19 setembro 2013

democratas

Foi quando eu disse à V. que o principal problema de Portugal era a democracia partidária, e que daí é que derivavam todos os outros, como os económicos, é que ela ficou a olhar para mim de olhos muito abertos.

Eu gostaria de lhe contar um episódio recente, antes de entrar em generalizações.

Existe em Portugal um jornalista, que também é escritor, uma figura pública, chamado Miguel Sousa Tavares (MST, para os amigos). Recentemente, o MST deu uma entrevista a um jornal e disse que o Presidente da República era um palhaço e isso saiu publicado na primeira página do jornal.

A Lei portuguesa prevê que os insultos ao Presidente da República são punidos com pena de prisão. Acontece que o MST não só não foi para a prisão, como o caso nem chegou aos tribunais.

-Estás a ver a conta em que os portugueses têm a Lei, concluí eu.

Mas este não era o aspecto principal que eu queria fazer ressaltar. O MST é um socialista e um democrata, um social-democrata, uma ideologia também importada da Alemanha. Portuguese left-wing intelectuals eat all the shit that comes from Germany. Se nós telefornarmos ao MST - e podemos fazê-lo, se tu quiseres, porque eu conheço-o e ele vai-nos atender - a perguntar-lhe se ele é um democrata, ele vai responder enfaticamente que sim. Vai-nos dizer que, claro que é um democrata, toda a família dele é uma família com tradições democráticas, pais, avós, tios, primos e por aí fora.

Na realidade, porém, o MST não é um democrata. Porque um verdadeiro democrata não insulta um Presidente da República democraticamente eleito. As consequências daquilo que o MST disse acerca do Presidente são óbvias. O povo escolheu aquele Presidente da República. O Presidente a República é um palhaço. Logo, o povo não sabe escolher Presidentes da República, escolhe palhaços. (Fica-se a imaginar quem saberá escolher Presidentes da República, muito provavelmente o MST)

 Ele não acredita na democracia.Ele só aceita os resultados da democracia, quando são a seu favor, quando a democracia escolhe o seu candidato. Porque, quando a democracia escolhe outro candidato, ele não acredita nas escolhas do povo. É caso para tirar de lá o povo, e pôr o MST a escolher  os Presidentes da República.

Como conciliar esta contradição aparente,  um democrata que, afinal, não é democrata?

Não é difícil. Existe o MST que todos nós conhecemos, o MST público que escreve no Expresso, escreve romances, e comenta na televisão. Este é o MST democrata.

E depois existe um outro MST, ou alguém que age através dele, e que lhe diz ao ouvido em voz firme e poderosa, quase como um comando: "Não acredites na democracia partidária, porque esse regime político não é um regime universal, um regime que sirva para todos". Este é o MST não-democrata, o MST aristrocrata. Este MST, o verdadeiro, o genuíno, representa, no palco público, o personagem do outro, o MST democrata.

-Estás a ver, V., com democratas deste quilate não há democracia que resista.

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

O Pedro Arroja saberá que nos EUA é perfeitamente normal insultar-se o presidente da república de forma ainda bem pior do que em Portugal. E ninguém é acusado de não ser democrata por tal facto.

Vivendi disse...

De qts copos precisará o MST para se transformar?

Euro2cent disse...

> nos EUA é perfeitamente normal insultar-se o presidente da república

Isso não é verdade. É perfeitamente normal *caricaturar-se* o presidente. Pode-se insinuar que tem um relação de dependência com o "tele-prompter", ou que a certidão de nascimento dele é pouco verídica.

Mas ninguém lhe chama "ass-clown". É sempre, respeitosamente, "Mr. President", até porque o fulano é chefe das Forças Armadas, e pode mandar um drone nas fuças do malcriado (i.e. terrorista). Ou pelo menos desempregar permanentemente o atrevido.