...)
O caso mais significativo, talvez, é o de Thomas Hobbes, o autor do célebre Leviathan, que disse de si próprio: "my mother gave birth to twins: myself and fear." - PA

Este assunto, sem desdizer o Professor Arroja, parece-me bastante mais complexo.

Em termos muito simples, apenas gostava de referir que o medo força o ser humano a ser racional.
Apenas e exclusivamente o medo nos leva à racionalidade - este ponto é crucial para entender toda a argumentação filosófica de Hobbes.

E tal, como diz o PA, crucial para compreender o ataque de Hobbes à religião.

D. Costa





Anónimo disse...


Mas Hobbes é bem mais astuto na sua argumentação. O Professor Arroja deve ter cuidado com este filósofo. Pode-se espalhar aqui em dois tempos.

Nenhum pensador católico até hoje fez frente a Hobbes. Nada de surpreendente.
Com a sua habitual cegueira ortodoxa o catolicismo apenas conseguiu provar o argumento de Hobbes.

D. Costa

Anónimo disse...

Gosto do poema.
Narcisismo e relativismo .

Anónimo disse...

Aí o Ratzinger quando ler este poema relativista

zazie disse...

Nem o Costinha que tem peneiras sabe o que significa.

Significa o pessimismo prot de todos sermos iguais a fodermo-nos mutuamente.

Daí a necessidade do Estado/Leviathan para pacificar a maralha que vive no medo de ser lixada pelo próximo.

zazie disse...

E É Hobbes que vai recuar ao Antigo Testamento para fazer da moral do Estado uma moral à olho por olho; dente por dente.

Os franceses vão copiar isto mas chamam-lhe "laicismo".

Francisco disse...

É verdade que o poema é subjectivista (gosto mais do que relativista neste contexto). O motivo para este poema aqui estar não tem nada a ver com a ideia de verdade subjectiva, mas com o apelo à autenticidade.

Onde A. Gedeão vê a 4ª estrofe, o PA vê "não imitem os prots"

BLUESMILE disse...

Narcisismo em estado puro.

Mai nada.