20 dezembro 2012

o Bem Comum

Mas o sucesso biológico é o bem comum porquê, Joaquim? — Comentário do muja, aqui.


Quem sou eu? A mais velha pergunta que nos podemos colocar. Eu sou um ser pensante. E como ser pensante olho à volta e constato que não estou sozinho na Terra, há milhares de outros indivíduos que, na aparência, pouco diferem de mim. Também são seres conscientes que pensam e se colocam as mesmas interrogações do que eu.
No conjunto constituímos uma espécie: o Homo Sapiens, de resto como milhares de outros animais. Estudando as outras espécies verificamos que temos muito em comum, especialmente com os outros primatas, mas também com os mamíferos em geral. Nascemos, crescemos, reproduzimo-nos e morremos.
Independentemente do “sopro divino que nos anima”, partilhamos com todos os outros seres vivos os mesmos objectivos básicos — ‹‹Crescermos e multiplicarmo-nos›› (Génesis).
A razão humana é uma ferramenta extraordinária, mas as ferramentas não são um fim em si, mas apenas um meio. Um meio para quê?
Olhando para as outras espécies, para o comportamento dos seus membros e extrapolando para nós, concluo que só pode ser um meio para garantirmos o sucesso do Homo Sapiens no Universo. É para isso que estamos equipados (hardwired). É isso que procuram fazer todos os outros animais, com mais ou menos êxito. Precisamos de ser humildes para aceitarmos esse desígnio.
E se o aceitarmos torna-se muito fácil concluir que o Bem Comum é tudo o serve a eternização da espécie.
Penso que fui o primeiro a propor esta definição do Bem Comum, um conceito difícil de objectivar. A crítica de que se trata de uma definição simplória ou redutora pode ter algum efeito retórico, mas não passa daí enquanto os críticos não propuserem as suas própria definições, se possível evitando a tautologia (ex.: o Bem Comum é Deus, ou é tudo o que é Bom).
Definido o Bem Comum, podemos então começar a desbravar a Ética.

22 comentários:

Anónimo disse...

"Definido o Bem Comum, podemos então começar a desbravar a Ética."

Só que a definição de "bem comum" não é consensual. Se desbravarmos a "Ética" a partir de uma premissa falsa para que servem as conclusões?

Filipe

Anónimo disse...

Caro Filipe,
Deus não é consensual. A realidade não é consensual, há quem pense que tudo o que existe é fruto da nossa imaginação.

Anónimo disse...

Mas o Joaquim disse que o Bem não existe, como é que se propõe agora definir o Bem Comum.

Pronto, mas admitindo que mudou de opinião e que o Bem existe, a sua definição de Bem Comum necessita de ser concretizada: o que é que está incluído e o que é que não está?
Por exemplo, a bomba atómica faz parte?
Abçs
PA

Anónimo disse...

JC

Não estava a pensar num nivel tão elevado de abstração quando falei de ser consensual. Deus não é consensual mas JC (Jesus Cristo) já é. É fácil aceitar a sua existência.

Eu acho que nem sequer faz sentido discutir a Ética a partir da definição de bem comum. A Ética discute-se por si, o que é certo e errado, o bem e o mal, sem definirmos que o bem se discute a partir do "bem comum".

Esse "bem comum" aplica-se a todos os seres vivos, o Homem é um bem para as batatas e o míldio um mal.
A Ética aplica-se apenas ao Homem, o "bem comum" a todos os seres vivos.

Filipe

Anónimo disse...

Caro PA,
O Bem não me parece que exista em si, existe na consciência dos homens.

Anónimo disse...

Caro Filipe,
O Bem comum só se pode aplicar à espécie humana, a única que pode consecencializar esse Bem.

Anónimo disse...

A Vontade do Homem é que é a causa do bem ou do mal. Por si, o bem ou o mal são inexistentes.

muja disse...

V. ainda nao explicou bem Joaquim...

Olhando para as outras espécies, para o comportamento dos seus membros e extrapolando para nós, concluo que só pode ser um meio para garantirmos o sucesso do Homo Sapiens no Universo.

Mas o que é o sucesso? É reproduzirmo-nos como coelhos? Como micróbios? V. continua a confundir o sucesso genético com o nosso. Nós não somos os nossos genes!

Olhe, para mim, o Bem Comum é aquilo que permita a uma sociedade - que no nosso mundo se organizam (por enquanto) em nações - proporcionar a todos os seus membros, antes de mais, justiça. Onde cada um possa recolher os frutos do seu labor. Depois prosperidade, ou seja, o labor proporcionar efectivamente frutos. Depois livre, isto é, onde cada pessoa possa estar o menos condicionada possível apesar das escolhas que a vida inevitavelmente impōe.

Uma comunidade que proporcione isto a todos (os do passado e do futuro incluidos) os que nela se integram, ou para lá caminhe na medida do possível, pode dizer-se orientada para o bem comúm.

É o que penso.

Ricciardi disse...

«Mas o Joaquim disse que o Bem não existe, como é que se propõe agora definir o Bem Comum».
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O Joaquim não disse que o Bem não existia. Ele disse que o Bem não existe per si. Sendo assim, O Bem comum existe porque existem pessoas. E concretiza-se de formas diferentes consoante as experiencias, da história, da cultura e da tradição de cada povo, etc.
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O Bem comum não é, pois, indissociável de uma medida de convivência entre pessoas. Sem pessoas não existe Bem comum.
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E Deus, Esse, é aquilo que a cada momento achamos que Ele é. Já foi o Sol, a Lua, o Trovão e deixou de ser; já foi Krishna, foi El; foi Zeus; foi Mazda. Hoje é Deus.
Amanhã será outra coisa qualquer. O ponto não é definir o Deus das crenças religiosas (Esse é indiscutivel)- e cada uma tem o seu Deus particular-, mas antes definir o Criador. E a ciência, verdade seja dita, tem vindo a colocar Deus no seu devido e verdadeiro lugar, no Infinito dos tempos.
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Nada disto retira valor às religiões.
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Rb

Anónimo disse...

Portanto, um terramoto não é um mal.
PA

Ricciardi disse...

Um terramoto não é um Mal. Nem um Bem. As coisas não se medem de forma maniqueista.
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Mani, o grande dualista, tem seguidores:
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O maniqueísmo combina elementos do zoroastrismo, antiga religião persa, e de outras religiões orientais, além do próprio Cristianismo. "Possui uma visão dualista radical, segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: o Bem (luz) e o Mal (trevas) como entidades antagônicas em perpétua luz. Luz e trevas no sistema maniqueísta não são figuras retóricas, são representações concretas do Bem e do Mal. O Reino da Luz e o Reino das Trevas estão em permanente conflito. É dever de cada ser humano entregar-se a esse eterno combate para extinguir em si e nos outros a presença das Trevas a fim de poder alcançar o Reino da Luz, que é o Reino de Deus. No maniqueísmo, os homens "eleitos" irão purificar o Bem, com uma vida de castidade, renúncia a família, alimentação especial, etc.
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Como o pensamento maniqueísta está reduzido a um par de verdades antagônicas, implica em que aceitar o raciocínio do outro, discordante, significa deixar-se arrastar para o domínio do mal e ser por ele tragado. O maniqueísmo, portanto, se converte em uma prontidão de vigilância (paranóia) constante para não se deixar iludir com os "discursos sedutores".
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Santo Agostinho que inicialmente foi maniqueísta, depois de ter se afastado, escreveu em Confissões que, nessa doutrina "não tinha encontrado paz e apenas expressava opiniões alheias".
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Rb

Ricciardi disse...

Não é à toa que os geografos dizem benditos vulções, terramotos e tempestades que criaram as condições para um clima propicio à vida.
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Ora, se do Mal não pode advir um de Bem, então, nessa lógica (retorcida), tudo o que nos conduziu até às condições do presente foram tudo màs coisas.
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Está a ver?
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Rb

Anónimo disse...

Caro PA,
Um terramoto é um mal paraa quem?

Anónimo disse...

Caro PA,
Um terramoto é um mal paraa quem?

joserui disse...

Seja humilde Joaquim!... Lembre-se que também tem muito em comum com a mosca da fruta... tem mesmo!... -- JRF

joserui disse...

Mas o seu raciocínio falha logo pela base... a menos que se comece a colonizar rapidamente outros planetas, o seu bem comum ameaça tornar-se contraproducente... o excesso de população é uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta... designadamente com as consequências para as outras espécies e planeta em geral... a humanidade onde chega, comporta-se como um vírus que infecta tudo e mais cedo ou mais tarde vai sofrer as consequências e eventualmente mata o hospedeiro... -- JRF

joserui disse...

O bem comum é não moer o próximo... -- JRF

Anónimo disse...

"Um terramoto não é um Mal. Nem um Bem. As coisas não se medem de forma maniqueista."

totalmente de acordo

o maniqueismo se não estou em erro foi considerado heresia. temos de recuar a santo agostinho.

Anónimo disse...

"O bem comum é não moer o próximo"

hahahahahahah

Elaites

Anónimo disse...

Até arrisco que essa tendência para classificar tudo, por exemplo, o terramoto como um mal em si, é bastante Prot.

Ricciardi disse...

«Até arrisco que essa tendência para classificar tudo, por exemplo, o terramoto como um mal em si, é bastante Prot.» anónimo
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Não arrisca nada anónimo. Era aí mesmo que queria chegar.
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Rb

Anónimo disse...

Esta obsessão lembra-me o Bush filho, Metodista confesso, como classificou à uns anos os filhos da p… dos bombistas e amigos, como Eixo do Mal. Sempre me pareceu esquisita esta análise. Simples três palavras que dizem muito, dizem demasiado (deixo essa análise mais aprofundada a quem quiser). Á boa maneira prot. junta verdades com mentiras, tal como no filme O Exorcista. (Além do seu maniqueismo atroz.)

Á boa maneira cat. classifico-os simplesmente como filhos da p… que não merecem muita conversa. É uma filosofia mais campestre eu sei.

Quem diria que as coisas um dia encaixariam...