24 março 2012

porque eu te digo

Eu gostaria aqui de retomar  a última frase do meu post anterior para elaborar sobre a diferença entre anarquismo metolodológico e catolicismo metodológico, de que já mencionei a diferença essencial, que é a de que o anarquismo exclui.

O anarquismo caracteriza-se por rejeitar todas as formas de autoridade, e portanto ele exclui todos os métodos ou caminhos para chegar à verdade que estejam baseados na autoridade.

Um exemplo? O da minha mãe.

Se algum dia eu tivesse posto em dúvida que  aquele homem, o tal de nome Manuel, era o meu pai, eu sei muito bem o que ela me diria, parece até que a estou a ouvir: "Ora essa ... é o teu pai, sim senhor ... é o teu pai porque eu te digo que ele é o teu pai...".

Ora, o anarquismo não rejeitaria esta afirmação da minha mãe. O que o anarquismo faz é dar tanta importância ou autoridade - isto é, nenhuma -   à verdade da minha mãe, como à  "verdade" da D. Maria dos Anzóis que diz que o meu pai é o lojista da esquina, ou para o efeito, à "verdade" de qualquer outra pessoa que decide atribuir a minha paternidade a qualquer outro homem deste mundo.

O catolicismo, pelo contrário,  acredita na autoridade e portanto estabelece hierarquias. Entre estas "verdades" concorrentes, cada uma atribuindo a minha paternidade a um homem diferente, o catolicismo privilegia a da minha mãe como sendo a verdade. Porquê? Porque nesta matéria, ela é a autoridade.

A ideia de autoridade - a palavra deriva de autor, aquele que produz algo, e resulta do verbo latino augere, que significa fazer crescer - exprime-se, não por acaso, através de um substantivo feminino. E isto é assim porque a autoridade é, em primeiro lugar, um atributo feminino - o atributo da mãe, a autora, aquela que faz crescer.

Para o catolicismo, não estão no mesmo plano, como estão para o anarquismo,  as "verdades" proclamadas pela minha mãe, pela D. Maria dos Anzóis ou por qualquer outra pessoa. Prevalece a verdade da minha mãe, porque ela é que é a autora da minha pessoa, ela é que tem autoridade.

Pelo contrário, no anarquismo existem tantas verdades, uma por cada pessoa, que na prática não existe verdade nenhuma.  

  

5 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro PA, vejamos a coisa em perspectiva; eu acredito na minha mãe, mas nao ponho as mãos no fogo pela sua.
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A Verdade estah algures entre aquilo que eu acredito e aquilo em que v.exa acredita. Bem vistas as coisas, a Verdade estah apenas comigo, porque tenho serias duvidas da palavra da senhora sua mãe. E se a única prova que me dah êh a palavra da senhora sua mãe, pois lamento, mas nao me chega para afirmar a sua paternidade.
Mas se essa palavra da sua mae, para mim, vale pouco, para si vale tanto como a da minha mãe vale para mim.
A Verdade êh sempre aquilo em que se acredita. Se a sua mãe acredita que você êh filho dela, êh porque nem sabe que o trocaram na maternidade.
Portanto há duas formas de encarar a verdade.

Mas se se pretende universalizar a Verdade, isto eh, que os outros aceitem essa Verdade, esta tem de ser demonstravel ou, pelo menos, haver indícios suficientemente fortes.
V.exa sabe perfeitamente que aqueles são os seus pais, pelos motivos que avançou, mas eu nao sei. Sendo assim, se fosse juiz, nao o fazia herdeiro daqueles q você diz que são seus pais. Nao v.exa tinha que ir mais longe do que as suas memórias pessoais. Teria de chamar testemunhas que validassem a sua estória, testes de ADN etc.
Provavelmente você estah certo, mas há muitos pedros no mundo que acreditando nas suas maezinhas como Arroja acredita, estão completamente errados na substancia da coisa.
Olhe, li um livro da minha avoh aonde se falava acerca da paternidade dos nossos reis. E contava estorietas acerca dos amores secretos das rainhas portuguesas. Estou firmemente convencido de que, muito rei êh filho de mto boa gente que gravitava pelos palácios. Eu aposto sempre no tutor dos filhos...

Ricciardi disse...

Rb

CN disse...

A palavra anarquismo é utilizada para significar outra coisa, anomia, a total ausência de regras. E algum anarquismo de facto vai nesse sentido, contribuindo para esse uso do termo.

Mas tendo en conta o verdadeiro sentido da palavra, o anarquismo reconhece a autoridade a quem, como a uma mãe obedece voluntariamete ou pelo medo de ser ostracizado, ou ainda porque essa autoridade exerce a sua perrogativa de detentor honesto de direitos reais ou contratuais.

É difícil ou impossível compatibilizar o poder político com essa acepção.

É no entanto verdade, que pode ser comum a uma mente anarquista (que EvL diz existir nos católicos "só os católicos são anarquistas") uma desconfiança estrutural por qualquer forma de poder com capacidade para modelar a realidade.

Em última análise devemos reconhecer que a realidade é anarquica e apenas a nossa acção moral voluntária lhe pode dar uma ordem e progresso.

Se evitassemos as guerras e as crises económicas já não era mau. Mas a "autoridade" ao longo da civilização não tem passado por mais do que verdadeiros produtores de desagraça humana. O que salva a civilização são as autoridades não reconhecidas de inovadores e empreendedores e no domínio intelectual dos fazedores de paz, e dos que tentam estabelecer a cooperação humana da troca ou caridade arbitrada pela lei natural.

Roffl disse...

Se algum dia tivesse de perguntar isso a sua mãe, seria sinal de que alguma coisa estaria muito mal. E tenha paciência, mas quando se chega a perguntar isso, as dúvidas não desaparecem assim. Não seria a autoridade de ninguém, nem da sua mãe, a afastar-lhe as dúvidas. O PA não deve ser assim tão ingénuo em relação a si ou à natureza humana. De qualquer forma, nunca me ocorreria perguntar uma coisa dessas a minha mãe sobre meu pai.Era meu pai, não porque a minha mãe me dissesse isso, mas porque eu o sentia como meu pai. Não preciso de nenhuma autoridade para sentir isso.

marina disse...

eu pnso que um anarquista lhe diria para ir perguntar à sua mãe..