Num post anterior referi que os preços ou cotações dos mercados financeiros não reflectem a verdade acerca do valor das coisas. E isto é assim porque os mercados fiannceiros são mercados impessoais, mercados em que os participantes não se conhecem.
É diferente em mercados pessoalizados, mercados onde as pessoas se conhecem e que, por isso, mesmo, são necessariamente mercados locais - a lota, o Bolhão e a Ribeira, os inúmeros mercados municipais, as feiras, etc.
Então D. Angelina, como é isso, então a pescada ontem estava a 10 euros por quilo e hoje está a 12? Que coisa é essa...? A D. Angelina explica que, "... sabe lá, senhor doutor, o mar esta noite estava muito mau ... os homens vinham cheios de medo ... apanharam muito pouco peixe ... o meu marido já não o via assim há muito tempo e o Maravalhas disse mesmo que este Inverno já não voltava ao mar...".
Se a explicação da D. Angelina é verdadeira, o aumento do preço da pescada reflecte a verdade. Tanto mais que está logo ali ao lado uma outra peixeira para testemunhar se esta noite o mar estava mau ou não.
Pelo contrário, num mercado financeiro, que é impessoal, ninguém procura razões (por isso, este mercado não é racional) nem elas estão disponíveis, nem sequer interessam. De um dia para o outro, ou num curto espaço de tempo, sem que nada de substancial se tivesse alterado, as cotações dos títulos da dívida pública portuguesa, ou as acções do BCP, vêm por ali abaixo sem que ninguém saiba porquê.
Num mercado impessoal, os preços (cotações) não espelham a verdade, ou só por acaso o farão. Pelo contrário, num mercado pessoalizado, os preços tornam-se expressões racionais do valor das coisas. Aí eles tendem a aproximar a verdade.
PS.: Corrijo aqui um erro que cometi no post anterior. O valor das reservas de ouro, cerca de 12 mil milhões de euros, não cehgaria para pagar metade da dívida externa do Estado português.
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