08 janeiro 2012

vicious

O artigo do El Pais citado aqui pelo Joaquim (e, antes, pelo Lusitânea, na caixa de comentários aqui) é vicioso (vicious, em estrangeiro) em vários aspectos, mas sobretudo neste parágrafo:

Todo empieza en la educación sentimental. Los catecismos que aprendieron los españoles durante el nacionalcatolicismo franquista (el Astete, el Ripalda y el Catecismo Patriótico Español, sobre todo) enseñaban que el liberalismo era pecado, pero también el capitalismo, el socialismo, el modernismo, el darwinismo, el sindicalismo, el laicismo, el secularismo, y así hasta 14 ismos. “A todos los fieles, en especial a los que mandan, ordenamos con la autoridad del mismo Dios que trabajen con empeño en desterrar de la Santa Iglesia estos errores”, ordenó el Concilio Vaticano I.

O tema de fundo do artigo é a situação económica actual de Espanha e, em geral, a dos PIGS, em comparação com a dos países protestantes. O artigo acaba por induzir (erroneamente) o leitor a aceitar a tese de Weber de que os países protestantes são mais prósperos do que os católicos e que a razão reside na superioridade da ética protestante face à ética católica.

É neste ponto que o parágrafo em que o autor se refere ao nacionalcatolicismo franquista é relevante. Em lugar de se manter a discutir o tema económico, o autor decide então divagar por todos os ismos que o regime considerava pecados. Porque, se se tivesse mantido a discutir o tema económico, o autor teria de admitir uma verdade que lhe estragava toda a história. E a verdade é que, do ponto de vista do crescimento económico, o nacionalcatolicismo franquista foi um regime que deixou a léguas de distância todos os grandes países de tradição protestante.

O artigo acaba por ser um exemplo acabado da contra-cultura católica. As respostas verdadeiras às duas questões que o artigo sugere são as seguintes: Primeira, à questão "Tendem os países protestantes a ser mais prósperos que os católicos?", a resposta é Depende. Depende das circunstâncias. Há circunstâncias em que sim, outras em que não. "E quais são essas circunstâncias, em particular, quais são as circunstâncias em que os países católicos são menos prósperos que os protestantes?" Resposta: sempre que decidiram abandonar as instituições próprias da sua cultura católica e imitar as instituições próprias da cultura protestante (democracia de sufrágio universal, separação de poderes, constitucionalismo, partidarismo, parlamentarismo, republicanismo, Estado de Direito, liberalismo, socialismo, etc.). Assim é possível compreender por que é que a Espanha é hoje um cerdo, e por que é que nunca foi um cerdo durante o nacionalcatolicismo franquista.




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