25 março 2012

anarquismo



Agora que falei no anarquismo, eu gostaria de o utilizar como exemplo para explicar por que é que  as ideologias são falsas.

Começo por perguntar, no seguimento do post anterior, se o catolicismo exclui o anarquismo? Não, o catolicismo não exclui o anarquismo, a inversa é que é verdadeira, o anarquismo é que exclui o catolicismo. E o catolicismo não exclui o anarquismo porque o catolicismo começa por afirmar que Deus está em todas as obras da criação, e portanto, também está no anarquismo. É esta mesma razão que leva o catolicismo a não excluir mesmo o diabo, porque o diabo também é uma criatura de Deus (Cat: 391). O catolicismo não exclui nada nem ninguém.

O anarquismo é que exclui - exclui a autoridade. Mas ao excluir a autoridade, o anarquista tem de excluir uma parte dos católicos - todos aqueles que acreditam na autoridade. Se eu quiser construir no meu bairro uma comunidade católica, eu abro a porta a todos aqueles que quiserem entrar. Mas se pretender construir uma comunidade anarquista, eu tenho de exercer um escrutínio apertado e deixar de fora todos os católicos que acreditam na autoridade - e que são a esmagadora maioria. Na realidade, aos olhos do mundo, a característica distintiva dos católicos é a de eles acreditarem na autoridade do Papa e, por isso, são frequentente referidos por papistas.

Questão diferente é a de saber se a autoridade é uma realidade ou uma fantasia e, portanto, se neste diferendo, quem tem razão são os católicos ou os anarquistas. No post anterior, deixei claro que a autoridade é uma realidade, não uma fantasia. Tudo tem um autor, e cada um de nós também tem. Mesmo deixando de lado considerações teológicas, cada um de nós tem dois autores terrenos - o pai e a mãe. E aquele dos dois autores que se envolveu mais a compôr a obra, e que passou mais tempo a fazê-la, foi a mãe. A mãe é um autor mais importante do que o pai, e por isso a autoridade é, em primeiro lugar, um atributo feminino.

Mas se a autoridade é uma realidade e uma verdade, e se o anarquismo desconsidera a autoridade, então o anarquismo não é nem realista nem verdadeiro.

Eu posso chamar agora uns quantos intelectuais muito inteligentes para elaborarem detalhadamente sobre a descrição de uma sociedade anarquista, e muitas pessoas podem ser seduzidas por essa descrição. Mas uma coisa é certa, se algum dia esta sociedade anarquista fôr posta em prática, ela não vai durar muito tempo, porque ela está construída sobre uma realidade amputada e nela as pessoas vão ter viver com a sua razão amputada - amputada da verdade da autoridade.

E sabe quem é que vai desencadear a revolta contra esta sociedade anarquista? As mulheres, porque esta sociedade lhes nega um atributo que é, em primeiro lugar, delas, e não dos homens - a autoridade.
 

3 comentários:

CN disse...

O planeta é uma comunidade anarquista. Já tinha dado conta?

Pedro Sá disse...

Nunca conseguirei perceber esse seu complexo de inferioridade de género.

Paulo HNA disse...

A referência a AUTORIDADE pelos anarquistas é bastante usada contra eles... mas uma leitura mais atenta do próprio BAKUNIN poderia ver que ele não rejeita a autoridade mas, sim, a imposição dela sobre si próprio ARBITRARIAMENTE... o problema do Catolicismo é que desde do seu nascimento, ainda com as digressões de São Paulo sobre a obediência as autoridades constituídas do Estado Romano, vemos a obrigatoriedade do indivíduo submeter-se a qualquer autoridade que desempenha um papel administrativo real na 'coisa pública'... Curiosamente, apesar do pressuposto paulino de 'tudo posso mas nem tudo me convém' (por conta do escândalo provocado nos menos maduros... como na questão das carnes ofertadas aos ídolos...) no momento em que se foi preciso optar pela demonstração pública de submissão à autoridade romana pelo gesto de queimar incenso diante da estátua do Imperador-Deus... os cristãos preferiram uma resistência passiva... tornaram-se alvo das inúmeras perseguições e começaram - talvez ali - a mover sem o saber a primeira campanha nos moldes do que Gandhi preconizaria contra o domínio britânico nas Índias... Infelizmente... o catolicismo triunfante tornou-se linha de defesa do próprio Império sob Constantino e a autoridade 'imperial' e não apenas 'paternal' e maternal da Igreja deixou de ser percebida amorosamente para apenas autoritariamente... Se deixarmos de lado os séculos de equívocos católicos em função do poder temporal e dos trâmites com os antigos reis e atuais nações europeias... podemos pensar num ANARQUISMO que separa rigorosamente a Igreja de qualquer poder civil... e que mesmo fazendo proselitismo antirreligioso se traduz na lida cotidiana pelo respeito as tradições de cada grupo - desde que voluntariamente acolhidas e que não representem na sociedade maior uma marca de humilhação e submissão das individualidades por questão de sexo, raça etc. Se apenas os católicos por opção voluntária aceitarem os dogmas romanos... sem que os queiram impor ao conjunto da sociedade... não creio que os anarquistas seguiriam insistindo em resolver o problema do capital e da religião por enforcar o último cura nas tripas do último burguês...