A palavra Economia vem do grego (oikos, casa; e nomos, regra) e foi utilizada pela primeira vez por Aristóteles (Oikonomia) no sentido de governo ou administração doméstica.
É precisamente no âmbito da economia doméstica - da relação entre um homem e uma mulher e entre estes e os seus filhos - que eu pretendo começar por ilustrar o funcionamento de uma economia familiar baseada, alternativamente, nos três tipos de relacionamento que identifiquei no post anterior:
a) o relacionamento através do trabalho (tradição protestante germânica);
b) o relacionamento através da troca (tradição protestante britânica)
c) o relacionamento através da dádiva ou partilha (tradição católica)
Na família do primeiro tipo - a do protestantismo germânico - o valor das pessoas na hierarquia familiar é determinado pelo trabalho - é mais importante quem trabalha mais, e isto é assim entre homem e mulher como entre os filhos. As comparações acerca da importância e o valor do trabalho vão ser inevitáveis nesta família, a começar no casal: “O meu trabalho como advogado é muito mais importante do que o teu como enfermeira”. Nalguns casos, talvez exista um critério de comparação - os respectivos salários -, mas noutros esse critério é impossível: “Lavei-te hoje o carro; tu agora vais ter de me engraxar os sapatos; mas um par de sapatos não chega, porque não equivale ao trabalho de lavar o carro. Vais ter de me engraxar cinco pares de sapatos”.“Estiveste um ano em casa, durante os últimos meses da gravidez, durante o parto e o período da amamentação, enquanto eu andei a trabalhar lá fora. Agora vais tu trabalhar lá fora durante um ano, enquanto eu fico em casa a guardar as crianças”. Assim que os filhos crescem, a primeira preocupação é o trabalho, porque é por aí que eles são avaliados aos olhos dos pais e dos outros: “O teu irmão é mais importante do que tu porque trabalha mais do que tu...”. Este relacionamento familiar baseado no trabalho como fonte do valor, reveste uma certa natureza de escravatura na medida em que cada um passa o tempo a exigir trabalho aos outros, e já se vê aonde conduz - conduz, primeiro à oposição entre o homem e a mulher, à oposição entre eles e os filhos, e finalmente, à oposição entre os próprios filhos. Este casal, muito provavelmente, vai divorciar-se. Mas mesmo que resista ao divórcio, a sua família nunca formará uma comunidade; pelo contrário, logo que possam, acabam todos separados uns dos outros. Quem é que quer ter pelas costas outras pessoas - os familiares - sempre a exigirem-lhe alguma forma de trabalho?
Na família do segundo tipo - a família do protestantsimo anglo-saxónico - as relações são de troca e revestem uma natureza contratual: “Só te dou isto se tu me deres aquilo”. Ela engraxa-lhe os sapatos se ele lhe lavar o carro. Ele aumenta-lhe a mesada para tantos euros por mês se ela lhe der um filho. Ele promete amá-la se ela se mantiver jovem e bela. É claro que, a partir do momento em que um destes ses deixar de realizar-se (v.g., ela manter-se jovem), o outro fica desobrigado da sua parte. Este casal mantém-se unido desde que ambos consigam cumprir as suas respectivas partes nos múltiplos contratos implícitos ou explícitos que estabelecem entre si. Logo que deixem de o fazer, o divórcio espreita. A relação com os filhos possui também uma natureza contratual (v.g., só vos sustentamos enquanto vocês não puderem trabalhar; logo que possam, têm de se sustentar as vós próprios). É uma relação mais estreita do que no caso anterior, a relação entre os membros da família, porque não implica oposição, mas antes recirocidade e equivalência de interesses. Mas esta relação de natureza contratual é ainda muito precária para que esta família forme uma comunidade. É mais provável que cada um acabe a seguir o seu caminho, e a estabelecer com outras pessoas relações contratuais que lhe sejam mais favoráveis (v.g., ele encontrar uma mulher mais jovem e bela ou ela um homem mais rico).
É precisamente no âmbito da economia doméstica - da relação entre um homem e uma mulher e entre estes e os seus filhos - que eu pretendo começar por ilustrar o funcionamento de uma economia familiar baseada, alternativamente, nos três tipos de relacionamento que identifiquei no post anterior:
a) o relacionamento através do trabalho (tradição protestante germânica);
b) o relacionamento através da troca (tradição protestante britânica)
c) o relacionamento através da dádiva ou partilha (tradição católica)
Na família do primeiro tipo - a do protestantismo germânico - o valor das pessoas na hierarquia familiar é determinado pelo trabalho - é mais importante quem trabalha mais, e isto é assim entre homem e mulher como entre os filhos. As comparações acerca da importância e o valor do trabalho vão ser inevitáveis nesta família, a começar no casal: “O meu trabalho como advogado é muito mais importante do que o teu como enfermeira”. Nalguns casos, talvez exista um critério de comparação - os respectivos salários -, mas noutros esse critério é impossível: “Lavei-te hoje o carro; tu agora vais ter de me engraxar os sapatos; mas um par de sapatos não chega, porque não equivale ao trabalho de lavar o carro. Vais ter de me engraxar cinco pares de sapatos”.“Estiveste um ano em casa, durante os últimos meses da gravidez, durante o parto e o período da amamentação, enquanto eu andei a trabalhar lá fora. Agora vais tu trabalhar lá fora durante um ano, enquanto eu fico em casa a guardar as crianças”. Assim que os filhos crescem, a primeira preocupação é o trabalho, porque é por aí que eles são avaliados aos olhos dos pais e dos outros: “O teu irmão é mais importante do que tu porque trabalha mais do que tu...”. Este relacionamento familiar baseado no trabalho como fonte do valor, reveste uma certa natureza de escravatura na medida em que cada um passa o tempo a exigir trabalho aos outros, e já se vê aonde conduz - conduz, primeiro à oposição entre o homem e a mulher, à oposição entre eles e os filhos, e finalmente, à oposição entre os próprios filhos. Este casal, muito provavelmente, vai divorciar-se. Mas mesmo que resista ao divórcio, a sua família nunca formará uma comunidade; pelo contrário, logo que possam, acabam todos separados uns dos outros. Quem é que quer ter pelas costas outras pessoas - os familiares - sempre a exigirem-lhe alguma forma de trabalho?
Na família do segundo tipo - a família do protestantsimo anglo-saxónico - as relações são de troca e revestem uma natureza contratual: “Só te dou isto se tu me deres aquilo”. Ela engraxa-lhe os sapatos se ele lhe lavar o carro. Ele aumenta-lhe a mesada para tantos euros por mês se ela lhe der um filho. Ele promete amá-la se ela se mantiver jovem e bela. É claro que, a partir do momento em que um destes ses deixar de realizar-se (v.g., ela manter-se jovem), o outro fica desobrigado da sua parte. Este casal mantém-se unido desde que ambos consigam cumprir as suas respectivas partes nos múltiplos contratos implícitos ou explícitos que estabelecem entre si. Logo que deixem de o fazer, o divórcio espreita. A relação com os filhos possui também uma natureza contratual (v.g., só vos sustentamos enquanto vocês não puderem trabalhar; logo que possam, têm de se sustentar as vós próprios). É uma relação mais estreita do que no caso anterior, a relação entre os membros da família, porque não implica oposição, mas antes recirocidade e equivalência de interesses. Mas esta relação de natureza contratual é ainda muito precária para que esta família forme uma comunidade. É mais provável que cada um acabe a seguir o seu caminho, e a estabelecer com outras pessoas relações contratuais que lhe sejam mais favoráveis (v.g., ele encontrar uma mulher mais jovem e bela ou ela um homem mais rico).
Na família do terceiro tipo - a família católica - a relação é de dádiva ou de partilha. Ele quer ter filhos mas não pode. Ela fica grávida, dá à luz, amamenta as crianças e partilha com ele os filhos. Durante este tempo, ela não pode trabalhar nem auferir um rendimento. Trabalha ele e partilha com ela o seu rendimento. Um filho de 23 anos quer ir para a Universidade. Os pais pagam-lhe os estudos. Outro, de 32, ficou desempregado. Os pais abrem-lhe a porta da casa materna, dão-lhe comida e roupa lavada, e até uma mesada. No fim da vida os pais estão doentes e pobres. Aqueles dos filhos que têm um bom emprego sustentam os pais, e ainda ajudam o irmão que continua desempregado. Aquilo que caracteriza esta relação de dádiva ou de partilha é que cada um põe em comum aquilo que tem, sem esperar nada em troca ou fazer imposições aos outros. Cada um põe em comum ... esta família forma uma verdadeira comunidade.
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