04 setembro 2012

serve para gastar

"Volte a escrever - dizia-me o Joaquim há dias pelo telefone. Aquilo está muito mais civilizado..."
"Sim, sim, Dr. Sá Couto. Eu sei, está muito mais civilizado. Eu tenho acompanhado. Está muito mais civilizado porque eu não estou lá".
 
Esta semana a Andaluzia foi a quarta Autonomia espanhola a pedir socorro ao governo central em Madrid para a salvar do afogo financeiro. Outras se seguirão. A Espanha tem muitas Madeiras.
 
E a notícia vinha a propósito. Durante o fim-de-semana, o Ricardo, que tem estado a fazer uma investigação de natureza histórico-económica acerca de Portugal, com vista à edição de um livro, comunicou-me algumas das conclusões a que tinha chegado. Uma delas era a de que, na época moderna, os períodos em que Portugal conseguiu prosperar economicamente foram sempre acompanhados de uma governação altamente centralizada. Deu como exemplos o período do Marquês de Pombal e o período do Estado Novo.
 
Eu não podia concordar mais com a conclusão. Na nossa cultura, não se pode dar autonomia financeira às Regiões (ou Distritos ou Municípios ou Freguesias ou Hospitais ou Universidades ou Empresas Públicas. A ninguém.). Arruinam o país. E aproveitei para lhe fornecer uma explicação cultural para isto, que me parece ser a explicação verdadeira, embora não esteja certo que ele a tenha perfilhado, nem é isso que importa.
 
A explicação é a seguinte. Portugal possui uma cultura feminina. Ao contrário dos homens, que vêem o dinheiro como um fim em si mesmo, que lhes dá poder, segurança, etc., as mulheres olham para o dinheiro de uma forma completamente diferente. Para as mulheres o dinheiro possui um valor meramente instrumental, serve para satisfazer necessidades concretas, por outras palavras, serve para gastar.
 
Por isso, nesta cultura feminina, pôr dinheiro nas mãos de autarcas  com plena liberdade para o gastar, já se sabe no que vai dar. Eles vão gastá-lo. Não quer dizer que o gastem mal, não é essa a questão aqui. Vão gastá-lo, ponto final. Alguns gastarão aquilo que têm e o que não têm. E quando tiverem gasto tudo, e estiverem aflitos, voltam-se para trás para o governo central para que ele lhes mande mais dinheiro. E, então, se se lhes der liberdade para eles se endividarem, já se sabe quem é que vai acabar a pagar as dívidas. Não há finanças públicas que resistam a isto.    

9 comentários:

José** disse...

Infelizmente, podemos ver todos os verões (há quanto tempo já agora ?) que não é na prevenção de incêndios que o dinheiro foi gasto.

Anónimo disse...

Mas uma das Consequencias/finalidades dos incendios é gastar + dinheiro nos equipamentos salarios nas estruturas dos bombeiros...

Rui Silva

Pedro Sá disse...

Desta vez tenho que lhe dar razão...em abstracto. O problema é depois na prática a burocracia imensa que essa centralização implica.

Pedro Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Portugal tem um problema de finanças públicas que levou à crise que vivemos, certo? Qual a percentagem da despesa que pertence às RA e às autarquias? Creio que não chegará aos 20%. De facto, a centralização é a salvação. Quanto ao resto nem vou comentar...

zazie disse...

Os caciques locais sempre fizeram isto. Desde a primeira República.

E gastavam para terem apoio. E tinham apoio por micro-escala, contra os "chefões da capital".

Basta aplicar isto a todas as escalas- os caciques gastam e têm votos da terra; os dos partidos, em maior escala, gastam e têm votos dos eleitores.

E os que venderam os bmsws e afins, em troca de empréstimos, gastaram para receberem de volta ainda mais.

Portanto, se isto é problema de mulher ou putas e chulos, não sei não

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

A centralização é uma necessidade natural porque Portugal é um país pequeno que nunca teve regiões.

E a coesão que manteve ao longo de todos estes séculos deve-se precisamente a isso.

André Miguel disse...

Um país pequeno com menos população que as grandes cidades deste mundo.
E regionalização para quê se já hoje o presidente da Câmara de Curral de Moinas não precisa de pedir autorização a ninguém para construir as rotundas que bem lhe apetecer ou levar os velhinhos todos da vila de excursão a Fátima?