04 setembro 2012

Não


Não
Por: Pedro Arroja

 

No modelo tradicional da família católica, a função prioritária da mulher é cuidar dos filhos e, pelo menos enquanto eles são pequenos, só ocasionalmente ela trabalha fora de casa. Compete ao homem auferir o rendimento que permita sustentar a família. O dinheiro ganho pelo homem é depois entregue à mulher para que ela possa satisfazer as necessidades da família.

Daqui resultam várias consequências culturais importantes. Mencionarei duas. A primeira e a mais importante é que, nesta cultura, a mulher tipicamente gasta mais do que aquilo que ganha, enquanto o homem gasta menos do que aquilo que ganha. A segunda é que para o homem o dinheiro é um fim em si mesmo, nele se realizando em parte a sua contribuição à família, enquanto que para a mulher o dinheiro é um meio - um meio para satisfazer as necessidades familiares.

Os países de cultura católica - como Portugal -, que é uma cultura feminina, agem em agregado segundo o comportamento feminino - tipicamente gastam mais do que aquilo que ganham, e e isso exprime-se através de um défice crónico da sua Balança de Transacções Correntes. É este défice que está na origem da crise actual.O dinheiro possui nestes países um valor instrumental, gasta-se enquanto houver para satisfazer agora esta necessidade, amanhã aquela. Quando o dinheiro se esgotar, pede-se mais ao homem porque é o homem que tem a responsabilidade de o arranjar.

O problema é se não há homem. Homem capaz de arranjar o dinheiro ou que a tempo diga: "Não. Basta de despesa". Neste caso, os países de cultura católica entram em situação de desgoverno, gasta-se sem rei nem roque, e é nesta situação que eles agora se encontram - Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, mais a Ortodoxa Grécia que prossui uma cultura cristã muito próxima do Catolicismo.

Quando afirmo que os países católicos possuem uma cultura feminina refiro-me à cultura popular. É o povo que possui sobretudo valores femininos. Porque a elite, essa, caracteriza-se precisamente por possuir valores sobretudo masculinos, os quais estabelecem o equilíbrio com os valores femininos do povo.

E que classe de homens, na cultura católica, constitui o paradigma dessa elite possuindo os valores viris que são indispensáveis à sua governação? Os padres católicos e, em primeiro lugar, o Papa, que os representa a todos. O Papa, e os padres em geral, são homens servindo uma figura de Mulher -a Igreja -, e, por força do seu código de conduta, são homens em estado de virilidade permanente.

O paradigma da elite católica é o clero. Sem homens na governação que largamente reproduzam os valores e os comportamentos do clero - que são valores eminentemente masculinos - Portugal nunca será governável. Salazar conseguiu governar bem o país porque tinha muitas semelhanças com um padre católico. Foi educado num Seminário. Nunca casou nem teve filhos, mas dedicou a sua vida a servir uma figura de mulher - a Nação portuguesa. Falava pouco e aparecia poucas vezes. Exercia a sua autoridade de modo distante. Era austero, gastava menos do que aquilo que ganhava. E tinha a autoridade para dizer Não - um Não que era final e definitivo.

Sem um homem com esta capacidade suprema e absoluta para dizer Não nenhuma sociedade de cultura católica alguma vez será governável de forma duradoura. Na realidade, é esta capacidade para dizer Não de forma final e definitiva o principal atributo dos poderes do Papa. Sem ela, nem mesmo a Igreja Católica alguma vez seria governável.
(Publicado no jornal "A Ordem")

35 comentários:

Anónimo disse...

A Felicidade pela Renúncia

"A felicidade é um estado de satisfação da alma, expressão de harmonia total entre as nossas aspirações e as realidades da vida.
E por isso julgo mais simples atingir a felicidade pela renúncia do que pela procura e satisfação de necessidades sempre mais numerosas e intensas.
A busca da felicidade exige, com efeito, supomos nós, um contínuo estado de insatisfação."

António de Oliveira Salazar, in 'Férias com Salazar'

muja disse...

Mas porque é que a mulher é como é? O mesmo para o homem.

O que é que faz a cultura masculina ou feminina?
De maneira estão esses arquétipos intrínsecos na cultura?

Ou são apenas nomes de conveniência - etiquetas, como X ou Y - para duas maneiras diferentes de interpretar e viver a realidade?

Porque não chamar-lhes cultura conservadora ou progressista, por exemplo?

Isso é que eu não entendo. Se o masculino/feminino é uma analogia ou se tem um significado mais profundo. E se tem, qual é?

Anónimo disse...

Não Temos um Projecto de País

"Mas a realidade é esta: não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa? Os governos todos navegam à vista da costa e parece que ninguém quer pensar nisto, ninguém ousa ir mais além."

José Saramago, in "Entrevista revista Visão, 2003"

Tiago Mestre disse...

Uma governação centralizadora tenderá para 2 regimes de governo: ou fascismo ou comunismo.

Em algumas sociedades, tendencialmente mais protestantes, se o modelo cnetralizador e os políticos as cativarem, até vão na conversa. Mas depois dá asneira porque afinal o monstro ideológico estava escondido e revela-se em todo o seu esplendor.

Em Portugal, o povo, antes de ser católico, já era tendencialmente livre com jeitos de libertino. Até ao século XIII foi mais ou menos assim.
O catolicismo vingou em Portugal porque se adaptou razoavelmente bem à nossa cultura. Não a aviltou, respeitou os costumes locais, tentou responder aos anseios e medos do povo, e a coisa até resultou.

De seguida começou a manipulação, com a importação de reis estrangeiros, a Inquisição, o Absolutismo, o Renascimento, e mais tarde a própria Ditadura.
O povo ia fugindo para as recentes colónias como podia, sobretudo para o Brasil, por não mais suportar esta ingerência em terras que tanto custaram a conquistar e a amaciar séculos antes.

Para que todos percebamos: Quando alguém no poder julga que sabe o que é melhor para os portugueses e atua nesse sentido coarctando os seus movimentos quotidianos, o português começa a saltar fora.
As políticas até podem ser com a melhor das intenções, mas não resulta.
Só nos vamos deixando manipular se nos oferecerem dinheiro a troco de nada, que é o mesmo que nos venderem liberdade a crédito. Mas ei, que se lixe o futuro, o presente é que conta.

Somos assim mesmo, e ainda bem que o somos, porque a verdadeira aspiração do homem é ser livre e não ser rico.
Ser rico é dominar o TER, ser livre é dominar o SER.
O TER só interessa como forma de sustento e suprimento de necessidades, o tal instrumento que as mulheres atribuem ao dinheiro.

Qual é que preferem?

Trocar liberdade por organização económica e social (leia-se protestantismo) é querer vestir um casaco que não serve a Portugal. Há séculos que andam a tentar impingir esse modelo ao povo, e este, sistematicamente rejeita-o.

Eu considero-me um protestante nas minhas decisões individuais e empresariais (e julgo até ter algum sucesso nessa matéria).

Mas em terras de católicos, não são os protestantes que fazem a Primavera, e quer gostemos ou não desta evidência, temos que respeitar a força da nossa cultura para não desesperar nem enganar o próximo.

Todos gostaríamos de ser mais ricos e mais produtivos como o é a Alemanha (quem não quer), mas o custo que isso traz para a nossa liberdade é simplesmente insuportável.

Entregar dinheiro aos políticos para eles agirem como mães não é um problema nem dos políticos nem por agirem como mães, mas antes um problema de quem lhes arranja o dinheiro e não pede responsabilidade na sua gestão.
Retirava-se o dinheiro e assunto arrumado. Eles que fossem pedir o dinheiro aos cidadãos da sua comunidade local, e eleitos e eleitores que se entendessem.

Preferimos ser livres a estar certos, já dizia Agostinho da Silva

Tiago Mestre

Anónimo disse...

Pensar o meu país

"Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave de coco, mas que assume a gravidade e o ridículo que vier nela. Nós somos sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguista, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco — e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

Anónimo disse...

"Isso é que eu não entendo. Se o masculino/feminino é uma analogia ou se tem um significado mais profundo. E se tem, qual é?" muja
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Bem, raramente encontro nos comportamentos dos portugueses os putativos elementos que o PA diz serem femininos. Qunado ele diz que algm comportamento é claramente feminino, é muito raro estar de acordo.
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Nem consigo ver a nacao gaja, nem a igreja dama de alguem. Nem acho que a mulher tipica nao faca uma gestao muitissimo mais cuidada dos dinheiros da casa. Ate acho contrario, que os homens tipicos tradicionais esbanjam a massa logo o primeiro dia na tasca e no carro e sao as mulheres que governam e gerem as necessidades da casa. E até é mais notorio esse comportameno nos paises catolicos mais pobres. O homem desperdica, embebeda-se, vai as meninas, paga rodadas, vai ao futebol enquano tem dinheiro. As mulheres governam-se com pouco e gerem o pouco como nenhum homem é capaz.
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Rb

muja disse...

Oh Rb, eu até tenho tendência a concordar consigo, mas não posso deixar de oferecer aqui um argumento contrário. Uma manifestação popular de apoio à tese do Prof. Arroja:

(é logo a primeira)
http://www.youtube.com/watch?v=8_y_0t-dxng

muja disse...

E para o Tiago Mestre

Para que todos percebamos: Quando alguém no poder julga que sabe o que é melhor para os portugueses e atua nesse sentido coarctando os seus movimentos quotidianos, o português começa a saltar fora.

Então e agora? Ninguém coarcta os movimentos quotidianos a ninguém. E os portugueses saltam fora que nem pipocas a saltar fora do tacho.

Nunca os portugueses foram "tão livres". Não é este o regime da "liberdade"?

O catolicismo vingou em Portugal porque se adaptou razoavelmente bem à nossa cultura. Não a aviltou, respeitou os costumes locais, tentou responder aos anseios e medos do povo, e a coisa até resultou.

Em que país é que isso não aconteceu? O catolicismo vingou em todo o lado. E em todo o lado desalojou o paganismo. Para o fazer teve que incorporar muitas tradições daquele. E então?


Mas ei, que se lixe o futuro, o presente é que conta.
Somos assim mesmo, e ainda bem que o somos, porque a verdadeira aspiração do homem é ser livre e não ser rico.


V. é um imbecil, então. Serve-lhe para quê, a liberdade? Para ser mais uma barata tonta que anda aí? A "viver no presente"?
V. aplica o mesmo princípio à empresa de que é sócio? Claro que não aplica. Então para que é que vem arengar com essas tretas? Não é bom para si mas é para os outros?

Não diz coisa com coisa é o que é. E do que diz, pouco se aproveita...


Anónimo disse...

pois muja, mas aquilo era penas para dizer que qundo o homem diz " basta de despesa", nem sonha que despesas tem a casa. A mulher, que é fina como um alho, comeca por relatar as compras que efectuou e em primeiro lugar aqelas que aproveitam ao homem - a cerveja, o vinho, a revisao do carro, a reparacao do motor do poco, o presunto, etc - nessa altura o homem fica desarmado. Ainda ela nem comecou e ele ja percebeu aonde vao para as contas finais. Ele nao vai querer que a mulher sugira cortes no vinho. Portanto cala-se.
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Uma familia tipicamene portuguesa tradicional ou italiana.
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E isso quer dizer que sao as sociedades que o PA diz serem femininas aquelas que na verdade sao masculinas. Que nao sabem gerir dinheiros que recebem. Porque as mulheres sabem gerir os dinheros da casa.
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Rb

Anónimo disse...

Mas considero redutor reduzir a questao a uma dualidade masculino vs feminino. Nao me parece que isso possa ser aferivel nas sociedades. É talvez uma frma que o PA encontrou de colar uma teoria com um aspecto, entre milhares, que ele encontra na realidade que ve. Se substituir as palavras masculino por magro e feminino por gordo as cnclusoes podem ser as mesmas. Encontramos sempre padroes em qualquer grupo que isolamos.
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Os magros veem o dinehro como um fim em si mesmo ao passo que s gordos veem o dinheiro como um meio para satisfazer as necessidades calóricas do seu coprpo.
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Quem diz gordos e magros, diz outra coisa qualquer.
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Rb

muja disse...

Pois mas é isso mesmo que eu gostava de saber!

Até porque isto tem relação com a opinião dos mais próximos da neotontice que andam aqui, de que o privado é que é bom e público é mau...

Ora se o homem ganha o dinheiro, só o consegue fazer porque tudo o mais na sua vida é provido pela mulher (eu que o diga, que tenho de fazer tudo sozinho).

Na óptica daqueles neotontos, o público seria a mulher. Que gasta o que tem e o que não tem e não produz nada. E o privado seria o homem, coitado, que se esfalfa a trabalhar para chegar a casa e ouvir a mulher dizer que o dinheiro não chega...

Da mesma forma, não poderia a teoria do Prof. ser enunciada em termos de sociedades privadas e sociedades públicas? Mas a verdade é que subsiste sempre um dicotomia contrária subjacente aquela que se escolha.

A sociedade feminina que afinal é masculina, como diz o Rb, ou a pública que afinal é privada.

Era porreiro que o Prof. elucidasse aqui o pessoal!

Tiago Mestre disse...

Ei Mujahedin, calma meu caro!

Achas que estou aqui a comentar e a dar o meu melhor só para ser incoerente e atirar umas tretas no mundo da blogosfera?

Tento transmitir a quem me lê a melhor interpretação que consigo ter da realidade, do mundo e da sociedade. (que pode ser fraca, sem dúvida)

Estou a ver que é complicado defender a liberdade (tanto social como económica), sabendo que tal direito natural "legítima" muitos comportamentos desviantes que tanta gente como tu acha que está na raiz dos nossos problemas.

Respeito a tua posição, e de certa maneira compreendo-a.
Até acho que já fui muito mais da tua opinião de defender para a sociedade mecanismos que salvaguardassem o futuro atuando no presente.
Digo isto porque em tempos senti-a como sendo a minha solução para a sociedade, que refletia as minhas convições e os ideais a que aspiro.

Mas isso, para a minha compreensão da sociedade, não conta nada, zero. Aliás, até estorva, porque só queremos ver com a lupa que julgamos ser a melhor: a nossa, claro!

O que verdadeiramente conta é tentar compreendê-la tanto quanto possível sem lupas nem ideias preconcebidas. Humildemente, sem juízos de valor, e perceber que "casaco" ideológico e político mais se ajusta a este povo tão complexo mas que, por portas e travessas, lá se vai aguentando na sua forma de ser e na manutenção (muito específica) da sua soberania.

Te garanto que fiquei abananado quando percebi que a nossa cultura era muito diferente daquilo que eu acreditava ser o "melhor" para ela e que eu incorporo em muitos dos meus comportamentos. Tive que engolir o sapo e reconhecer que meti a carroça à frente dos bois.

A minha empresa, que está muito à minha imagem, é, julgo eu, uma máquina com desperdício quase zero, super organizada e com toda a gente a não se desviar um milímetro. Aliás, todos sabem o seu destino quando vão à berma porque simplesmente não vacilo. Dou muita liberdade, mas exigo de tal forma que a malta não tem outro remédio. Se assim não fosse, no contexto atual, já tinha ido ao charco. Foi a minha veia protestante a torná-la a máquina organizada que ela é hoje. Sinto-me orgulhoso quando vejo o balanço, os rácios e os mesmos clientes de há muitos anos.

Mas Mujahedin, temos que reconhecer que não é esta a força maioritária. O português, genericamente, distrai-se com outras coisas, perde-se por outras coisas, foge às decisões difíceis e contorna os obstáculos, apaixona-se por coisas que sabe que à partida poderão trazer dissabores, perdoa e assiste mesmo aqueles que não merecem, mas que por amor ao próximo não consegue resistir.

Não serás tu também um bocadinho assim em algumas decisões quotidianas que tomas?

Reconheço que há uma beleza espiritual em tudo isto, à qual eu sou geneticamente um bocado alérgico, mas que nos identifica como povo de uma forma muito própria e que nos diferencia do resto da Europa (somos e seremos sempre mais desorganizados e portanto mais pobres do que eles)

Em relação à liberdade de que hoje usufruímos, ela não vem acompanhada da respetiva consequência. Ou seja, se eu faço asneira, tenho que pagar por isso, e se ganho mérito em qualquer área, devo ser recompensado.
Agarrada à liberdade tem sempre que vir a responsabilidade.
Para sermos livres temos que saber as consequências daquilo que fazemos, e se mesmo assim quisermos continuar a "marrar" na mesma parede, isso é lá connosco. Desde que assuma as consequências da asneira, o assunto é do meu foro.

Como já percebeste, o regime que temos hoje promove não a liberdade mas a libertinagem, promove as asneiras, e depois pede a terceiros que as paguem, legitimando o prevaricador e "socializando" os danos causados pela comunidade que nada tem a ver com o assunto.

Isto não é liberdade. Nem para quem prevarica, nem para quem paga as favas.

Estamos ou não estamos de acordo?

Anónimo disse...

Esta dualidade masculino/feminino faz sentido quando se entende o conceito de inconsciente colectivo formulado por Carl Jung.

Não sou nenhum psicanlista nem «perito» na obra de Carl Jung nem nesta questão dos arquétipos mas com base no que sei acho formidável esta teoria do Professor Arroja. Para onde quer que olhe na nossa sociedade vejo como as teorias do Professor se comprovam.

Há aqui material para livro!

Zephyrus

muja disse...

Estamos em parte.

Mas eu não sou um fanático da liberdade. Nem a confundo com sistemas políticos ou ideologias.

Estou a ver que é complicado defender a liberdade (tanto social como económica), sabendo que tal direito natural "legítima" muitos comportamentos desviantes que tanta gente como tu acha que está na raiz dos nossos problemas.

Pois é. E é-o sobretudo porque uma coisa não tem que ver com a outra.
Mas não ponha o carro à frente dos bois, como disse. Como é que sabe que eu acho que há comportamentos desviantes e que esses (incógnitos) comportamentos são a raíz dos nossos (nossos, de quem?) problemas?

Se se refere aos problemas da nação, de Portugal, o que eu acho que a raíz dos problemas é tão simplesmente uma questão de moral. E básica. Nada de filosofias elaboradas.

A questão é esta: quem devia servir a nação, não a serve. Serve-se dela para proveito próprio.

Se lhe quiser chamar comportamento desviante, chame. Eu chamo-lhe comportamento imoral.
Tudo o mais, no meu entender, é secundário no que respeita a causas dos nossos problemas.

Mas fala V. em liberdade. Ou liberdades. Pois bem. Do meu ponto de vista, não há verdadeira liberdade enquanto esta situação persistir. A nação não é livre como está. Acho que os propósitos em nos encontramos em relação ao estrangeiro ilustram suficientemente a minha afirmação.

Agora pergunto. Quem é mais livre? Aquele que estando em aparente liberdade, sabe que vai amanhã para a cadeia; ou aquele que, estando na cadeia hoje, sabe que amanhã será libertado?

Eu acho que é o segundo. Como tal, ainda que gozemos de liberdade aparente, ou melhor, a tenhamos gozado nos últimos 40 anos sensivelmente, a verdade é que não o somos. A nação - os que fomos, somos e havemos de ser - por agora não é livre. São livres os que agora vivem para se debocharem à vontade pela rua fora, para se vestirem das formas mais abstrusas, de terem os comportamentos mais ignóbeis - enfim, até de parecerem uma sociedade corrupta até ao âmago.
Mas a nação, o povo, Portugal não é livre. Porque quem não lhe garante a si, que ao comportar-se dessa maneira, a nação não está, apenas e só, a cumprir a vontade de alguém que lhe é exterior?

E aqui entra a parte do presente e do futuro. Todos nós nos podemos achar muito livres agora, mas com toda a liberdade que temos e tivemos não fazemos e fizemos o nosso futuro, e o futuro dos que depois de nós vierem, menos livre? Ficamos todos, afinal, menos livres.

(...) temos que reconhecer que não é esta a força maioritária. O português, genericamente, distrai-se com outras coisas, perde-se por outras coisas, foge às decisões difíceis e contorna os obstáculos, apaixona-se por coisas que sabe que à partida poderão trazer dissabores, perdoa e assiste mesmo aqueles que não merecem, mas que por amor ao próximo não consegue resistir.

Não serás tu também um bocadinho assim em algumas decisões quotidianas que tomas?


Pois hei-de ser. Mas quem - no mundo inteiro - assim não é? O Tiago não está a falar de portugueses. Está a falar de pessoas.
Dir-me-á que, entre nós, existe maior propensão para esses comportamentos que descreveu. Não sei se concordo, mas propensão, seja feminina ou genética ou divina, não é fatalidade.

muja disse...

Reconheço que há uma beleza espiritual em tudo isto, à qual eu sou geneticamente um bocado alérgico, mas que nos identifica como povo de uma forma muito própria e que nos diferencia do resto da Europa (somos e seremos sempre mais desorganizados e portanto mais pobres do que eles)

Organizações e formas de organizar, há muitas. E não é o ser desorganizado (com tudo o mais que isso e V. implicam) que nos identifica como povo.
O que nos identifica não pode ser adequadamente descrito por texto. Tanto em poesia como sobretudo em prosa, requer o talento genial de um Camões ou de um Camilo para lhe capturar uns traços apenas. Todos esses exemplos de como somos piores que os outros (que quase sempre se referem a coisas triviais) e que isso faz parte de nós soa-me a desculpa esfarrapada de gente indolente que procura manter um certo statu quo de indolência e irresponsabilidade que de certa forma lhe pode aproveitar mas que prejudica todos os outros. Eu não sou assim, e conheço muitos que assim não são. Portanto, não somos todos assim. E menos seríamos quanto menos o fôssemos.

De resto, em relação à responsabilidade, estamos de acordo. Falta, de facto. Mas não é essa uma das tais coisas que "faz parte de nós" ?

Tiago Mestre disse...

Mujahedin, desde que comecei a ler Agostinho da Silva que comecei lentamente a tentar perceber o "outro lado" da nossa cultura, e como os tais defeitos que referes e que eu fiz alusão (sermos mais desorganizados e mais pobres do que os colegas do norte da Europa) não são mais do que apenas características que identificam o povo no seu coletivo e que consubstanciam méritos e forças que também são intrínsecos a nós e que já não são partilhados pelos colegas lá de cima.

É verdade que não tenho capacidade para fazer um Tratado da Cultura Portuguesa, isso fica para os génios literários, e cheira realmente a indolência quando nos aventuramos nesta matéria, também concordo.

Mas sinto que posso útil a tentar vivê-la, a tentar compreende-la e a não partir de lupas erradas na sua análise e na avaliação das suas forças e das suas fraquezas para que alguma resolução e ideia dali possa sair ( a tal indolência)

Para que nós emitamos uma ideia sobre qualquer coisa, convêm termos estudado essa mesma coisa o melhor possível e sob as mais variadas perspetivas.


Se te apetecer, há no you tube umas entrevistas com o Agostinho, realizadas em 1990: conversas vadias.
Obra literária e filosófica ele tem muita, não vale a pena referir aqui.

Aquilo causa comichão ao início, mas pode ser que entranhe

Anónimo disse...

O Sr. Professor Arroja-se, o Cabeçudo, anda a ler as crónicas femininas do cabeleireiro da Zazie e, zás!, fascinou-se com o Yin-Yang. Com indiscutível afinco esforça-se para encontrar no infinito mundo do bairro onde mora, os limites onde o Universe escorrega para Nada. E comove-se num misto de pavor e pia adulação.
Porque não tenta antes a JSD?
Populaça, regressado de longínqua peregrinação.

Anónimo disse...

Por onde andam as gajas que costumam comentar aqui?

A sua ausenci deita por terra as teorias do prof.

Camisa disse...

Bem-vindo caro Pedro Arroja e continue a escrever por favor... Thinking outside the box é sempre uma lufada de ar fresco na tradicional dicotomia de tira estado mete estado que grassa em Portugal...

Fernanda Viegas disse...

"Por onde andam as gajas que costumam comentar aqui"? Anónimo das 9:47 a.m.

Pela parte que me toca: Presente!

Estou genericamente de acordo com o diagnóstico que o Prof. Arroja faz da sociedade portuguesa, mas não prescrevo a terapeutica.

Además:
"As ideias dos economistas e dos filósofos, quer quando estão certas quer quando estão erradas, são mais poderosas do que geralmente se pensa. Na realidade, o mundo é governado por pouco mais" - J.M Keynes

Cfe disse...

Prof. Arroja,

Deixe para lá os comentários mal educados e continue a escrever...

José** disse...

A idéia importante a reter neste texto está no título : é a falta de um poder sensato que diz Não! A metáfora homem-mulher é secundária.

marina disse...

até podemos observar as coisas com esses óculos : um homem inserido numa soc. feminina não significa que seja uma mulher , continua com a sua falta de pensamento concreto .. assim temos temos que , ao contrário da mulher mesmo , ensinada a gerir orçamentos estabelecendo prioridades ( comida primeiro ,refeições a horas para os filhos , coisas e conforto da casa depois , maquilhagem por último -:)) , o homem gasta em brincadeiras , nomeadamente, estádios , rotundas , estradas e magalhães e variadísimos equipamentos muitooo modernos e giros quase sem utilidade prática e de dispendiosa manutenção.

muja disse...

Tiago,

eu não acho que tenhamos esses defeitos.

Acho que esses defeitos não fazem parte da nossa cultura e que se devem, sobretudo, a um estado geral de abandalhamento de que vem o país sofrendo progressivamente de há 40 anos para cá.

Quando tudo o mais se abandalha, as pessoas abandalham-se também. Se tiver dúvidas, faça a experiência na sua empresa.

Portanto, essa teoria de que "ah somos assim e tal" comigo não pega. Esse neo-portuguesismo é vício "democrático" que se arranjou. Porque, infelizmente, quem instaurou a "liberdade" "esqueceu-se", como diz e bem, de instaurar (ou preservar) a responsabilidade.

Anónimo disse...

confesso que não li, mas comento. Li a 1ª frase aonde diz que na família tradicional católica a mulher não trabalha...
é que raramente me interessam ler coisas escritas por alienados... na família tradicional católica todos trabalham, na sociedade rural tradicional a mulher trabalha e a valorização do trabalho, do homem e da mulher, é uma originalidade cristã em relação ao passado greco-romano, em que os indivíduos da classe mais elevada se orgulhavam de não trabalhar, entendendo normalmente o trabalho por trabalho manual...
Já nas sociedades cristãs, a começar pela católica, todos têm o dever de trabalhar.
O resto já não me dei ao trabalho de ler, efabulações de alguém que deve ter origem numa família bem mais abastada que o povo, que nunca me misturou com o povo e obviamente não o conhece. Fantasias arrojadas, com muita altura mas sem raizes.

Leopardo

zazie disse...

Lá vem outro com a pancada da luta de classes.

Palerminha: o PA até precisou de bolsa da Gulbenkian para estudar.

zazie disse...

http://portugalcontemporaneo.blogspot.pt/2011/04/foi-por-causa-da-pide.html

muja disse...

Ai ca burro!

V. não leu o resto, e por isso faz semelhante figura...

No modelo tradicional da família católica, a função prioritária da mulher é cuidar dos filhos e, pelo menos enquanto eles são pequenos, só ocasionalmente ela trabalha fora de casa. Compete ao homem auferir o rendimento que permita sustentar a família. O dinheiro ganho pelo homem é depois entregue à mulher para que ela possa satisfazer as necessidades da família.

Onde é que diz que a mulher não trabalha? Cuidar dos filhos, satisfazer as necessidades da família, cuidar da casa e ainda trabalhar ocasionalmente fora de casa, não lhe parece trabalho suficiente?

Dá-me ideia que se há alguém afastado do povo é o caro felino (mas só de nome)...

PS: as famílias "abastadas" não fazem parte do povo? Agora para se ser do povo tem que se estar no escalão de IRS certo... qual é o escalão a partir do qual já se não é do povo?

Anónimo disse...

Vocês também devem ter nascido em família com níveis económicos bem acima dos normal do povo. Nas classes baixas (a maior parte do povo), a mulher não trabalhava ocasionalmente fora de casa, trabalhava sistematicamente. Nas classes mais remediadas é que o tipico era aquele que o PA descreve e voces reconhecem.
E se o PA conhecesse o povo (ou vocês) saberia que normalmente é o homem que desperdiça mais que a mulher. Nas família abastadas é que a mulher é mais consumista. Em 20 anos de voluntariado numa instituição que procura ajudar as famílias mais pobres conheci e conheço muitas famílias pobres, muito pobres. Na sua maioria estão nessa situação devido à desestruturação familiar, em trocos, porque o homem/pai pensa mais em si mesmo que no resto da família, gasta bastante no café, bebe demais (ou consome droga), etc. É rara a família que passa necessidades graves quando o homem
tem um comportamento responsável (normalmente casos de doença). Normalmente o despesismo nas famílias das classes mais baixas é do homem, não da mulher.
Dizem também os livros e a minha observação empirica confirma-o, que em qualquer sociedade, quando pode, a mulher tende a comprar pequenos luxos frequentemente e o homem grandes luxos ocasionalmente. Ou seja, a mulher compra hoje uma peça de roupa que não precisa, para a semana quer ir jantar fora, passado uns dias quer ir ao cinema, etc... O homem compra um carro caro.
Estudem antes de abrir a boca.

Leopardo

zazie disse...

V. está a confundir o que se passava no campo com o que se passava na cidade.

O PA deu um exemplo da pequena burguesia urbana. Era assim.

Mas também havia muitíssimas mulheres a trabalharem nas fábricas, em escritórios, em serviços e no campo, trabalhavam todos.

zazie disse...

E que idade é que v. tem, já agora?

Isto reporta-se aos anos 50, 60.

zazie disse...

E era um facto que o homem era o chefe de família a quem competia sustentá-la.

Era esse o espírito, mesmo que a mulher também trabalhasse.

O que não existia era a ideia de carreira feminina acima de ser mãe.

zazie disse...

Quanto ao resto concordo. Nas classes baixas os bêbados sempre foram eles e elas é que faziam de patroas.

Nas altas gastam todos. Eles chamam investimento, elas chamam-lhe muito mais coisas.

zazie disse...

Mas, em Portugal houve uma tradição de poupança e essa fazia parte de gerações que estão a acabar.

No poupar é que está o ganho. Era um lema de Salazar e poupavam tudo. A começar pelo gás e electricidade.

Ninguém tinha as luzes todas acesas de uma casa como agora é hábito.

Não se desperdiçava nada, incluindo comida por se considerar pecado.

O desperdício, como ostentação social, é uma moda recente do novo-riquismo.

zazie disse...

E olha, fecha tu essa boca antes de mandares fechar as dos outros.

Estas divisões não são estanques.

Há quem passe a vida a comprar pechinchas achando que com isso poupa.
E uma pancada que atinge os dois géneros.

E há gente sovina ou miserável e outra que o não é. Coisa que atinge igualmente os 2 géneros.

Eu até acho que o miserabilismo é muito tradicional em Portugal. Provavelmente por gene marrano.

O que mais existe é gente a fazer choradinho e agarrada ao monte, sem o gozar, com medo que ele desapareça.