25 julho 2012

as leis da natureza

Francis Bacon (século XVII): "A natureza, para ser comandada, tem de ser obedecida"


O homem nunca pode desobedecer às leis da natureza. Uma vez que este conceito parece contra-intuitivo, deixo aqui um exemplo prático. Os portugueses preferem sempre um exemplo a um conceito a priori.
É possível navegar na direcção oposta à do vento? Sim, é o que se chama bolinar. Navegar em zig-zag, como fizeram as caravelas portuguesas dos descobrimentos. Reparem, contudo, que as "leis da natureza" não são violadas, apenas aproveitadas a favor de um objectivo determinado.
Para comandar a natureza, temos de lhe obedecer.

32 comentários:

zazie disse...

Qual é o conceito a priori, Joaquim....

hãããã..... diga lá

Anónimo disse...

Hola Zazie,

Nunca podemos contrariar as leis da natureza.
:-)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

O conceito está na citação do Bacon.
:-)

zazie disse...

Continuo na mesma. Qual é o conceito que v. diz que é a priori e não a posteriori.

Explique lá isso, sff, já que acha que os espanhóis entendem mas nós não.

zazie disse...

Sabe o que significa a priori... suponho... né?

Então diga lá o que é a priori nessa frase e não à posteriori.

zazie disse...

Sabe qual é o v. mal?

O mesmo que detectou nas licenciaturas à Relvas.

Estudam tretas políticas de caca e depois julgam que dominam conceitos filosóficos

Anónimo disse...

Obrigado pelo seu diagnóstico.
Penso que me está a pedir outro exemplo, né?
:-)

zazie disse...

Não. Ainda não me explicou qual é a noção nesta frase que não carece de demonstração prática.

zazie disse...

A menos que v. também esteja convencido que até uma lei da física é um conceito que já nasce connosco.

É que só assim é que podia dizer que era uma noção que não deriva da experiência.

zazie disse...

V.s aprenderam esta cena do a prioir e a posteriori no neotontismo, não foi?

Só podia...

Foi com a Rand ou com os tiroleses que teve aulas de a prioris?

zazie disse...

Mas, só por coisas, explique-me lá como inscreve a Teoria da Relatividade ou o Princípio da Incerteza de Heisenberg nesse postulado do século XVII...

zazie disse...

«A ordem das acções voluntárias pertence à consideração da filosofia moral. A ordem que a razão determina ao planear as coisas exteriores organizadas pela razão humana pertence às artes mecânicas. Por isso, é próprio da filosofia moral, à qual agora se dirige nossa atenção, considerar as acções na medida em que se ordenam entre si e para um fim.
Falo das acções humanas, que surgem da vontade do homem de acordo com a ordem da razão. Mas se houver acções do homem que não se sujeitam à vontade e à razão, não são propriamente ditas humanas, mas naturais, como é o caso evidente da alma vegetativa. Essas não são absolutamente o objecto da filosofia moral. Assim como o objecto da filosofia natural é o movimento, ou o ser em movimento, também o objecto da filosofia moral é a acção humana ordenada para um fim, ou mesmo o homem como agente voluntário que agem em vista de um fim.»

Tomás de Aquino, Comentários à Ética a Nicómaco de Aristóteles

zazie disse...

«Há ensino por meio das coisas sabidas por dois processos: um é a indução, o outro o silogismo. A indução nos leva a perceber um princípio e algo universal a que chegamos por meio da experiência com os particulares, como notado no Livro I da Metafísica. O silogismo, ao contrário, procede de princípios universais previamente conhecidos da maneira referida antes. É, portanto, evidente que há certos princípios dos quais procede o silogismo e não podem ser verificados (controlados, certificados) pelo silogismo. De outro modo, haveria uma regressão ao infinito dos princípios do silogismo. (...) Mas nem todo silogismo produz conhecimento, isto é, é causa de ciência, mas só o demonstrativo, que infere coisas necessárias de coisas necessárias.
Logo, evidentemente, a ciência é o hábito demonstrativo, isto é, produzido por demonstração, levando em consideração o que se disse nos Analíticos posteriores.
»

ibidem

lusitânea disse...

Percebo finalmente a razão teológica que move a modernidade das hortas urbanas...

Anónimo disse...

Zazie,

Vem aí o apocalipse, V. começou a citar Aquino, o filósofo da Ayn Rand.

joserui disse...

Ora aqui está a lei da natureza que faltava obedecer... uma espécie de alforreca criada a partir de um rato (Nature)... -- JRF

muja disse...

Não se trata de obedecer nem desobedecer. Não há "desobedecer". Não há obedecer, e muito menos comandar.

A leis da natureza descrevem a natureza. Mas não são um código legal, que possa ser interpretado por juristas naturalistas. Podem ser continuamente interpretadas pelo Homem para lhes tentar encontrar um sentido ou explicação metafísica. Mas dizer que o homem pode viver desobedecendo às leis da natureza é o mesmo que dizer que se pode falar português desobedecendo à gramática portuguesa. Nem pode nem deixa de poder, não faz é sentido algum.

Dizer que vive obedecendo é o mesmo que nada. De que forma poderia, então, viver? "Viver" pressupõe a integração na natureza. Só é vivo o que é natural, que faz parte da natureza. Repare, se de hoje para amanhã, se criar aí uma forma de vida "artificial", que remédio temos senão considerá-la natural? Que sentido faz, não o fazer? Existe e, portanto, está necessariamente integrada na natureza do cosmos e, particularmente, na natureza das coisas vivas. Senão não estava viva nem poderia existir fisicamente.

Toda esta confusão advém do facto de se pensar que o homem está acima da natureza, ideia com a qual não concordo de forma alguma. Lá porque um homem é diferente de uma flor e porque um homem pensa e uma formiga não, não quer dizer o que o homem não faça parte da natureza e se arrogue dono e senhor dela. É loucura e ignorância.

A natureza pode ser manipulada. Inúmeros seres (todos, aliás) o fazem e com graus de eficiência muito superiores - ordens de magnitude superior - à mais sofisticada tecnologia hoje disponível. Só isso deveria ser suficiente para nos devolver a uma condição mais humilde. A eficiência como o vírus HIV manipula o extremamente complexo, extremamente eficiente sistema imunitário é ilustrativa do quanto temos ainda que aprender. E não me refiro apenas à tecnologia.

A natureza (viva) é como a água (poder-se-ia quase dizer, é água. E Tales disse-o). Pode-se controlar pontualmente, pode-se encaminhar em determinadas circunstâncias. Pode sempre manipular-se. Mas apenas um louco considerará que a pode controlar absolutamente.

Opor o homem à natureza não tem sentido algum, pelo menos do ponto de vista físico. O homem é natureza. Logo, ao opor-se a ela, opõe-se a si mesmo. Quando pensa que a conquistou, venceu-se apenas a si mesmo. Não faz mais que o tolo que, em construindo uma barragem de proporções gigantescas, pensa que poderá conter nela todo um rio. Dependendo do tamanho da enormidade, apenas aumenta a quantidade de água com que morrerá afogado.

Anónimo disse...

Caro muja,
O Sr. captou bem o sentido da minha afirmação. A natureza tem leis e nós, seres humanos, estamos submetidos a essas leis. Tudo o que fazemos é no quadro da natureza.

muja disse...

Seja então mais rigoroso nas suas afirmações, caro Joaquim.

Por exemplo,

A natureza tem leis e nós, seres humanos, estamos submetidos a essas leis.

Não é a natureza que tem leis. Nós é que lhes chamamos leis para melhor a compreendermos. Mas as leis são, no fundo, uma descrição mais ou menos sistemática da natureza. São a natureza, de certa maneira. Dizer que estamos submetidos é dizer que podemos não estar e, pior (para nós ignorantes dela), é entrar pela filosofia, porque levanta imediatamente a questão da vontade própria.

Para além do mais, falar em leis, sobretudo em Portugal, leva logo a malta a por-se a pensar como é que lhes dá a volta. Ao contrário da lei portuguesa, a esta não há volta a dar.

Esta frase, por exemplo, é muito melhor e evita todos os problemas espinhosos acima:

Tudo o que fazemos é no quadro da natureza.

Ricciardi disse...

Eu gostava que me dissessem ou inumerassem essas tais leis da natureza. A ver se as quebro ou aceito. Se a lei da natureza é morrer e eu posso artificialmente adiar a morte, pois nao me importo nada de quebrar essa lei natural.
.
Bolinar, caro Joachim, é o principio da supremacia da inteligência sobre as leis da natureza. Sem inteligência vc nao bolinava.
.
Parece-me q se está a confundir as leis da natureza com ecologia. As primeiras podem ser quebradas. E devem, desde que que se respeita a segunda. A primeira tem a ver com macro condicionantes. A segunda tem a ver com sustentabilidade. As leis são para serem quebras, na medida da obediência às segundas.
.
Rb

Anónimo disse...

O Joaquim, quanto a natureza, vem de charola... O que ele quer dizer e sempre quis e já não é a primeira vez, é que tudo é natural e não existe sem esse enquadramento... Cagar um rio todo, matar os seus peixes e toda a vida para fabricar uma bacorada qualquer? Natural, nem poderia ser de outra maneira... Poluir a atmosfera, extinguir espécies de animais e plantas? Naturalmente. O efeito de estufa? Fenómeno da natureza. O aquecimento global? Huh... Ah... Esse é natural também... Mas é de esquerda... Obedece às leis socialistas da natureza... -- JRF

Vivendi disse...

Concordo com a Zazie!

Na natureza nada se cria tudo se transforma. Logo não existe lei alguma para regular a natureza. E já nem entro no campo da espiritualidade.

Mas estou do lado da Zazie.

Anónimo disse...

Caro Vivendi,
E não se transforma segundo regras determinadas? É ao calhas?
A Zazie apenas adora o JM, é uma espécie de guru. Tudo o que ele disser está certo. Certo?

zazie disse...

Palerminha.

Acaso eu nunca escrevi nada sobre o assunto, ignorando até que o Mattoso dissesse o mesmo.

Olhe, se não sabe pergunte à Fernanda porque ela sabe.

zazie disse...

Se há tema em que ando em diálogo com o Dragão há anos, é este. O dos efeitos do iluminismo.

zazie disse...

Quanto ao Mattoso, até comecei por dar o desconto em virtude dele ser um nabo politicamente.

E é. Por aí não tem safa. Mas, neste caso, as passagens que v. largou são claras.

Só não são para si porque nem entende do que se trata.

":OP

zazie disse...

Outra coisa: eu não escrevi em parte alguma que não existem leis.

Mas enfim...

zazie disse...

E v. tem razão, em parte, no que toca à física newtoniana, mas não tem, sequer, se entrar na macro e micro-física onde as leis são caos e o que se pode saber é por mera estatística e probabilidades.

Aliás, a física quântica é a negação das leis eternas da física newtoniana.

Portanto, até apenas por aí, v. tinha metido água.

Ainda que a questão a que se referia o Mattoso nada tivesse a ver com física e assim.

zazie disse...

Mas não disfarce. Ainda não explicou à malta onde está o "a priori" aqui.

Vivendi disse...

"E não se transforma segundo regras determinadas? É ao calhas?"

O mistério da vida não reside aqui mesmo? Na constante descoberta da transformação das coisas.

A natureza não é um processo fechado logo não é regulado por nenhuma lei.

O máximo que podemos associar a este fenómeno complexo, é uma energia transcendental de origem divina canalizadora de uma força libertadora de um conjunto de explosões que levam às mais variadas e diferentes transformações totalmente desreguladas...

Regulação é algo de uma força humana e não de força divina.

Anónimo disse...

Zazie. Querida. Sempre em grande. Sempre à bolina, que não à boleia!

Tomás de Aquino? Não!!! Doutor da Igreja S. Tomás de Aquino.

Beijoca grande, querida.