18 fevereiro 2013

símbolo



Concordo com o Carlos Novais: Duarte de Bragança tem vindo, com o tempo, a revelar qualidades pessoais crescentes, que seriam insuspeitas há uns ano e que fazem dele um homem capaz de representar um país com elevação e sem dificuldade para si, nem desprestígio para os representados. Seria um bom rei, em suma. E eu, que nos últimos anos tenho vindo a descobrir os encantos da monarquia constitucional, ao ponto de hoje a considerar, de longe, a forma de estado mais compatível com o parlamentarismo e com a democracia liberal, não me desagradaria que Duarte de Bragança e a sua família desempenhassem, entre nós, esse papel. Acontece, porém, que o grande mérito da figura do rei, como chefe de estado constitucional, é que ele não tem que dizer nada, não deve dizer nada, não pode ter uma ideia sobre a política do país. Esse é, de resto, o segredo do seu poder: ser um símbolo vivo da comunidade. Como tal, ele tem de respeitar a pluralidade de opiniões e de sensibilidades, e, para tanto, só não manifestando as suas é que consegue manter-se equidistante e respeitado de e por todos. Também a questão da legitimidade não sufragada pelo voto democrático fica assim resolvida: os símbolos são; não se elegem nem são sufragados. E, por ser um símbolo e não um agente político activo, o rei consegue, na monarquia constitucional, granjear o respeito e a consideração de quase toda a sociedade. Mas, para tanto, tem que estar politicamente calado e não fazer pronunciamentos ou comentários políticos.

A força de um símbolo pode ser grande e poderosa. Então, se ele for um símbolo vivo e se, para além de desempenhar o elevado cargo que a Constituição lhe atribui, for um símbolo e um exemplo de vida para as pessoas comuns, terá muito mais força e muito mais poder do que qualquer chefe de estado republicano dotado de poderes de intervenção política. Será certamente muito mais constrangedor, perante o próprio, o país e os cidadãos eleitores, um primeiro-ministro ter de justificar a falência de um país, ou as suas promessas eleitorais desrespeitadas, a alguém que simboliza o país e a quem necessariamente deve respeito, até por nunca terem, nem nunca puderem vir a ter, qualquer disputa política, do que perante alguém que ele considera seu adversário, a quem só deve contas por escassa meia dúzia de milhares de votos em relação ao candidato derrotado.

14 comentários:

zazie disse...

Ele pode e deve fazer comentários políticos no sentido nacional da questão.

Seria bem melhor que qualquer idiota partidário que anda ao tacho.

Mas, não sei porquê, tenho ideia que quem pode borrar a pintura é o séquito de monárquicos.

Existem muitos que são pessoas excelentes mas também existem outros que são demasiado folclore brasonado.

Luís Lavoura disse...

A força de um símbolo pode ser grande e poderosa.

... sobretudo para os pobres de espírito.

muja disse...

Sim, porque para os ricos de espírito como o Luís Lavoura, basta um trafulha de meia-tigela também de espírito bem rico. Para quê um rei, quando se pode ter um Sócrates, o primeiro-ministro mais elegante, ou charmoso ou lá a puta que o pariu que o elegeram para ser.

Ou então um mumificado cerebral como essa grande figura, o comandante-chefe das Forças Armadas, o Presidente da República, que paira rentinho ninguém sabe muito bem por que artes sobre um lago cheio de merda.

Os ricos de espírito encomendam, os pobres pagam...

rui a. disse...

«Ele pode e deve fazer comentários políticos no sentido nacional da questão.»
Pode, enquanto for apenas o chefe da Casa de Bragança e pretendente à coroa. Se a chegar a assumir, deixa de porder fazê-lo, pelo menos numa monarquia constitucional. O princípio constitucional foi definido, há muito, pelos ingleses: «king can do no wrong», logo, para que não haja esse risco, não pode ser um agente político: a instituição ficaria em causa se ele tomasse partido de uns contra outros. Note, por exemplo, que por causa disto é que o discurso de final de ano e de ano novo do rei inglês, no qual ele se pronuncia sobre o «estado da nação» é integralmente escrito pelo primeiro ministro.
.
«sobretudo para os pobres de espírito.»
Vc. lá saberá do que fala.

muja disse...

Se é para ter Rei então que fale. Se não, então encomendem um de cera que sai mais barato, ou preguem o mumificado que lá está agora a okupar Belém à cadeira e chamem-lhe rei.

Deve falar e bem. E pode logo começar por mandar bardamerda tudo o que é partido e dizer que quer partidos novos sem ex-histéricos apalermados, o que significa sem 90% dos que neles mandam agora.

A seguir pode dizer que quer e vai mandar que se faça uma bandeira nova. Ou pelo menos diferente. Para mim era a do D. João II, já que estamos reduzidos ao território da altura. Podia ser que inspirasse alguma coisa de jeito. Tudo menos esta que além de feiosa já deu para tudo e o seu contrário.

Podia e devia fazer muito mais. Mas se não fizer estas duas coisas, também pode ir bardamerda.

muja disse...

Mas e porque é que hão-de ser os ingleses a definir o sistema pelo qual se há-de reger o Rei de Portugal?

Olhem que esta...




joshua disse...

Um post que brilha e subscrevo por inteiro.

zazie disse...

Rui,

Mas ele ainda não é rei e eu penso que o que devia ser mudado era a proibição constitucional.

Quanto ao post, já me esquecia, parabéns.

Anónimo disse...

"Acontece, porém, que o grande mérito da figura do rei, como chefe de estado constitucional, é que ele não tem que dizer nada, não deve dizer nada, não pode ter uma ideia sobre a política do país"

Rui,
O rei tem alguma coisa a dizer, quando fôr apropriado: Não.
É essa a sua principal função: dizer Não quando fôr apropriado.
PA

Duarte Meira disse...


Caro Rui A.:

Um rei reina, mesmo que quando não governa, e isso tem consequências, por mais difussa e inobserváveis que sejam momentaneamente. Observa-se no entanto que, quando convocado,o povo comparece em massa, como ainda há pouco no jubileu da rainha inglesa.

Agora, se reler a nossa muito equilibrada Carta de 26, verá que não se pretendia de modo nenhum "calar politicamente" o rei. O sr. Saldanha, primeiro, depois as facções, visíveis e invisíveis, é que tudo fizeram depois para calar os reis que queriam assumir a plenitude dos poderes da Carta (D. Pedro V, D. Carlos...).

Pedro Sá disse...

Nem pensar. Nem que fosse por uma questão de equilíbrio de poder. O poder do Primeiro-Ministro em monarquia constitucional está muito próximo do absoluto.

Pedro Sá disse...

bump

Anónimo disse...

Para termos um Rei calado, concordo: é melhor termos um de cera, ou, porque não?, um espantalho coroado.

rui a. disse...

"Um rei reina, mesmo que quando não governa, e isso tem consequências, por mais difussa e inobserváveis que sejam momentaneamente."
Sem dúvida, caro Duarte Meira. Mas é essa subtileza que faz a sua força, e que, infelizmente, não é compreendida nem pelos republicanos, nem pela maioria dos monárquicos, estes últimos, em Portugal, ainda presos a ideias passadas.

Cumps.,