28 outubro 2013

O tema pegou

O tema pegou. É o que dá falar para as mulheres (sobre assuntos importantes):

Um artigo de Isabel Stilwell no Expresso desta semana:

Pois é, nem sempre as coisas são o que parecem. Se deitou as mãos à cabeça quando lhe disseram que por cada 100 casamentos 74 acabam em divórcio, continue a ler
Poucas coisas me põem mais fora de mim do que aqueles cortejos nupciais buzinados, em que os convidados não largam o cláxon, mesmo quando estão parados numa fila de carros, absolutamente indiferentes aos pobres habitantes das localidades que atravessam. De tal forma lhes tenho rogado pragas, apelando inclusivamente a que padres e conservadores do registo civil preguem que "casamentos buzinados são casamentos amaldiçoados", que quando vi que por cada 100 casamentos existem 73,7 divórcios, fiquei absolutamente convencida de que o Altíssimo tinha escutado as minhas preces. Melhor ainda, certamente por medo do meu poder de intervenção junto das instâncias superiores, a malta tinha decidido que era mais seguro deixar mesmo de se casar, o que significava uma melhoria significativa da qualidade de vida de todos os portugueses que, como eu, abominam esta poluição sonora, sobretudo durante os meses de Verão. Se em 1990 tolerámos 71 654 cortejos, já em 2012 tivemos a grata satisfação de suportar apenas 34 099 de comitivas de tule hasteado.
Até aqui a minha análise é a mais fácil, a mais alarmista, aquela que alimenta as conversas angustiadas à volta da mesa daqueles que imaginam que o divórcio tomou de assalto a sociedade portuguesa, e cresce a galope, a que se segue o estafado discurso da ausência de valores, etc., e etc., e etc. Até aqui a minha leitura é a leitura de um número com espinhas. Porque, felizmente, na realidade a história é outra.
Tive de ir por partes, dissecando o dígito, com a ajuda de quem entende do assunto. E a primeira coisa que aprendi foi que este indicador compara os divórcios registados num ano com os casamentos celebrados nesse mesmo ano. Ora as estatísticas do INE revelam que os casamentos que acabam em divórcio duram em média 14 anos, ou seja, os 25 mil divórcios registados em 2012 referem-se, em média, aos casamentos de 1998. E como em 1998 se registaram 66 mil casamentos, foram 38% os que acabaram em divórcio, o que, convenhamos, é coisa bem diferente de 73,7%!
Aliás, analisando os números absolutos do divórcio, percebemos que o número de divórcios praticamente não se alterou ao longo da última década. Uma leitura completamente diferente de apontar para uma seta ascendente e deitar as mãos à cabeça.
Porque a seta no gráfico sobe vertiginosamente, lá isso sobe, não porque mais gente se separou, mas porque se registou uma quebra vertiginosa no número de casamentos, e de entre estes, dos casamentos pela Igreja. Esse sim, é o fenómeno novo, que a partir de 2000 parece marcar uma tendência do século xxi, a par do aumento do número de uniões de facto e dos nascimentos fora do casamento - talvez em breve alguém faça um estudo que permita perceber se essas relações são ou não mais duradouras do que as institucionalizadas, que agora só as minorias parecem desejar.
Curiosamente, o que se percebe também é que apesar da tendência para estilos de coabitação que não passam por uma relação com contrato formal, os divorciados parecem continuar firmes adeptos do casamento: das uniões celebradas em 2012, 19% dos homens, e 17% das mulheres já tinham sido casados anteriormente. E se as mulheres divorciadas que voltam a casar ainda são percentualmente menos que os homens, já recasam três vezes mais do que em 1995, vencendo porventura o estigma que tantas vezes as levou a aceitar manterem-se para sempre sozinhas, ou sozinhas com os filhos, para mal dos seus supostos pecados.
Jornalista

2 comentários:

Anónimo disse...

que é um erro comparar o nº de casamento de um ano com os divorcios desse ano já tinha aqui dito.
O metodo da jornalista também não é o mais adequado e dá resultados um bocado acima da realidade.
Também é um erro ver os nºs absolutos de casamentos de um ano e concluir daí automaticamente que essa é a baixa da nupcialidade porque a piramide demografica que temos indica uma quebra do nº de potenciais nubentes.
tambem os recasados inflacionam o taxa de divorcios, mas aqui o efeito é pequeno. Quem se casa e divorcia varias vezes está a inflacionar a taxa de divorcios.
Por fim o nº de casamentos civis é inflacionado porque muitos casais casam 1º pelo registo civil e só depois pela igreja. Alguns passado uns anos, mas outros só vivem realmente juntos depois do casamento catolico. Entretanto vão criando contas conjuntas, pedindo emprestimos para a futura casa.

ocni

Pedro Sá disse...

Ora, isto é apenas uma apreciação inteligente dos números. E ainda bem que há quem a tenha feito.