Uma das questões mais difíceis de compreender na cultura católica são os extremos, as abas da distribuição, os exageros, os excessos e os abusos, os pontos mais longínquos do centro, de um lado e do outro da distribuição.
A crise gravíssima porque hoje passamos foi causada por exageros, exageros no crédito, exageros no consumo, exageros no desejo de fazer justiça, exageros na provisão de cuidados de saúde, exageros na construcção de auto-estradas. Só exageros.
Se o catolicismo é uma doutrina de verdade, como eu julgo que é, e se ele tolera - na realidade, é extraordinariamente propício - aos exageros, e se os exageros, as abas da distribuição, são precisamente - como argumentei noutro post - aquilo que o protestantismo cortou ao catolicismo, permanecendo no resto praticamente tudo igual, que função têm, afinal, os exageros?
A luz que me iluminou para começar a responder a esta questão foi-me ainda fornecida pelo catolicismo que, perante alguém que queira obter uma resposta verdadeira a uma pergunta, alguém que queira chegar à verdade, sugere: “Olha para ti e para os outros que estão à tua volta e também para todas as coisas que te circundam”.
E foi este conselho que eu segui. Comecei por olhar para mim mesmo e veio-me à lembrança uma característica que eu sempre tive, mas que desenvolvi consideravelmente com o tempo em resultado da minha profissão de professor. Mais, lembrei-me das muitas vezes em que, em resultado da minha actividade de comentador nos jornais, na rádio e na televisão, me chamaram um ultraliberal, um extremista e outras coisas assim, designações que obviamente sugerem o exagero.
Uma das dificuldades da profissão de professor é a de ele ser capaz de passar adequadamente a mensagem aos seus alunos - isto é, de ensinar -, por vezes acerca de assuntos que são muito complexos e difíceis. E eu lembro-me que desde o início da minha carreira de professor em que me vi confrontado com esta dificuldade, gradualmente fui chegando à conclusão que a melhor forma de passar uma mensagem, de ensinar um assunto, de o tornar clarividente aos olhos dos meus alunos, a melhor maneira de exprimir a verdade da situação, era exagerando-a.
Agora eu estou convencido que não é possível chegar à verdade sem o exagero, e que a função do exagero é precisamente a de permitir chegar à verdade. Sem exagero não é possível ver a verdade, vêem-se apenas as aparências. E neste ponto Kant - malgré lui - tinha razão porque na sua Prússia nativa, de onde tinham sido excluídos todos os exageros católicos - a começar por essa figura humana exagerada, que é a do padre católico - nesse ambiente cultural, dizia, não se pode chegar à verdade, à essência das coisas, só restam as aparências.
Tendo compreendido isto, eu passei também a compreender porque é que a cultura católica aceita os extremos e os faz conviver na mesma comunidade, o santo e o demónio, o papa e o ateu, o padre e o mendigo, figuras que a cultura protestante rejeita, proíbe ou, em qualquer caso, mantém a uma distância prudente. Sem o exagero, a cultura católica não seria uma cultura de verdade. E não tolerando o exagero, a cultura protestante não é, decerto, uma cultura de verdade.
A crise gravíssima porque hoje passamos foi causada por exageros, exageros no crédito, exageros no consumo, exageros no desejo de fazer justiça, exageros na provisão de cuidados de saúde, exageros na construcção de auto-estradas. Só exageros.
Se o catolicismo é uma doutrina de verdade, como eu julgo que é, e se ele tolera - na realidade, é extraordinariamente propício - aos exageros, e se os exageros, as abas da distribuição, são precisamente - como argumentei noutro post - aquilo que o protestantismo cortou ao catolicismo, permanecendo no resto praticamente tudo igual, que função têm, afinal, os exageros?
A luz que me iluminou para começar a responder a esta questão foi-me ainda fornecida pelo catolicismo que, perante alguém que queira obter uma resposta verdadeira a uma pergunta, alguém que queira chegar à verdade, sugere: “Olha para ti e para os outros que estão à tua volta e também para todas as coisas que te circundam”.
E foi este conselho que eu segui. Comecei por olhar para mim mesmo e veio-me à lembrança uma característica que eu sempre tive, mas que desenvolvi consideravelmente com o tempo em resultado da minha profissão de professor. Mais, lembrei-me das muitas vezes em que, em resultado da minha actividade de comentador nos jornais, na rádio e na televisão, me chamaram um ultraliberal, um extremista e outras coisas assim, designações que obviamente sugerem o exagero.
Uma das dificuldades da profissão de professor é a de ele ser capaz de passar adequadamente a mensagem aos seus alunos - isto é, de ensinar -, por vezes acerca de assuntos que são muito complexos e difíceis. E eu lembro-me que desde o início da minha carreira de professor em que me vi confrontado com esta dificuldade, gradualmente fui chegando à conclusão que a melhor forma de passar uma mensagem, de ensinar um assunto, de o tornar clarividente aos olhos dos meus alunos, a melhor maneira de exprimir a verdade da situação, era exagerando-a.
Agora eu estou convencido que não é possível chegar à verdade sem o exagero, e que a função do exagero é precisamente a de permitir chegar à verdade. Sem exagero não é possível ver a verdade, vêem-se apenas as aparências. E neste ponto Kant - malgré lui - tinha razão porque na sua Prússia nativa, de onde tinham sido excluídos todos os exageros católicos - a começar por essa figura humana exagerada, que é a do padre católico - nesse ambiente cultural, dizia, não se pode chegar à verdade, à essência das coisas, só restam as aparências.
Tendo compreendido isto, eu passei também a compreender porque é que a cultura católica aceita os extremos e os faz conviver na mesma comunidade, o santo e o demónio, o papa e o ateu, o padre e o mendigo, figuras que a cultura protestante rejeita, proíbe ou, em qualquer caso, mantém a uma distância prudente. Sem o exagero, a cultura católica não seria uma cultura de verdade. E não tolerando o exagero, a cultura protestante não é, decerto, uma cultura de verdade.
Proponho-me dar um exemplo. Suponha que eu decido visitar um país longínquo onde não existe traço de catolicismo, se é que um tal país é possível. Ao chegar, travo conhecimento com um homem da minha idade, educado, inteligente, de boa-fé, boas maneiras, e perfeitamente saudável, e lhe digo assim: “É possível a um homem viver uma vida inteira sem ter relações sexuais com uma mulher”. Ele olha-me incrédulo, ao mesmo tempo que eu procuro rebuscar todos os meus recursos intelectuais para lhe demonstrar que aquilo que digo é verdade.
A realidade, porém, é que por mais que rebusque no cérebro, eu não consigo encontrar um argumento suficientemente persuasivo para lhe demonstrar que aquilo que afirmo é verdade. Vários homens daquele país entretanto se juntaram à nossa volta, todos incrédulos como o primeiro. Começam a rir-se de mim, e eu sem argumentos no intelecto que me permitam demonstrar a minha verdade. Como é que eu vou demonstrar isto só pela razão?
Até que, em desespero de causa, e aceitando que nunca lhes poderei provar aquela verdade por argumento racional, lhes aponto um homem que eles já viram na televisão - o Papa. E acrescento: "E se vierem lá ao meu país, apresento-vos muitos mais".
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