A linguagem religiosa é uma linguagem muito rica. Ao excluir Deus, o laicismo não amputa apenas a razão, amputa também a linguagem, a inteligência e a imaginação.
Para designar o "outro" a linguagem religiosa utiliza frequentemente a palavra "próximo", e esta é a palavra adequada para descrever a economia católica da partilha. Eu devo partilhar com os outros porque é racional que o faça, já que Deus também partilhou comigo. Mas eu partilho com quem? Com o próximo, e aqueles que me estão mais próximos são, obviamente, os membros da minha família. Esta é a primeira e a mais importante comunidade com quem eu devo partilhar os frutos do meu trabalho e os meus talentos.
É claro que a razão de partilhar não se esgota aí. Satisfeitas as necessidades da minha família, a razão sugere-me que eu partilhe com os membros necessitados de outras comunidades de âmbito progressivamente mais alargado e de que eu faço parte - a comunidade dos meus amigos, da minha vizinhança, da minha profissão, do meu país e, em última instância, do mundo inteiro. A partilha católica começa naqueles que nos são mais próximos - a família e os amigos - e só termina no mundo inteiro, de modo a incluir mesmo aqueles que não conhecemos. Só partilhando, pondo em comum, é possível construir uma comunidade. De outro modo, não é possível. Não há volta a dar-lhe.
Dito isto, eu proponho-me no próximo post responder à questão seguinte: como é que a cultura alemã trata o problema da Grécia (e também o de Portugal). É um tratamento conducente à manutenção de uma comunidade, ou à sua desagregação? E como é que o problema seria tratado pela cultura anglo-saxónica? E, finalmente, pela cultura católica? E qual destes tratamentos seria mais conducente ao reforço dos laços comunitários?
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