Concordo com o
Carlos Novais: Duarte de Bragança tem vindo, com o tempo, a revelar qualidades
pessoais crescentes, que seriam insuspeitas há uns ano e que fazem dele um homem
capaz de representar um país com elevação e sem dificuldade para si, nem
desprestígio para os representados. Seria um bom rei, em suma. E eu, que nos
últimos anos tenho vindo a descobrir os encantos da monarquia constitucional,
ao ponto de hoje a considerar, de longe, a forma de estado mais compatível com o
parlamentarismo e com a democracia liberal, não me desagradaria que Duarte de
Bragança e a sua família desempenhassem, entre nós, esse papel. Acontece,
porém, que o grande mérito da figura do rei, como chefe de estado
constitucional, é que ele não tem que dizer nada, não deve dizer nada, não pode
ter uma ideia sobre a política do país. Esse é, de resto, o segredo do seu
poder: ser um símbolo vivo da comunidade. Como tal, ele tem de respeitar a
pluralidade de opiniões e de sensibilidades, e, para tanto, só não manifestando
as suas é que consegue manter-se equidistante e respeitado de e por todos. Também a
questão da legitimidade não sufragada pelo voto democrático fica assim
resolvida: os símbolos são; não se elegem nem são sufragados. E, por ser um
símbolo e não um agente político activo, o rei consegue, na monarquia
constitucional, granjear o respeito e a consideração de quase toda a sociedade.
Mas, para tanto, tem que estar politicamente calado e não fazer pronunciamentos
ou comentários políticos.
A força de um
símbolo pode ser grande e poderosa. Então, se ele for um símbolo vivo e se,
para além de desempenhar o elevado cargo que a Constituição lhe atribui, for um símbolo
e um exemplo de vida para as pessoas comuns, terá muito mais força e muito mais poder
do que qualquer chefe de estado republicano dotado de poderes de intervenção
política. Será certamente muito mais constrangedor, perante o próprio, o país e
os cidadãos eleitores, um primeiro-ministro ter de justificar a falência de um
país, ou as suas promessas eleitorais desrespeitadas, a alguém que simboliza o
país e a quem necessariamente deve respeito, até por nunca terem, nem nunca
puderem vir a ter, qualquer disputa política, do que perante alguém que ele
considera seu adversário, a quem só deve contas por escassa meia dúzia de
milhares de votos em relação ao candidato derrotado.
14 comentários:
Ele pode e deve fazer comentários políticos no sentido nacional da questão.
Seria bem melhor que qualquer idiota partidário que anda ao tacho.
Mas, não sei porquê, tenho ideia que quem pode borrar a pintura é o séquito de monárquicos.
Existem muitos que são pessoas excelentes mas também existem outros que são demasiado folclore brasonado.
A força de um símbolo pode ser grande e poderosa.
... sobretudo para os pobres de espírito.
Sim, porque para os ricos de espírito como o Luís Lavoura, basta um trafulha de meia-tigela também de espírito bem rico. Para quê um rei, quando se pode ter um Sócrates, o primeiro-ministro mais elegante, ou charmoso ou lá a puta que o pariu que o elegeram para ser.
Ou então um mumificado cerebral como essa grande figura, o comandante-chefe das Forças Armadas, o Presidente da República, que paira rentinho ninguém sabe muito bem por que artes sobre um lago cheio de merda.
Os ricos de espírito encomendam, os pobres pagam...
«Ele pode e deve fazer comentários políticos no sentido nacional da questão.»
Pode, enquanto for apenas o chefe da Casa de Bragança e pretendente à coroa. Se a chegar a assumir, deixa de porder fazê-lo, pelo menos numa monarquia constitucional. O princípio constitucional foi definido, há muito, pelos ingleses: «king can do no wrong», logo, para que não haja esse risco, não pode ser um agente político: a instituição ficaria em causa se ele tomasse partido de uns contra outros. Note, por exemplo, que por causa disto é que o discurso de final de ano e de ano novo do rei inglês, no qual ele se pronuncia sobre o «estado da nação» é integralmente escrito pelo primeiro ministro.
.
«sobretudo para os pobres de espírito.»
Vc. lá saberá do que fala.
Se é para ter Rei então que fale. Se não, então encomendem um de cera que sai mais barato, ou preguem o mumificado que lá está agora a okupar Belém à cadeira e chamem-lhe rei.
Deve falar e bem. E pode logo começar por mandar bardamerda tudo o que é partido e dizer que quer partidos novos sem ex-histéricos apalermados, o que significa sem 90% dos que neles mandam agora.
A seguir pode dizer que quer e vai mandar que se faça uma bandeira nova. Ou pelo menos diferente. Para mim era a do D. João II, já que estamos reduzidos ao território da altura. Podia ser que inspirasse alguma coisa de jeito. Tudo menos esta que além de feiosa já deu para tudo e o seu contrário.
Podia e devia fazer muito mais. Mas se não fizer estas duas coisas, também pode ir bardamerda.
Mas e porque é que hão-de ser os ingleses a definir o sistema pelo qual se há-de reger o Rei de Portugal?
Olhem que esta...
Um post que brilha e subscrevo por inteiro.
Rui,
Mas ele ainda não é rei e eu penso que o que devia ser mudado era a proibição constitucional.
Quanto ao post, já me esquecia, parabéns.
"Acontece, porém, que o grande mérito da figura do rei, como chefe de estado constitucional, é que ele não tem que dizer nada, não deve dizer nada, não pode ter uma ideia sobre a política do país"
Rui,
O rei tem alguma coisa a dizer, quando fôr apropriado: Não.
É essa a sua principal função: dizer Não quando fôr apropriado.
PA
Caro Rui A.:
Um rei reina, mesmo que quando não governa, e isso tem consequências, por mais difussa e inobserváveis que sejam momentaneamente. Observa-se no entanto que, quando convocado,o povo comparece em massa, como ainda há pouco no jubileu da rainha inglesa.
Agora, se reler a nossa muito equilibrada Carta de 26, verá que não se pretendia de modo nenhum "calar politicamente" o rei. O sr. Saldanha, primeiro, depois as facções, visíveis e invisíveis, é que tudo fizeram depois para calar os reis que queriam assumir a plenitude dos poderes da Carta (D. Pedro V, D. Carlos...).
Nem pensar. Nem que fosse por uma questão de equilíbrio de poder. O poder do Primeiro-Ministro em monarquia constitucional está muito próximo do absoluto.
bump
Para termos um Rei calado, concordo: é melhor termos um de cera, ou, porque não?, um espantalho coroado.
"Um rei reina, mesmo que quando não governa, e isso tem consequências, por mais difussa e inobserváveis que sejam momentaneamente."
Sem dúvida, caro Duarte Meira. Mas é essa subtileza que faz a sua força, e que, infelizmente, não é compreendida nem pelos republicanos, nem pela maioria dos monárquicos, estes últimos, em Portugal, ainda presos a ideias passadas.
Cumps.,
Enviar um comentário