No post do Joaquim a que me referi anteriormente, ele sugere a ideia de que o Vaticano parece defender uma economia supranacional. Claro que defende, está mesmo debaixo dos olhos, embora essa defesa seja feita com algumas qualificações que são decisivas para não se confundir supranacionalidade com o seu sentido corrente de globalização.
Uma das descobertas mais importantes que fiz ao estudar o catolicismo foi a da importância das palavras. Foi um dia ao reler certas passagens do Catecismo que me dei conta que cada palavra era ali utilizada com toda a propriedade, e como eu nunca tinha visto em mais lado algum. Literalmente, em cada frase, cada palavra estava escolhida a dedo. As palavras têm história e frequentemente o seu significado acaba sendo profundamente adulterado com o correr dos tempos. Por exemplo, a palavra escândalo tem no sentido corrente um significado muito diferente do seu significado original. (A este respeito, num próximo post falarei acerca da ideia de Universidade).
Igreja Católica significa Comunidade Universal e portanto, decorre do seu nome que a finalidade da Igreja é a de constituir uma comunidade mundial. Naturalmente, esta comunidade mundial terá as suas próprias instituições e a sua própria economia. Está, por isso, o Joaquim certo ao afirmar que a Igreja parece favorecer uma economia supranacional, excepto que a palavra supranacional não é a palavra adequada. E não é a palavra adequada porque sugere que essa comunidade se sobrepõe às nações, ou elimina mesmo as nações.
A Igreja Católica é uma defensora da ideia de Nação, e a maior parte das nações modernas - Portugal é o exemplo acabado disso -, e a própria ideia moderna de nação, foram criações da Igreja Católica. A expressão adequada não é a de uma economia supranacional mas a de uma economia universal. E, para que fique claro, entre a comunidade nacional e a comunidade universal, a Igreja atribui prioridade à comunidade nacional.
Ao contrário da ideia de globalização que visa construir uma comunidade mundial acabando com as comunidades nacionais ou, pelo menos, subalternizando-as, a ideia católica de uma comunidade universal realiza-se através de uma hierarquia de comunidades que começa na família - a mais importante de todas as comunidades - se alarga na paróquia ou na freguesia, mais ainda no município ou na diocese, passa pela nação e depois pelo continente e só finalmente chega à comunidade universal - a menos importante de todas as comunidades.
Não é acabando com as nações, mas tomando as nações como pilares, que o catolicismo visa realizar uma comunidade universal e também uma economia universal, e isto opõe-se à ideia de uma economia supranacional que desvaloriza as nações, ou mesmo as anula.
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