Eu gostaria de voltar a este meu post para exagerar o papel que é aí desempenhado por S. Tomás e Kant, o católico e o protestante,respectivamente o realista e o idealista, dentro da ideia de que é impossível chegar à verdade sem exagerar.
Uma sociedade feita de homens extremamente realistas, que estão sempre a apontar para o concreto e o imediato, o aqui e o agora, é uma sociedade parada, uma sociedade onde qualquer mudança - a menos que seja imposta de fora - é impossível, uma sociedade onde as ideias não têm nenhum valor.
A grande contribuição do protestantismo foi precisamente a de renovar o valor das ideias, a crença no poder das ideias para mudar o mundo, e conseguiu fazê-lo, a despeito de muitos, às vezes calamitosos, exageros. As grandes revoluções tecnológicas dos dois últimos séculos - a última, a revolução das tecnologias de comunicação - que permitem hoje ao homem comum, e não apenas ao homem rico, dispôr de um nível de vida que ele não conseguiria sequer sonhar há duzentos anos atrás, tiveram origem invariavelmente em países protestantes.
Os EUA, como paradigma do país que revolucionou as tecnologias da produção de alimentos e como paradigma, mais geralmente, das tecnologias de produção em massa, pode vir bem a passar para a história como o primeiro país do mundo que tirou, em massa, o homem da miséria. E este é um feito extraordinário.
De volta às ideias, o excesso do realismo católico, que paralisa toda a inovação e que conduz directamente ao tradicionalismo, é talvez uma das maiores pechas dos países do catolicismo tradicional, como Portugal, Espanha ou a Itália. As ideias não têm valor, as ideias, e mais geralmente a filosofia, são tomadas como um ócio próprio de pessoas que, de outro modo, se poderiam igualmente entreter a fazer puzzles, palavras cruzadas ou a jogar à canasta.
Eu penso que este desprezo pelas ideias, esta crença de que as ideias não servem para nada, excepto para entreter pessoas de gostos mais ou menos esotéricos, e por isso irrelevantes, é um dos principais ónus do catolicismo tradicional, e de Portugal em particular. Nos últimos trinta e tal anos, não houve uma única mudança significativa em Portugal que tivesse tido origem interna, todas vieram do exterior - o regime político, as leis, a organização económica, etc. E até a última destas mudanças - o plano de austeridade para corrigir os excessos do passado recente - não foge à mesma regra.
Se desvalorizar as ideias, que são representações de uma realidade que por vezes nem sequer existe, em benefício da realidade, pode conduzir, no extremo, a uma sociedade parada, à mercê dos ventos e das marés que sopram pelo mundo, o exagero contrário é ainda mais perigoso. A valorização excessiva das ideias em detrimento da realidade, a substituição da realidade pelo mundo das ideias, conduz frequentemente a esquemas mentais que violentam a realidade. De facto, foi à violência que conduziram as ideias iniciadas por Kant e prosseguidas por outros na sua linha.
Numa caixa de comentários anterior, o Joaquim escreveu que, se a filosofia não fôr compreensível pela generalidade das pessoas, é inútil. Eu diria mais, se a filosofia não for compreensível pela generalidade das pessoas, é falsa. Eu estou hoje firmemente convencido que o primeiro critério de verdade acerca de um sistema de ideias é a sua simplicidade, e é essa também a posição do Papa João Paulo II, expressa no meu post anterior. A julgar por este critério, os sistemas de ideias do Kant e de todos o seus seguidores são, de uma maneira geral, falsos, sejam eles Hegel, Marx ou Mises. Não estou a dizer que ocasionalmente não existam grãos de verdade naquilo que eles escreveram. Estou a dizer que genericamente aquilo é falso. Como, de resto, a experiência tem atestado. Não se pode viver daquela maneira. Para eles, as ideias desligaram-se da realidade, ganharam uma vida própria, e eles acabaram por querer substituí-las à realidade, com os resultados que são conhecidos.
O Joaquim tem razão quando afirma aqui que a verdade se revela pelo diálogo e no pequeno grupo. Foi assim que Cristo se revelou também, em diálogo com Pedro e perante os apóstolos (Lc, 9: 18-22). E estes homens perante os quais a verdade é revelada não são homens especiais, são homens absolutamente vulgares, pescadores e outras coisas do género.
Uma sociedade feita de homens extremamente realistas, que estão sempre a apontar para o concreto e o imediato, o aqui e o agora, é uma sociedade parada, uma sociedade onde qualquer mudança - a menos que seja imposta de fora - é impossível, uma sociedade onde as ideias não têm nenhum valor.
A grande contribuição do protestantismo foi precisamente a de renovar o valor das ideias, a crença no poder das ideias para mudar o mundo, e conseguiu fazê-lo, a despeito de muitos, às vezes calamitosos, exageros. As grandes revoluções tecnológicas dos dois últimos séculos - a última, a revolução das tecnologias de comunicação - que permitem hoje ao homem comum, e não apenas ao homem rico, dispôr de um nível de vida que ele não conseguiria sequer sonhar há duzentos anos atrás, tiveram origem invariavelmente em países protestantes.
Os EUA, como paradigma do país que revolucionou as tecnologias da produção de alimentos e como paradigma, mais geralmente, das tecnologias de produção em massa, pode vir bem a passar para a história como o primeiro país do mundo que tirou, em massa, o homem da miséria. E este é um feito extraordinário.
De volta às ideias, o excesso do realismo católico, que paralisa toda a inovação e que conduz directamente ao tradicionalismo, é talvez uma das maiores pechas dos países do catolicismo tradicional, como Portugal, Espanha ou a Itália. As ideias não têm valor, as ideias, e mais geralmente a filosofia, são tomadas como um ócio próprio de pessoas que, de outro modo, se poderiam igualmente entreter a fazer puzzles, palavras cruzadas ou a jogar à canasta.
Eu penso que este desprezo pelas ideias, esta crença de que as ideias não servem para nada, excepto para entreter pessoas de gostos mais ou menos esotéricos, e por isso irrelevantes, é um dos principais ónus do catolicismo tradicional, e de Portugal em particular. Nos últimos trinta e tal anos, não houve uma única mudança significativa em Portugal que tivesse tido origem interna, todas vieram do exterior - o regime político, as leis, a organização económica, etc. E até a última destas mudanças - o plano de austeridade para corrigir os excessos do passado recente - não foge à mesma regra.
Se desvalorizar as ideias, que são representações de uma realidade que por vezes nem sequer existe, em benefício da realidade, pode conduzir, no extremo, a uma sociedade parada, à mercê dos ventos e das marés que sopram pelo mundo, o exagero contrário é ainda mais perigoso. A valorização excessiva das ideias em detrimento da realidade, a substituição da realidade pelo mundo das ideias, conduz frequentemente a esquemas mentais que violentam a realidade. De facto, foi à violência que conduziram as ideias iniciadas por Kant e prosseguidas por outros na sua linha.
Numa caixa de comentários anterior, o Joaquim escreveu que, se a filosofia não fôr compreensível pela generalidade das pessoas, é inútil. Eu diria mais, se a filosofia não for compreensível pela generalidade das pessoas, é falsa. Eu estou hoje firmemente convencido que o primeiro critério de verdade acerca de um sistema de ideias é a sua simplicidade, e é essa também a posição do Papa João Paulo II, expressa no meu post anterior. A julgar por este critério, os sistemas de ideias do Kant e de todos o seus seguidores são, de uma maneira geral, falsos, sejam eles Hegel, Marx ou Mises. Não estou a dizer que ocasionalmente não existam grãos de verdade naquilo que eles escreveram. Estou a dizer que genericamente aquilo é falso. Como, de resto, a experiência tem atestado. Não se pode viver daquela maneira. Para eles, as ideias desligaram-se da realidade, ganharam uma vida própria, e eles acabaram por querer substituí-las à realidade, com os resultados que são conhecidos.
O Joaquim tem razão quando afirma aqui que a verdade se revela pelo diálogo e no pequeno grupo. Foi assim que Cristo se revelou também, em diálogo com Pedro e perante os apóstolos (Lc, 9: 18-22). E estes homens perante os quais a verdade é revelada não são homens especiais, são homens absolutamente vulgares, pescadores e outras coisas do género.
Uma das maiores ofensas que se podem cometer contra a humanidade - e que constitui invariavelmente a origem de todos os crimes contra a humanidade - é a afirmação de que o homem comum não é competente para chegar à verdade, seja pela teologia, pela filosofia, pela ciência ou por qualquer outro caminho, e que esse é um domínio reservado a alguns eleitos. Porque se você não é competente para chegar à verdade, o que é que você anda cá a fazer, para que e que você serve, para se entreter a fazer puzzles dizendo que é filósofo? Não serve para nada.
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