my chinese girlfriend

‹‹You look tired, sit down and relax. I’m gonna fix you a cup of tea››. Meu Deus, já passaram mais de 20 anos e ainda me recordo do olhar gentil com que a minha amiga Liu me recebia em sua casa, em Chicago. Após uma breve ausência, lá voltava ela, no seu roupão de seda, com uma chávena de chá bem quente. Sentava-se ao meu lado em silêncio, enquanto eu bebia o chá. Um chá branco que sabia a canja de galinha, uma delícia. O rosto da Liu não me transmitia estados de alma, nem emoções. Apenas "era", uma expressão da natureza mãe que nos acolhe e nos consola. Uma bênção, no final de um dia desgastante.
‹‹Are you hungry?›› Não precisava de responder. A Liu ia à cozinha e regressava com o nosso jantar. Vinho branco, “sashimi” e salada.
Era quando começávamos a comer que a Liu começava a falar. Contava-me como tinha passado o dia, falava do trabalho e ria-se daquelas contrariedades que sempre ocorrem. Penso que não levava a vida demasiado a sério e isso era um verdadeiro lenitivo.
Uma das coisas de que eu mais gostava na Liu era a imagem que ela fazia questão de cultivar, de inocente e até de ingénua. Uma imagem que só removia na intimidade, como quem retira uma máscara no final de uma peça. ‹‹Joaquim››, disse-me um dia, ‹‹today, in the office, a guy was telling a joke about a “blow-job” and I said: what is a “blow-job”? Everybody started laughing››. Rimo-nos os dois...
Uma mulher deve ser sempre reservada porque é isso que alimenta o mistério do eterno feminino. Será que as ocidentais se esqueceram deste ensinamento?