31 outubro 2013

a figura de tôlo

Considere um país cujo regime político é a democracia-partidária e que possui cinco partidos, A, B, C, D, E.

(Pode associar este país a Portugal e os partidos aos cinco maiores partidos portugueses, mas o argumento vale igualmente para qualquer país e qualquer número de partidos).

Considere o partido A e que se põe a todos os partidos (que respondem através dos seus respectivos presidentes) a seguinte questão.

-Sabe o partido A governar o país?

Comecemos pela resposta do partido B. Ele vai dizer que Não (caso contrário, o partido B não teria razão de existir). Os outros partidos respondem igualmente Não, excepto o próprio partido A que responde Sim.

O Não ganha por quatro votos contra um. O veredicto democrático à questão posta é: Não.

Considere agora o partido B e ponha a todos os partidos a questão:

-Sabe o partido B governar o país?

O veredicto vai ser igualmente Não e pela mesma margem: quatro a um.

Continue em relação aos partidos C, D, E.

O consenso democrático entre os partidos (cinco a zero) é que nenhum partido sabe governar o país.

Já viu, então, a figura de tôlo que você faz quando vota num partido?

15 comentários:

Francisco disse...

Isso não significa que nenhum partido saiba governar, mas que a verdade não está na maioria.

É possível aceitar a democracia e achar que a verdade não está na maiora? A mim parece-me o normal. Caso contrário os partidos perdedores mudavam de opinião e apoiariam o partido ganhador.

Anónimo disse...

Muito bem apanhado. :P

Anónimo disse...

Este raciocinio é falacioso!!! O que conta num sistema democrático não é o nº de partidos, são os votos que cada um recebe!!!
O PA, sabe muito mas não sabe fazer chouriços!!! Ah pois é!

Vivendi disse...

Demo-cracia no tapete.

Vivendi disse...

A dita dura
Em reunião do Conselho de Ministros, ouvi-lhe um dia, estas palavras:

«Há quem diga que sou ditador, mas não é verdade. Cumprir escrupulosamente a lei e integrar-me no seu espírito é minha preocupação permanente... Nem sequer me permiti, alguma vez, alterar ou revogar qualquer despacho de um Ministro, por mais que dele discordasse. Não tenho para tanto poderes legais, nem os quero, e duvido que, nos outros países, os Chefes do Governo se privem dessa faculdade. Quando não concordo com a orientação geral de um Ministro só me resta propor a sua exoneração ao Chefe do Estado».

Recorde-se que, ao tempo, nenhum decreto-lei poderia ser enviado para promulgação do Presidente da República e publicado no «Diário do Governo», sem que todos os Ministros o subscrevessem - prática que foi posta de parte logo que Salazar deixou de ser o Presidente do Conselho.

Anoto ainda que, como deputado, e mesmo quando simultaneamente presidia à Comissão Executiva da União Nacional, sempre na Assembleia Nacional, votei de acordo com os meus pontos de vista, e não raro tomei posições contrárias às do Governo, no plenário, e nas Comissões Parlamentares, sem que me fossem feitos quaisquer reparos.

Esta prerrogativa essencial, possível num regime apartidário, não o é num regime de partido único (não confundir, como é frequente, estes dois tipos diferenciados de regimes), nem tão-pouco num regime de partidos, o que se me afigura inadmissível quando penso na liberdade que os deputados devem ter para votarem sempre, e só, de acordo com o seu parecer e a sua consciência.

Hábil, realista, pragmático por conta e medida, sem nunca pôr em causa os valores essenciais da Constituição, Salazar sempre se empenhou na busca de soluções de equilíbrio e estabilidade. Daí a configuração pluralista dos seus governos, que integravam, por sistema, personalidades de formações e tendências ideológicas diversas ou mesmo alheias da política ou a esta avessas. E, quase sempre, eram minoria os ministros que se identificavam com o seu pensamento político, e mais raros ainda os filiados na União Nacional. Salazar sabia que a política era não só a arte do possível, mas também a de interessar e responsabilizar os homens e os grupos sociais no projecto político, em ordem a dar-lhe mais alargado consenso e maiores probabilidades de êxito.

Henrique Veiga Macedo

http://liceu-aristotelico.blogspot.com/2013/10/o-testemunho-de-henrique-veiga-de_30.html

marina disse...

a abstenção tb devia contar. já á volta de 50% do eleitorado dispensa o atestado de tolice. agora só falta que os outros 30% que não têm interesses directos ( os vitelos e vitelas devem ser uns 20% ) em que ganhe um dos empregadores , caiam em si :)

Anónimo disse...



Considere um país cujo regime político é a ditadura-partidária e que possui um partido, A.

(Pode associar este país à Coreia do Norte e o partido ao Partido Comunista da Coreia do Norte, mas o argumento vale igualmente para qualquer país e qualquer partido único).

Considere o partido A e que se põe a todos os afiliados (que respondem através do seu secretário-geral) a seguinte questão.
-Sabe o partido A governar o país?

Comecemos pela resposta do partido A. Ele vai dizer que Sim (caso contrário, um partido B teria razão de existir).

O Sim ganha por milhares de votos contra zero. O veredicto democrático à questão posta é: Sim.

Considere agora um partido B e ponha a todo o partido a questão:
-Sabe o partido B governar o país?

O veredicto vai ser claramente Não e pela mesma margem: milhares a zero.

O consenso democrático no partido (milhares a zero) é que o partido sabe governar o país.

Já viu, então, a figura de tôlo que você faz quando comenta posts como este?

D. Costa

Anónimo disse...

Não, D. Costa, você está a fazer batota, a violar as suas próprias premissas.

A sua premissa é que o regime político é de ditadura-partidária.

E depois você considera dois partidos, A e B?

Vá, não faça batota.

Abc.
PA

Anónimo disse...

Não temha dúvida, D. Costa.
Eu darei cabo da democracia-partidária por argumento racional fundado.
PA

Anónimo disse...

E fá-lo-ei com enorme prazer, porque a democracia-partidária é um mal, um grande mal. Basta olhar à sua volta (não é preciso ir ao estrangeiro).
PA

Cfe disse...

Curioso,

Geisel, presidente do Brasil na 2 metade da década de 70, defendia algo parecido.

Anónimo disse...

"A sua premissa é que o regime político é de ditadura-partidária.
E depois você considera dois partidos, A e B?" - PA

Confesso que o meu argumento estava um pouco atamancado (feito à pressa com algumas gargalhadas à mistura). Mas o Professor Arroja terá percebido a minha ideia.

No seu imenso arsenal o sarcasmo foi uma das armas mais eficazes utilizadas pelo iluminismo contra os teólogos do catolicismo. É um tema fascinante e hoje completamente esquecido.

De certa forma aprendi esses truques com esses mestres na arte (em especial Hobbes e Locke, mas também Hume e até Rousseau).

D. Costa


Ricciardi disse...

Em suma, num regime com um só partido nao se fazem perguntas a partidos porque estes nao existem, e o único a quem se pode fazer perguntas responde sempre que sim. Amen.
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Num sistema poli partidario, como o actual, várias sao as situacoes onde convergem dois ou mais partidos para o Sim.
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Por exemplo, o CDS e o PSD, nos dias de hoje. O PS e o PSD nos tempos do bloco central.
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O sistema actual é pérfido, nao porque tem partidos, mas sim porque os deputados eleitos sao meros carneiros de partido e a este devem obdiencia. Obdecem ao partido e nao ao circulo eleitoral que os elegeu. O mesmo é dizer que nao respondem ao povo, mas sim ao partido.
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Rb

Luís Lavoura disse...

Isto parece um daqueles paradoxos que em matemática se fazem mostrando que é impossível haver um sistema eleitoral perfeito.
É claro que na prática esses paradoxos não impedem que continue a haver eleições.

Cfe disse...

"o único a quem se pode fazer perguntas responde sempre que sim"

Pois mas o PA elimina a partidarização como existe agora, apesar de preservar o nome: partido. Na prática o partido único não é uma "parte" mas o "todo" então não faz-se uma pergunta a uma partido mas às pessoas.

Deixa de haver a rigidez estatutária a que as normas clubísticas da agremiação obriga.

Os grupos passam a formar-se consoante o fato/facto concreto, mudam e dissolvem-se após a extinção do mesmo e perante o surgir doutro fato (ou facto) diverso.